Há de se ter fé para seguir o caminho. Há de se ter certeza de que palavras individuais são somente palavras, mas, quando ditas, com a voz de todos, elas viram luzes.
Estudantes, professores, funcionários de instituições de ensino, trabalhadores e trabalhadoras se uniram em uma única voz: algo está errado e algo precisa ser feito.
A educação é o pilar que cria a cena para um projeto de nação. Ela é a base do crescimento e do desenvolvimento. Investir em educação é apostar no trabalho digno, numa economia forte, saudável e geradora de empregos, é acreditar na qualidade de vida das pessoas: saúde, habitação, segurança, meio ambiente.
Quando a educação é valorizada na sua plenitude, há pensamento, há liberdade, há presente e haverá futuro. Negar-se a isso é investir na ignorância.
A educação dá sustentação à pratica da cidadania, à democracia, ao respeito à Constituição. Acreditar na educação é zelar pelo cumprimento das leis. Como disse o filósofo: “onde termina a lei começa a tirania”.
As manifestações de quarta-feira (15 ) sinalizaram que a crise é gravíssima, vai além dos cortes na educação. Há um pedido de socorro nas ruas do nosso país. Ele está doente, está sangrando, as nossas perspectivas são as piores possíveis.
Qual é, de fato, o papel do governo? Qual é, de fato, o papel dos partidos situacionistas e da oposição? Qual é o nosso papel individual? Do Legislativo? Do Judiciário? Nós todos estamos sendo cobrados e temos que assumir essa responsabilidade.
Há uma crise política, econômica e social. Estamos à beira de uma recessão. Inclusive, muitos economistas já estão dizendo que será avassaladora. São 13,4 milhões de desempregados, 4.8 milhões de desalentados, 30 milhões de trabalhadores informais. A reforma Trabalhista não gerou novos empregos e precarizou o trabalho.
Segundo o Banco Mundial, há no Brasil 43 milhões de pobres; 77% dos brasileiros vivem com aperto financeiro; 29% não conseguem pagar as contas; 25% dos que usam cartão de crédito estão inadimplentes.
Estudo da Oxfam Brasil mostra aumento das desigualdades de renda no país. Estamos na 9ª pior posição medida pelo coeficiente GINI num conjunto de 189 países. Pela primeira vez, em 15 anos, a relação entre a renda média dos 40% mais pobres e da renda média total foi desfavorável para a base da pirâmide. Os pobres, as mulheres e a população negra são os mais atingidos.
A nossa Previdência é considerada um dos maiores instrumentos de distribuição de renda do mundo. Beneficia, direta e indiretamente, cerca de 80 milhões de pessoas e tem forte contribuição na dinamização da economia dos municípios, por meio do pagamento de benefícios. Ela está presente na vida do trabalhador, na vida das famílias, nas aposentadorias.
A reforma, como ela está, será o caos. Os pobres serão sacrificados. A reforma penaliza as mulheres, os trabalhadores e trabalhadoras do campo, reduz o valor das aposentadorias, atinge as pessoas com deficiência e os idosos carentes. Ela joga as futuras gerações na insegurança do sistema de capitalização.
O Brasil precisa de uma reforma de inclusão e não de exclusão. Inclusão é melhorar os serviços públicos e garantir os direitos da população; é reduzir as taxas de juros e conceder aumento real ao salário mínimo; é repactuar a federação, construir uma nova estrutura tributária, é investir na infraestrutura e valorizar intransigentemente a indústria nacional.
Nós temos que fazer as coisas acontecerem para o bem coletivo. Temos que dialogar, tolerar. Temos que agir com retidão, buscando o senso da justiça, da equidade e do dever… Fazer o possível e buscar o impossível.
Diante da tragédia, temos que pisar, como disse Dom Quixote, onde os bravos não ousam, onde os heróis se acovardam, temos que reparar o mal irreparável. Temos que tentar quando as forças se esgotam.
Paulo Paim é senador pelo PT do Rio Grande do Sul