Acuado por intensa e crescente posição favorável à retomada do auxílio emergencial para trabalhadores informais, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, apelou para a grosseria para manter sua renitente posição contrária à volta do benefício. Nesta quarta (20), fez chegar à imprensa sua “preocupação” com o recrudescimento dos casos de Covid-19 no Brasil. Mas apesar de os “sinais vermelhos” se acenderem, a equipe econômica insiste que o momento não demanda medidas como o auxílio.
Pela coluna da repórter Sandra Dias no portal ‘UOL’, Guedes mandou o recado de que a volta do auxílio emergencial seria uma das “últimas alternativas” ao que chama de “amplo cardápio de medidas”. Também seria incoerente, uma vez que, diferentemente do momento em que houve paralisação de atividades, fechamento de comércios e serviços, agora as cidades estariam funcionando “normalmente”.
Um auxiliar do ministro-banqueiro afirmou à coluna que o auxílio foi criado para os trabalhadores informais “não morrerem de fome enquanto estavam em casa”. Agora, na visão dos tecnocratas, “os taxistas estão nas ruas, as cidades estão movimentadas”. “Tem até baile funk acontecendo. Não vamos dar dinheiro para as pessoas irem para o baile funk”, teria dito o “cabeça de planilha” de Guedes.
O ministro-banqueiro ainda se apega à ilusão de que é preciso verificar se o aumento de casos de coronavirus no país é reflexo do “repique” por conta das festas de fim de ano ou realmente um cenário de “segunda onda”. Estabeleceu até um limite macabro: se o Brasil voltar ao patamar de 1.000 mortes diárias por um longo período e novas medidas de restrição tiverem que ser adotadas, aí sim “ficará difícil não voltar com o benefício”.
O recado de Guedes está em sintonia com o pensamento do chefe, que na semana passada voltou a defender o fim do auxílio. “Depois de nove meses, tem que colocar um ponto final. Não tem dinheiro no cofre”, disse o presidente Jair Bolsonaro, que voltou a afirmar que o benefício foi concedido com base em “endividamento”.
Não satisfeito, ainda mandou um duro recado aos mais de 14 milhões de desempregados devido ao fracasso da política econômica de seu desgoverno: “Quem tá criticando que perdeu o emprego, reclama de quem tirou seu emprego. Não fui eu quem fechou o comércio. Não fui eu quem falou ‘fica em casa’ que a economia vê depois”.
Em 2020, o país bateu recorde no número de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), que foi divulgada mensalmente no ano passado, apontam que o desemprego fechou o terceiro trimestre do ano com 14,1 milhões de pessoas sem trabalho formal (14,6% da População Economicamente Ativa).
Em resposta, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) postou o seguinte comentário em seu perfil no Twitter: “Ministro Paulo Guedes diz que não há necessidade de renovar o auxílio emergencial. Falta a ele o sentimento de humanidade e de compromisso com o povo brasileiro, já que uma grande parcela da população não tem como comprar comida e tirar o seu sustento durante a pandemia”.
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) fez coro com o colega de bancada. “Estudos mostram que 3,4 mi de brasileiros vão parar na extrema pobreza e que a desigualdade vai subir 10%. Mas, turma de Guedes diz que não precisa do auxílio emergencial. Queria saber se essa gente não tivesse um prato de comida para sua família. Isso tem nome, desumanidade!”, postou em seu perfil a deputada, que na terça (19) participou de reunião com partidos de oposição e entidades sindicais e do movimento social para definir uma pauta de luta unificada.
Entre as três linhas principais de atuação e mobilização está a luta pelo auxílio, além da vacinação para todas e todos e a campanha pelo impeachment do presidente. Neste sábado (23) haverá uma carreata ‘Fora Bolsonaro’ em todo o país. Também serão criados painéis pelo impeachment para pressionar o Congresso Nacional a antecipar o fim do recesso e deliberar sobre a abertura de processo contra o presidente.
No fim de semana passado, foram promovidos via redes sociais diversos panelaços na sexta-feira e no sábado em vários estados do país. A onda de indignação culminou em várias carreatas no sábado. Neste fim de semana, a tendência é a onda começar a se tornar um tsunami.
Da Redação, com informações de ‘UOL’