Vice-líder do Governo na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira (PT-SP) projeta uma vitória das forças democráticas do país no plenário da Casa, barrando o golpe parlamentar contra a presidenta, Dilma Rousseff, e abrindo espaço para a repactuação do governo como passo para a concretização de uma agenda de reformas que o Brasil precisa.
A avaliação tem como base o termômetro na comissão especial que analisa o pedido de impeachment. Paulo Teixeira indica que a votação de hoje na comissão revelará que a oposição não tem a quantidade de votos que precisa para levar adiante o processo. “A oposição não terá na comissão a proporção de dois terços dos votos que precisa para aprovar o golpe parlamentar”, afirmou.
Em entrevista à Agência PT de Notícias, Paulo Teixeira diz que “Eduardo Cunha é o dono do processo de impeachment”, que conduz sem a parcialidade exigida de um presidente da Câmara, e fala da carta que enviou ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. “Skaf quer que os trabalhadores paguem o pato da crise”, afirmou o vice-líder do governo. “Pague o pato tirando direitos, com a terceirização indiscriminada, com um pacto previdenciário que de novo atribuirá aos trabalhadores um peso maior e, principalmente, quando ele quer que os trabalhadores continuem a arcar com a pesada carga tributária que o país tem, e não aqueles que têm mais.”
O deputado se mostra confiante na derrubada do pedido de impeachment no plenário da Câmara dos Deputados. “Vamos ganhar. E, passado o impeachment, vamos conversar com os empresários de fato”, sustenta.
E como seria um governo superada a agenda golpista? “Queremos fazer uma agenda de reformas, para aprofundar a reforma política e unificar o povo brasileiro, para superar esse processo de intolerância que foi incentivado pelos golpistas”, diz Paulo Teixeira.
Leia a seguir a entrevista:
Qual vai ser o resultado na comissão especial que analisa o pedido de impeachment?
É importante sublinhar que o presidente Eduardo Cunha está fazendo um processo num tribunal de exceção. Está dando toda velocidade, atropelando todos os ritos, criando novas jurisprudências etc. É um processo totalmente descabido e sem fundamentação, não tem base jurídica para as acusações contra a presidenta, Dilma Rousseff. E ele faz isso em função de vingança. Faz uma vingança ao fato de que não teve o apoio da Dilma quando se discutia o processo da sua cassação. Ele queria que o PT o ajudasse na sua absolvição, e o PT não aceitou essa condição. Assim, ele vem fazendo um processo num tribunal de exceção. Então temos que derrotar politicamente esse processo. E acho que o resultado será apertado na comissão, mas a oposição não terá na comissão a proporção de dois terços dos votos que precisa para aprovar o golpe parlamentar.
“O presidente Eduardo Cunha está fazendo um processo num tribunal de exceção”
Eduardo Cunha deu declaração de que vai interpretar na hora o regimento para definir o rito da sessão no plenário que vai analisar o impeachment. O que isso indica?
É um indicativo de que não tem nenhuma de previsibilidade o processo aqui, não tem nenhuma regra clara. Eduardo Cunha é o dono do processo de impeachment. E ele usa em seu próprio interesse para criar todas as dificuldades para a defesa da presidenta Dilma e para cassá-la.
Existe alguma possibilidade de acordo para o rito da sessão de impeachment?
Com Eduardo Cunha não tem acordo. Porque ele vai desenhar o rito mais difícil para a presidenta Dilma, o que demonstra que ele não tem nenhuma imparcialidade.
O melhor rito seria chamar os deputados a votarem por ordem alfabética?
Tem dois critérios que podem ser utilizados, o da ordem alfabética, que foi utilizado da última vez no impeachment do ex-presidente Fernando Collor. E o critério que começa a votação pelos Estados de cima. Um desses dois critérios é o que se deve adotar.
Se não houver qualquer sinalização do rito por parte do presidente da Câmara, o caminho é o STF?
O caminho do Supremo é o caminho de entender que ante um absurdo, você tem que paralisá-lo. Ir ao STF é uma maneira de derrotar de pronto esse absurdo.
O que motivou sua carta ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf?
Ele publicou nossas fotos nos jornais pedindo para as pessoas nos pressionar. Anúncios que tiveram um custo altíssimo. Eu disse que vou votar contra o pedido de impeachment. Por duas razões: a primeira é que não tem base jurídica e, sem base jurídica, é golpe. A Fiesp tem um precedente de já ter apoiado o golpe de 1964 que resultou num grande trauma para o Brasil. E, na minha opinião, essa insistência ao impeachment vai fraturar a sociedade brasileira; a segunda razão é que os problemas econômicos que têm origem na crise mundial não serão resolvidos dessa forma. E parte do problema foi o exagero na concessão de subsídios, subvenções e desonerações exatamente atendendo a agenda da indústria. Vou votar contra o impeachment por essas duas razões. Sobre o pato, esse negócio de pagar o pato, ele não pode querer é que os trabalhadores paguem o pato da crise. Ele quer que os trabalhadores paguem o pato tirando direitos, com a terceirização indiscriminada, com um pacto previdenciário que de novo atribuirá aos trabalhadores um peso maior e, principalmente, quando ele quer que os trabalhadores continuem a arcar com a pesada carga tributária que o país tem, e não aqueles que têm mais. Então, esse é o conteúdo da carta que mandei a ele.
“Paulo Skaf quer que os trabalhadores paguem o pato tirando direitos, com a terceirização indiscriminada, com um pacto previdenciário que de novo atribuirá aos trabalhadores um peso maior e, principalmente, quando ele quer que os trabalhadores continuem a arcar com a pesada carga tributária que o país tem, e não aqueles que têm mais”
Quais as bases de uma agenda para a continuidade do governo Dilma, superado esse momento agudo do impeachment?
Temos que, posteriormente à derrubada do pedido de impeachment, repactuar o governo e fazer uma agenda de crescimento, proteção do emprego, proteção da renda das famílias e de reformas, principalmente a reforma política. Essa agenda dos golpistas quer retrocesso. Nós queremos fazer uma agenda de reformas, para aprofundar a reforma política e unificar o povo brasileiro, para superar esse processo de intolerância que foi incentivado pelos golpistas.
Vão conversar com a Fiesp? Que papel os empresários podem ter nesse processo?
Nós vamos ganhar no plenário. E, passado o impeachment, vamos conversar com os empresários de fato.
Estudo do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo, da ONU, mostra que 10% da população brasileira concentra 52% da renda do país e que 1% concentra 23,1% da renda. Há relação entre esse dado e o atual momento político e social?
Claro que há, porque todos os 13 anos anteriores foram anos para equilibrar as oportunidades na sociedade brasileira, e isso incomoda muito os mais ricos, que querem um país que aprofunde as desigualdades. Precisamos vencer essa batalha para equilibrar a situação na sociedade brasileira, para que não tenha tamanhas desigualdades como nós temos e o estudo da ONU indica.
Por Camilo Toscano, da Agência PT de Notícias