Partido dos Trabalhadores

Operação Lava Jato comprometeu engenharia nacional

“A Lava Jato matou o CNPJ, matou as empresas brasileiras, quando deveria atacar os corruptos pessoa física”, afirma o senador Jaques Wagner (PT-BA)

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Orientada pelo governo Bolsonaro, a Caixa Econômica Federal pediu a falência da construtora Odebrecht. Ao mesmo tempo, o Banco do Brasil solicitou à Justiça a anulação do plano de recuperação judicial apresentado pela empresa em junho. Para o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, a medida é resultado da Operação Lava Jato. Segundo ele, em entrevista à TV 247, a empresa e todo o setor tiveram seu desmonte planejado pela operação comandada por Sérgio Moro. “Essa questão da liquidação da engenharia nacional está no âmago da operação Lava Jato, sob a capa do combate à corrupção”, afirmou.

“A Lava Jato matou o CNPJ, matou as empresas brasileiras, quando deveria atacar os corruptos pessoa física”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT-BA), em entrevista ao programa Diálogos com Mário Sérgio Conti, na GloboNews. Para Wagner, “o crime maior da Lava Jato, além de ter perseguido, demolido pessoas sem provas, foi o fato ter acabado com o emprego”. Wagner também questiona o prejuízo com a perda da inteligência acumulada pelas empresas, “jogada para o espaço”.

Antes do ataque sofrido pela operação Lava Jato, as empreiteiras brasileiras ocupavam 2,5% do mercado mundial do setor, com a Odebrecht vencendo concorrências internacionais, inclusive nos EUA – entre elas, para reformar o porto de Miami. Maior construtora nacional, a Odebrecht tinha, em 2014, um faturamento bruto de R$ 107 bilhões, com 168 mil funcionários e operações em 27 países, segundo o professor Luiz Fernando de Paula, do IE/UFRJ e Coordenador do Geep/Iesp/UERJ, e Rafael Moura, doutorando de Ciências Políticas do Iesp/UERJ, em artigo publicado no jornal Valor Econômico. Em 2017, segundo os economistas, o faturamento caiu para R$ 82 bilhões, com 58 mil funcionários e atividades apenas em 14 países.

As empreiteiras nacionais respondem, historicamente, por metade da formação bruta de capital fixo do país – indicador que mede a capacidade produtiva nacional. Além disso, o Brasil perde investimento acumulado por décadas em inteligência, tecnologia e mão de obra qualificada. As consequências da corrosão econômica do setor também se mostraram dramáticas para os trabalhadores. De acordo com o jornal especializado “O Empreiteiro”, entre 2014 e 2017, o setor registrou saldo negativo entre contratações e demissões de 991.734 vagas formais (com preponderância na região Sudeste).

Em mensagens trocadas entre os integrantes da Lava Jato, divulgadas pelo The Intercept, procuradores alertaram para o risco a que estavam submetendo as empresas. Em uma das mensagens, o procurador Marcelo Miller comenta que “a Odebrecht não deve quebrar. Se quebrar, vamos nos deslegitimar”. Segundo Miller nas mensagens, “o acordo – é assim no mundo – deve salvar empregos”. lembrou ele. “Temos de ter muito cuidado com isso”, advertiu ele, afirmando que a operação Lava Jato nunca se livraria da pecha de ter quebrado a maior construtora do País. Ao que outro procurador respondeu, debochando: “Tá com peninha do MO (Marcelo Odebrecht), leva para casa”.

Citando escândalo de corrupção envolvendo a Volkswagen, Celestino compara o tratamento dado pela justiça alemã com a operação Lava Jato. Segundo ele, “a Volkswagen foi pilhada fraudando 8 milhões de consumidores no mundo inteiro, com índices de poluição muito acima dos permitidos pelas autoridades, foi multada bilhões de dólares nos Estados Unidos e Europa, seus dirigentes foram demitidos, processados e, no entanto, a Volkswagen não deixou de produzir nenhum veículo”. “Aqui nós jogamos fora a criança, a água e a bacia”, afirma o presidente do Clube de Engenharia. “Esse processo levou à liquidação um patrimônio que se constituiu ao longo das últimas seis décadas”, concluiu.

Em seu livro “Nada menos que tudo”, o ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, acusa a “esquerda” de promover “teorias da conspiração”, para negar que a colaboração com o Departamento de Justiça dos EUA tenha favorecido estrangeiras. No entanto, é fato o memorando assinado em 1º de agosto deste ano, entre o governo Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, abrindo o mercado nacional do setor para as empresas norte-americanas.

Por PT no Senado