Relatório do FMI, publicado nessa terça-feira, revelou o tamanho da conta da crise sanitária na geração de renda do país. O levantamento constatou que o aprendizado incompleto, por conta do fechamento das escolas, pode diminuir o rendimento médio dessa geração de estudantes em 9,1% ao longo da vida.
O prognóstico coloca o Brasil na terceira pior posição entre os países do G20, atrás apenas da Indonésia —onde a perda é estimada em 9,7%— e do México, que lidera o ranking com 9,9%.
As populações feminina, negra e indígena já são e continuarão sendo as mais afetadas a curto, médio e longo prazo. Isso porque, em 2020, 6,4 milhões de estudantes, que correspondem a 13,9% do total, não tiveram acesso às atividades escolares no Brasil, segundo dados do PNAD-COVID, do IBGE.
O mesmo levantamento mostrou que estudantes negros e indígenas sem atividade escolar eram o triplo de estudantes brancos: 4,3 milhões de crianças e adolescentes negros e indígenas da rede pública e 1,5 milhão de adolescentes brancas, respectivamente.
No caso de meninas e mulheres, o estudo mundial When schools shut (Quando as escolas fecham) divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) revelou que elas foram as mais prejudicadas pelo fechamento das escolas. O fenômeno afetou as populações mais pobres e com menor grau de instrução, sobrecarregou mais meninas e mulheres com afazeres domésticos, distanciou jovens de políticas de saúde e planejamento familiar, além de aumentar casamentos infantis.
De volta ao relatório do FMI, publicado pela Folha de S. Paulo, o documento ressaltou que as perdas de aprendizado vão ter maior impacto em países emergentes, com consequências ainda mais graves para as populações vulneráveis, como é o caso do Brasil.
Essa geração de estudantes afetados deverá alcançar os 40% da população economicamente ativa do G20 nas próximas décadas. Sem qualificação, a renda dessa população será menor e o crescimento do país a longo prazo deve murchar, caso os governos não invistam em ações públicas para amenizar esses efeitos, apontou o FMI.
Com a baixa qualificação, há o aumento do mercado de trabalho informal, e a população mais pobre, sem aprendizado, pode ser vítima de uma desigualdade que tende a aumentar.
Fora da escola. Da pandemia ao Ensino Doméstico (homeschooling)
Se o governo Bolsonaro deixou o país naufragar no caos da pandemia e condenou gerações inteiras à pobreza, agora o presidente quer aprovar uma legislação para consolidar o retrocesso pedagógico e deixar crianças permanentemente fora da escola.
“Em vez de investir ainda mais na educação pública, para resgatar o aprendizado e não condenar o futuro das crianças que ficaram fora da escola durante a pandemia, o presidente faz exatamente o contrário: quer justamente piorar ainda mais esse cenário, retirando esse direito fundamental, como o acesso à educação pública e universal, das nossas crianças”, denuncia Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.
Com a tramitação do projeto de lei do “Ensino Doméstico”, o retrocesso pedagógico é incalculável e impacta diretamente também a vida das mulheres, principalmente as mães.
“A pandemia provou que as aulas remotas aumentaram a carga de trabalho das mães e das professoras, trazendo para o ambiente doméstico atribuições do ambiente profissional. Sem dúvida que vai se tornar mais um fator de aumento da responsabilidade das mulheres com as tarefas domésticas”, afirmou Teresa Leitão, deputada estadual pelo PT de Pernambuco e coordenadora do Setorial Nacional de Educação do PT.
Teresa Leitão aponta para os riscos de que a escola perca sua função social e a educação pública deixe de ser encarada como um direito de todos e todas e um dever do Estado e da família. “O espírito crítico e democrático como elementos da formação dos estudantes não terá a mediação do projeto político pedagógico da escola, por si só um instrumento de participação”, salientou a parlamentar.
Ana Clara Ferrari, Agência Todas