As disputas políticas e culturais na passagem da caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do Brasil não seriam um fato preocupante se estimulassem o diálogo e não o ódio entre os diversos setores.
Em uma nação efetivamente democrática, os entes educacionais, a mídia, os movimentos sociais e outros atores políticos da sociedade civil deveriam estar empenhados em promover a reflexão sobre os partidos, sobre as instituições e sobre o contexto político e, assim, poderíamos avançar no pensamento crítico coletivo.
Infelizmente, não foi isso que ocorreu no Rio Grande do Sul durante esta semana. Em vez de primar pela liberdade e assegurar o exercício da cidadania a todos, as instituições do Estado não impediram que a milícia de ruralistas armados fechasse as estradas e agredisse pessoas na tentativa de impedir o debate com Lula, Dilma Rousseff e os demais integrantes da nossa comitiva.
A milícia rural também atuou para tentar barrar a entrada da caravana nos campi de universidades e institutos federais, violando a autonomia universitária e desrespeitando direitos fundamentais.
Com patas de cavalo, tratores, armas e relhos em punho, os milicianos não engrandeceram o Rio Grande do Sul ou qualquer tradição de honra e dignidade.
Na verdade, o que estas pessoas fizeram foi empunhar a bandeira do fascismo, fenômeno político que impôs na Itália uma imigração forçosa de dezenas de milhares de pessoa para o Novo Mundo, inclusive para o nosso estado.
Vale lembrar que o fascismo faz da violência e do ódio estratégias para que as pessoas passem a rejeitar a política e o diálogo democrático e, a partir disso, naturalizem o arbítrio e o poder autoritário. A democracia requer o reconhecimento da diversidade em todos os aspectos da vida humana: política, social e cultural.
E a difusão da convivência democrática deve ser praticada e promovida pelas escolas, pela mídia, pelos entes da justiça e da segurança pública, enfim, por todos.
É preciso rechaçar com veemência os métodos fascistas. É necessário se consolidar a concepção de que nenhuma pessoa pode ser perseguida, excluída ou impedida de discutir política por suas convicções e ideias.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul esta semana é um imenso equívoco. Mais do que isso, é um abuso e uma violação da lei. E são criminosas as ameaças – inclusive de morte – que o ex-presidente e toda a sua comitiva vêm recebendo desses herdeiros da casa grande que se vangloriam de chicotear escravos e agora batem em mulheres, trabalhadores e estudantes que manifestam suas preferências políticas.
Esse cenário de guerra, para nossa tristeza e indignação, parece se repetir também em Santa Catarina, quando trabalhadores que montam a estrutura do palco que receberá o ato público da caravana foram violentamente atacados, na manhã deste sábado (24), por milicianos que não respeitam os princípios básicos da democracia.
O quadro torna-se ainda mais grave quando as ameaças à caravana de Lula feitas ao longo da semana se repetem e quando se descobre que a milícia ruralista planeja um ataque contra o avião que leva Lula e Dilma a Chapecó.
Diante disso, defenderemos ainda com mais disposição a democracia e exigiremos ainda com mais vigor que as nossas instituições estejam abertas ao debate político e, assim, promovam o respeito e a valorização da diversidade e da cultura de paz.
Esse é o caminho que escolhemos, o caminho da democracia! O outro é o da milícia, o da beligerância, o do conflito. Todas as autoridades competentes por garantir a segurança pública e a harmonia social foram avisadas e serão responsabilizadas por qualquer tragédia que eventualmente ocorra nos próximos dias.
Paulo Pimenta, líder da Bancada do PT na Câmara