Indígenas, mulheres e negros continuam com baixíssima representatividade no cenário político nacional, mesmo após a onda de renovação ocorrida nas eleições de 2018. Essa é a avaliação dos convidados para debater os desafios de uma melhor representação política para a sociedade, nesta terça-feira (16), na Comissão de Direitos Humanos (CDH). O debate foi solicitado pelo presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS).
“É inaceitável uma casa como essa [Congresso Nacional] ter poucas mulheres negras e poucos homens negros. Além do senador [Paulo] Paim, quem defende a causa da população negra? Quem assume sua negritude? Ter aqui o rosto negro, o rosto indígena é um desafio que queremos superar. O povo quer ser melhor representado”, disse o diretor executivo da Educafro, Frei Davi dos Santos.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relativos às eleições municipais de 2016 mostram que 1.291 cidades brasileiras não tiveram nenhuma mulher eleita vereadora. Outras 1.963 cidades elegeram apenas uma vereadora. Já nas últimas eleições, em 2018, apenas a ex-senadora Fátima Bezerra (PT-RN) se tornou governadora. De acordo com o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, 51,03% da população brasileira era composta por mulheres.
Nas últimas eleições, valeu a legislação que prevê que o mínimo de 30% das candidaturas partidárias seja ocupado por mulheres. Mas diversas denúncias de uso de mulheres para candidaturas de fachada levaram, inclusive, a queda de Gustavo Bebianno, e à abertura de investigação do atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
“A sociedade espera poder acreditar na atuação legal e legítima dos seus representantes. Com engajamento, honestidade e trabalho árduo esse processo nos levará aos resultados justos e afinados com o todo e com as necessidades específicas de cada grupo que esperamos ter representados em espaços como estes”, disse a jornalista Joyce Ribeiro.
A assessora da deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), Mayra Wapichana comemorou a ampliação de espaços de representatividade como a audiência pública e afirmou que a ideia da deputada, primeira mulher de origem indígena eleita na Câmara dos Deputados, é aperfeiçoar as relações entre os povos indígenas e os representantes do poder.
“Nosso trabalho é trazer as demandas e levar soluções até o povo que não consegue chegar aqui, aproximando cada vez mais as populações do Congresso. Nós queremos aprender sobre política. Temos essa dificuldade de acesso às informações que não chegam as comunidades indígenas. Nem todos estão conectados e nem todos tem acesso a informação”, explicou.
A senadora Zenaide Maia (PROS-RN) criticou o processo de criminalização da política por alguns setores da sociedade e destacou que o exercício parlamentar “é uma atividade nobre”.
“A desonestidade não é inerente a profissão ou cor, mas é um fato enfrentado por todas as classes sociais. Tratar política como crime é um grande problema porque, se criminalizam-se as políticas, imaginem o que se faz às minorias da nossa sociedade”, enfatizou.
Por PT no Senado