O ministro da Economia, Paulo Guedes, continua a vender sonhos, enquanto busca inventar uma fonte de recursos para o programa que substituirá o Bolsa Família. O governo jura que, a partir de janeiro, passará a atender mais de 62 milhões de brasileiros que hoje não têm renda ou estão no mercado informal de trabalho e recebiam até agosto o auxílio emergencial de R$ 600. Só não diz de onde virá o dinheiro. O pior é que o desemprego virou um pesadelo para a maioria do povo brasileiro e o país enfrenta a sua mais profunda crise no trabalho nas últimas décadas.
“O que o governo vai fazer? Ajuste fiscal e reformas retirando direitos das pessoas?”, questiona a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “Só tem um caminho para proteger o povo da fome e o Brasil da crise: livrar o país das amarras fiscais, acabar com o teto de gastos e fazer o que os Estados Unidos fizeram em 1933, um ‘New Deal’”. Ela adverte que a ortodoxia vigente com Guedes e sua política econômica vai estrangular ainda mais o país. A líder petista diz que o agravamento da crise é preocupante porque o governo não liga para a crise, comparando o quadro atual com a época dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando o desemprego esteve abaixo de 10%.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego no final do semestre passado de 13,8% não só é surpreendentemente alta – a mais elevada dos últimos 30 anos – mas ilusória. A taxa escamoteia a verdadeira tragédia, porque a pandemia mantém milhões de pessoas que não estão procurando emprego e não saem de casa. A deterioração das condições de emprego atinge hoje nada menos do que 52 milhões de brasileiros. “Vivemos a total destruição do mercado de trabalho”, denuncia o líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Ele lembra que a crise atinge 25% da população brasileira.
São os desalentados, subutilizados e desempregados. O primeiro grupo reúne aqueles que desistiram de procurar emprego por acreditarem que não vão encontrar uma vaga. Esse contingente soma 5,8 milhões de pessoas. Os subutilizados, que trabalham menos horas do que gostariam, somam ainda muito mais: 32,9 milhões de pessoas. Somando-se aos 13,1 milhões de desempregados no mercado formal, compõe-se uma ampla camada de cidadãos vivendo em condições precárias típicas de uma situação de vulnerabilidade.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, a atual taxa de desemprego no Brasil é a maior desde 1992, quando tem início a série histórica organizada pela IDados. A consultoria traçou uma linha do tempo sobre o mercado de trabalho reunindo dados atual Pnad Contínua, da antiga PNAD e também da extinta Pesquisa Mensal de Emprego. A compilação coube aos economistas Bruno Ottoni e Tiago Barreira.
Ottoni aponta que os números do desemprego são preocupantes porque sinalizam uma tendência de piora para os próximos meses – ao menos até março de 2021. Ou seja, o pior ainda pode estar por vir. Segundo o economista, o mercado ainda não recebeu todos os impactos da flexibilização do isolamento social e da redução, seguida de extinção, do auxílio emergencial, que deixa de ser pago a partir de janeiro do ano que vem.
“Um dos fatores mais preocupantes é que esse número [de 13,8% do desemprego] não será o limite, deve piorar nos próximos meses”, calcula. “Na minha visão, a tendência é que as coisas piorem. Tivemos muita gente que perdeu o emprego, e saiu da força de trabalho e que deve voltar a procurar uma vaga nos próximos meses”, argumenta.
Da Redação