Para justificar o desmonte da Previdência, o governo utilizou projeções com parâmetros pouco realistas. É o que indica estudo organizado pelo economistas Cláudio Puty e Denise Gentil. Puty foi secretário executivo da Previdência durante o governo da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) e, conhecendo a fundo a dinâmica desses modelos, revisou a conta feita pelo governo golpista em parceria com Gentil e outros economistas.
O modelo do governo é catastrofista: nos moldes atuais, a Previdência será insustentável em 2060, vaticinam. Esse é inclusive o mote da campanha do governo para a Previdência: se não reformar, vai acabar. Os números alarmistas, no entanto, estão errados, segundo Puty.
A investigação do economista descobriu que os parâmetros principais estavam alterados. Para projetar as contribuições e despesas da aposentadoria até 2060, o governo utilizou parâmetros fixos do mercado de trabalho de 2009. Ou seja: considerou que, em 2060 (e em todos os anos anteriores até lá), o Brasil terá as mesmas condições de emprego que em 2009 (um ano após a crise econômica de 2008, e que a economia do país sofreu queda de 0,2%).
Além disso, segundo os parâmetros de Meirelles, a economia do Brasil será decrescente até 2060. “Nosso futuro vai ser horroroso”, ironiza Puty. Por outro lado, no modelos dos golpistas, o salário mínimo é superestimado e tem aumentos muito acima da inflação. Hoje, o cálculo de reajuste é feito a partir da inflação e do PIB de anos anteriores. Por exemplo, em 2017, o cálculo é feito com a inflação de 2016 e o PIB de 2015. Mas na projeção, enquanto a inflação é de 3,5% e o PIB de 1%, o aumento do salário mínimo é de 6,2%.
O salário mínimo superestimado aumenta as despesas com a Previdência, já que grande parte dos benefícios está atrelado a esse valor (a aposentadoria dos trabalhadores rurais, por exemplo, é sempre de um salário mínimo). Segundo o estudo, se utilizado o atual parâmetro para definir o salário mínimo, os gastos previdenciários apresentariam queda até 2060, e não aumento.
Além disso, em um intervalo tão longo e tão distante de tempo, seria necessário uma margem de erro de cerca de 10 pontos percentuais para mais ou menos. Ou seja, poderia ser 7,% do PIB, ou 27,5%.
“Esses métodos obscuros e instrumentos ineficazes estão guiando e visam a dar legitimidade (falsa) ao discurso oficial que propõe retirar direitos de milhões de brasileiros”, conclui o estudo.
Na previsão do governo, o déficit da Previdência em 2050 alcança o valor R$1.447 bilhões. Mesmo no cenário mais pessimista da projeção dos economistas autores do estudo, esse déficit seria de R$749 bilhões – 50% inferior àquele previsto pelo cenário de referência do governo. Já nos cenários moderados e otimistas, esses números se invertem e a Previdência passaria a obter um superávit de R$654 bilhões em 2050; e, no “cenário otimista”, o superávit alcançaria R$3.796 bilhões nesse ano.
Da Redação da Agência PT de Notícias