Um dos periódicos mais importantes da Europa, a revista alemã Der Spiegel, publicou, na última semana, uma análise assinada pelo cientista político e correspondente para América Latina, Jens Glüsing sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, intitulada de: “Julgamento contra o ex-presidente do Brasil: Estado no lodaçal”.
O artigo já começa dizendo que, há um ano, Lula teria dito à Spiegel não ter medo de prisão, e enfatiza: “por enquanto, ele não tem mesmo motivo para isso”.
Até o juiz Sérgio Moro é citado. Glüsing afirma que, “por sensatez, ele se absteve de determinar a prisão”, pois se Lula tivesse sido preso, “a crise nacional se agravaria perigosamente”.
O texto ainda afirma que Moro “confirmou com sua sentença o que os críticos reprovam nele há muito tempo: o tratamento jurídico do maior escândalo de corrupção da história do Brasil segue critérios políticos, e não legais”.
Segundo o articulista, a acusação de Lula “ter recebido um apartamento” parece “uma ninharia em comparação com as acusações contra o atual presidente Michel Temer e seus aliados”. Glüsing é categórico: “Trata-se de centenas de milhões de dólares desviados para contas secretas na Suíça e dinheiro de extorsão em malas de rodinha.”
Em comparação com os movimentos pró-impeachment, supostamente contrários à corrupção, a Glüsing acha estranho que não haja milhões de pessoas indo às ruas contra Temer.
“O principal objetivo das manifestações de um ano atrás, conforme hoje se apresenta, não foi a luta contra a corrupção: aqueles manifestantes queriam derrubar Rousseff e ver Lula atrás das grades. O primeiro objetivo eles alcançaram, o segundo está mais próximo do que nunca. Mas o preço que o país paga por isso é alto.”
“Se o ex-Presidente for para a prisão, enquanto o odiado Temer e seus aliados conservadores fogem”, muitos brasileiros “perderiam a última fé no Estado de Direito – com consequências imprevisíveis para a estabilidade política”.
Fazendo um balanço da Era Lula e citando seu favoritismo para as eleições de 2018, conclui: “Comparado com o triste quadro do atual governo, seus oito anos brilham ainda mais.”
Ainda sobre as próximas gerações, diz Glüsing: “A mudança geracional nas próximas eleições terá um impacto mínimo. A maioria dos políticos jovens são filhos e filhas da antiga classe dominante – sua família lhes fala mais de perto do que princípios éticos. As forças de inércia são mais fortes que o impulso para a mudança”.
Isto também, segundo o artigo, se aplica ao Judiciário. Refere-se expressamente ao Supremo Tribunal Federal: “atua como uma barreira protetora para Temer e seus aliados no Congresso”.
O artigo ainda ressalta que os métodos usados pela força tarefa da Lava Jato estão sendo cada vez mais desacreditados. Ele relembra que poucos dias antes da sentença de Moro, o Ministério Público pediu o arquivamento de um processo contra Lula por falta de provas.
Com relação ao ex-presidente Lula, o texto ainda destaca que sua participação é importante para legitimar a próxima disputa eleitoral. “Se ele não puder competir nas próximas eleições, isso atrairá dúvida aos olhos de muitos brasileiros quanto à legitimidade da eleição. A profunda crise sistêmica, que já dura três anos, ofuscaria o mandato do próximo presidente – e possivelmente, jogaria a democracia no abismo”.
Ao fim do artigo, Glüsing ainda defende a saída política. “A solução para o dilema do Brasil deve vir da política. O Judiciário é a instância errada. Como fazer isso, não é claro. Mas uma coisa é certa: o veredicto final sobre Lula virá dos historiadores, não do juiz Moro”.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Brasil 247