O cientista político e jornalista Roberto Amaral, presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), afirmou que a prioridade dos partidos de centro-esquerda deve ser defender o mandato da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, o impeachment seria um golpe na “soberania popular”.
“A oposição renunciou ao seu papel e está instrumentalizada por um único objetivo, o do impeachment. Acho que vivemos uma crise na democracia representativa, na soberania popular, no presidencialismo de coalizão e na governabilidade. A crise no sistema de partidos pode levar à falência do sistema representativo. Buscam-se soluções para a crise por fora da representação popular”, afirmou.
Desde o ano passado, quando o PSB decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial, Amaral está afastado da cúpula partidária. Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, ele foi questionado se denúncias de corrupção não podem causar o impeachment da presidenta Dilma.
Na resposta, ele ressaltou que o País vive um momento “dramaticamente grave”, com denúncias de corrupção que envolvem partidos, empresas e até a igreja evangélica. Segundo ele, o brasileiro está tão deprimido que não consegue se orgulhar e mostrar que o Brasil tem uma democracia e instituições que não se abalam.
“Nunca tivemos tantos políticos presos. Se somarmos o tamanho das empresas cujos donos estão na cadeia, teremos um percentual significativo do PIB. Pensar só na corrupção é o lado mais fácil. Temos que pensar que nunca tanto foi investigado e punido”, enfatizou.
Sobre o fim das doações de empresas para campanhas eleitorais melhorar a qualidade dos eleitos, Roberto Amaral disse que a eleições municipais de 2016 e 2018 será um teste.
“É provável que isso nos leve a diminuir o número de partidos. Haverá também uma decantação. Não temos sequer três partidos no Brasil que sigam algum programa. Temos encontros de interesses, conglomerados subempresariais”, afirmou.
O jornalista atribui o comportamento dos políticos que mudam de partidos sem consultar ninguém e agir apenas em benefício próprio como algumas das causas da “desmoralização do processo democrático”.
“Os eleitores já não se identificam com os eleitos. E os eleitos não se sentem comprometidos com os mandatos que receberam. Passaram a ter projetos autônomos, sem vínculo com o eleitorado. O eleitor escolhe um parlamentar, passado um tempo, esse camarada troca de partido. Ele não está mais comprometido com o eleitor e sim com as benesses, cargos e em assaltar a estrutura estatal”, afirmou.
No último dia 20, Roberto Amaral lançou seu livro “A Serpente Sem Casca (da Crise à Frente Popular)”, coedição da editora Altadena, Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do jornal “Valor Econômico”