O Brasil deve registrar os piores resultados para uma década de crescimento econômico e de variação de Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos últimos 120 anos, ao fim de 2020. É o que aponta um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mencionado em reportagem do jornal ‘Valor Econômico’ nesta terça (15).
Segundo a matéria, a FGV usou como parâmetros estimativas de recuo anual no PIB de 4,4% em 2020, com retração de 5,1% no PIB per capita. Os prognósticos foram elaborados a partir de projeções de mercado, do boletim Focus e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Caso os resultados se confirmem, a FGV projeta alta média de 0,2% na economia entre 2011 e 2020 – o desempenho mais fraco das últimas décadas, desde o início do século passado. No caso do PIB per capita, a projeção é pior: o indicador deve sofrer recuo de 0,6% médio entre 2011 e 2020, igual ao observado no período de 1981-1990, e também pior resultado desde 1901.
“O Brasil caminha para mais uma década perdida na economia ao fim de 2020, a segunda em 40 anos”, resumiu o economista Claudio Considera, um dos autores do estudo. O pior, segundo o outro autor, Marcel Balassiano, é que a pandemia da Covid-19, que derrubou as economias pelo mundo, não é a causa do retrocesso brasileiro.
O pesquisador explica que, caso não tivesse ocorrido a pandemia, e o PIB subisse 2% em 2020, como se projetava antes da Covid-19, a década atual já seria a pior em 120 anos, pois a expansão econômica teria crescimento médio de 0,9%. Para o PIB per capita, o aumento seria de 1,2% sem a pandemia. “Nesse caso, a década ficaria estagnada no PIB per capita”, concluiu Balassiano, acrescentando que esse seria também o pior desempenho da década finalizada em 2020.
Para os pesquisadores, os dados evidenciam trajetória contínua de atividade econômica fraca nos últimos anos, que culminou com o “baque” da pandemia neste ano. “Mesmo antes da pandemia, nós crescíamos muito lentamente”, lembrou Considera.
Golpe derrubou crescimento
Balassiano concorda: “Tivemos recessão forte a partir de 2016, e recuperação lenta em 2019”. Nem mesmo os anos de bom crescimento econômico em 2011, 2012 e 2013 foram suficientes para compensar sete anos de atividade fraca que se seguiram, acrescentaram os técnicos.
Os especialistas calculam que o PIB per capita brasileiro deve encerrar o ano em US$ 10,9 mil (R$ 55,4 mil), 5,1% inferior aos US$ 11,6 mil (R$ 59 mil) de 2019. “O caso é que, quando você cresce menos, você tem menos a distribuir”, resumiu Considera, ressaltando que o fraco ritmo de atividade econômica derruba o PIB per capita.
O último ano de crescimento mais robusto da economia brasileira foi 2013, quando o PIB per capita brasileiro chegou à máxima histórica de US$ 15,6 mil (R$ 79,40 mil, pelo câmbio atual). Caiu 0,7% em 2014, na primeira retração desde 2009, e chegou a US$ 14,3 mil (R$ 72,7 mil) em 2016, quando a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff foi afastada do cargo pelo golpe dos derrotados em 2014. Naquele ano, a taxa de desemprego chegara a 4,8%, menor nível desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2002.
Por qualquer das três instituições multilaterais (FMI, Banco Mundial e ONU), o PIB per capita figura abaixo da posição 70. Pelo FMI, temos o 72ª maior PIB per capita; pelo Banco Mundial, o 77º, e pela ONU ocupamos a 75ª posição.
Qualidade vida piorou
A queda do Brasil também se evidencia no comportamento socioeconômico do país. Depois do “boom” da classe C no final da década passada e início desta, o país registra piora da mobilidade social nos últimos anos, mostra pesquisa da consultoria econômica Kantar. Em 2014, 27,5% dos lares brasileiros eram das classes A e B. Ao fim de 2020, esse grupo deve recuar para 26,3%. A classe E vai passar de 24,7% para 25,2% dos lares.
O desemprego tem sido uma das mais fortes consequências do desempenho ruim da economia e ajuda a explicar não apenas o empobrecimento geral do país, como também a queda de cinco posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Pelo ranking, divulgado nesta terça, agora o Brasil é o 84º dos 189 países avaliados pelos pesquisadores.
Sobre esse resultado desastroso, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), comentou em seu perfil no Twitter: “O Brasil despencou 5 posições no IDH de 2019, primeiro ano do governo do genocida. Saímos da 79ª colocação para 84ª. Isso significa que a qualidade de vida aqui piorou, ficando atrás de países como Argentina, Uruguai e Cuba. Com Bolsonaro, Brasil está sem ordem e sem progresso!”.
Da Redação