O Brasil patina no andamento da vacinação infantil contra a Covid-19. Além do atraso para iniciar o processo, o país levou triplo do tempo da Argentina para vacinar 15% de crianças entre 2 e 11 anos. Enquanto isso, desde janeiro, a variante Ômicron fez disparar o número de infecções e óbitos pela doença. Segundo o consórcio de veículos de imprensa, pelo segundo dia seguido, o Brasil registrou nesta semana mais de mil vítimas fatais em um único dia. Nas últimas 24 horas, foram 1.129 mortes diárias por causa da doença, elevando a média de mortes diárias para 840 óbitos. Do mesmo modo, há um mês, a média móvel de casos está acima dos 100 mil. 14 estados e o Distrito Federal apresentaram alta de mortes. No total, o país ultrapassou 641.997 óbitos e 27.941.476 casos da doença.
Há semanas, o neurocientista Miguel Nicolelis vem alertando autoridades sobre as consequências de um relaxamento de medidas não farmacológicas de combate à pandemia, combinada a um atraso na vacinação, em especial das crianças. Na semana passada, o pesquisador chamou a atenção para o aumento explosivo do número de óbitos do registro civil no mês de janeiro, o mais letal em comparação aos dois períodos anteriores. Foram 144 mil óbitos em janeiro deste ano, ante a 137 mil em 2021 e 112 mil em 2020.
Para o cientista, o mês de janeiro de 2022 apresenta “fortes indícios” de subnotificação de óbitos por Covid-19, após análise de atestados de óbitos registrados no portal da transparência. “É a única base de dados neste momento que permite estimar o verdadeiro impacto da pandemia em termos de excesso de óbitos”, escreveu Nicolelis, pelo Twitter.
Como se não bastasse, o surgimento da subvariante da Ômicron, a BA.2, aponta para uma transmissibilidade ainda maior do que a BA.1, esta mais transmissível do que a Delta. O quadro preocupa autoridades de saúde. “Estamos vendo aumentos proporcionais da BA.2, que é mais transmissível que a BA.1”, constatou a líder técnica da resposta à pandemia de covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove.
A nova variante já foi identificada no Brasil, com dois casos registrados no estado de São Paulo e dois no Rio de Janeiro. A nova cepa surge em um momento em que o país lidera em número de mortos na América do Sul, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS.
Relaxamento de medidas causou aumento de mortes, diz OPAS
A diretora da entidade, Carissa F. Etienne, afirmou, em comunicado de imprensa distribuído nesta semana, que um relaxamento das medidas preventivas contra a Covid-19 levou a um aumento de mortes na Região das Américas.
“As medidas reduzidas de saúde pública foram insuficientes para reduzir a escala dessa onda. E agora estamos enfrentando as consequências: um aumento nas infecções está causando um aumento nas mortes”, afirmou a diretora. “Sem dúvidas, a Ômicron nos superou”, lamentou Etienne. “Toda vez que as infecções aumentam, há um alto preço para nossas famílias e comunidades”, apontou, explicando que os picos de casos levam a picos de mortes três semanas depois.
Governadores pedem urgência na análise de remédio da Pfizer
Diante do panorama sombrio, o Fórum dos governadores cobra da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) urgência na análise do pedido de uso emergencial de um remédio da Pfizer contra a Covid-19. “Esta deve ser a grande prioridade do Brasil: autorizar, como fizeram outros países, o uso do medicamento para Covid 19, como ocorre com outros vírus”, afirma o coordenador da temática de vacina e enfrentamento à Covid no Fórum, governador Wellington Dias, para quem a vacinação infantil deve ser acelerada.
“Queremos chegar nos próximos dias a mais de 80% do público com mais de 5 anos vacinado. Veja que, com o crescimento acelerado da ômicron, tivemos uma curva elevada e em linha quase vertical pela propagação rápida do vírus”, destaca Dias. Ele lembrou que estudos da Universidade de New England mostram que o uso da medicação adequada para Covid 19 levou a uma redução das hospitalizações em 89% nos EUA.
O Fórum também considera urgente a autorização para a vacinação em crianças acima de 6 meses. “Isso vai garantir uma completa imunização”, observa Dias. “Poderemos, assim, entrar em trégua e conviver com o Coronavírus, saindo de uma pandemia para endemia”.
Da Redação, com G1, OPAS e Fórum dos governadores