As últimas revelações da Vaza Jato, que apontam que o então juiz Sergio Moro quebrou padrões da própria Lava Jato ao retirar o sigilo das investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2016, a poucos dias da abertura do processo de impeachment que levou à deposição de Dilma Rousseff (PT), deixam mais uma vez evidente a parcialidade das investigações e a perseguição contra adversários políticos. Para o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, o julgamento do habeas corpus da defesa de Lula que questiona a suspeição de Moro precisa ocorrer “o mais rápido possível”.
Informações publicadas neste fim de semana, como a da colunista Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo, indicam que a análise da suspeição de Moro poderia ficar apenas para o início do ano que vem. Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (25), a demora em julgar a atuação do ex-juiz, que atuou politicamente para tirar Lula da disputa eleitoral do ano passado, seria inclusive uma violação aos direitos civis de condenados na Lava Jato que aguardam revisão das suas sentenças.
“A suspeição está evidente. Vai ter um impacto não só no julgamento do Lula, mas também no julgamento de uma série de atores políticos que já foram julgados nas primeiras instâncias. Se ficar para o início do ano que vem, já é tardio. A gente precisa entender que aquelas pessoas que estão em julgamento ficam tensionadas pelo resultado. Isso já é uma violência contra direitos civis. Vamos aguardar que essa decisão ocorra o mais rápido possível, para que essas pessoas tenham um julgamento justo”, afirmou Romão.
Corporativismo
Além da atuação política de Moro, as conversas reveladas pela Vava Jato também denunciam a partidarização de setores do Ministério Público (MP). A instituição, criada para atuar na defesa dos direitos difusos e coletivos, se distanciou dessa missão, segundo o professor da Unicamp, e o corporativismo entre os seus integrantes também impede uma depuração entre os seus quadros. O caso mais explicito da “autodefesa” movida pelos integrantes do MP é a demora para que o procurador Deltan Dallagnol seja submetido a julgamento pelos seus próprios pares pelos abusos cometidos na condução da Lava Jato.
“O que precisamos é cobrar o MP e fortalecer os setores ainda comprometidos com a democracia e denunciar essa corporativização do MP, que acaba defendendo não só um lado da política contra outro, mas também acaba se autodefendo, livrando a cara desses maus procuradores”, disse Romão.