Após pesquisa que, na semana passada, mostrou retração da indústria brasileira de 1,2% em novembro de 2019, novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o setor recuou em 11 de 15 locais no mesmo mês. Os números constam da Pesquisa Industrial Regional Mensal. Principal parque industrial do país, com 34% do total da indústria nacional, São Paulo registrou sua maior queda (- 2,6%) desde setembro de 2018 (-3,1%). A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (14).
Quedas significativas, maiores do que o índice de recuo nacional, também ocorreram no Paraná (-8,0%), Minas Gerais (-3,4%), Bahia (-3,5%), Espírito Santo (-4,9%), Pernambuco (-4,1%), Goiás (-2,1%), Pará (-1,8%), Rio Grande do Sul (-1,5%). Na Região Nordeste o índice foi de -1,0% e em Santa Catarina, de -0,5%.
Em relação ao estado de São Paulo, o recuo é atribuído “à influência negativa do setor de alimentos, principalmente o açúcar, compensando a alta inesperada do mês anterior”, segundo o analista responsável pela pesquisa, Bernardo Almeida. “Outro fator que afetou a produção industrial paulista foi a redução da produção do setor de veículos automotores, especialmente automóveis, devido ao período de férias coletivas, após a antecipação de produção em outubro.”
Já a importante queda da produção industrial do Paraná se deve à redução na produção de derivados de petróleo (refino) e na produção de veículos automotores, segundo o IBGE. De acordo com o estudo, dos 15 locais pesquisados, apenas Rio de Janeiro (3,7%), Ceará (3,4%) e Mato Grosso (2,7%) registraram avanços, enquanto o Amazonas se manteve estável (0,0%).
Na comparação com novembro de 2018, o setor industrial registrou queda de 1,7%, com resultados negativos em dez dos quinze locais pesquisados. Espírito Santo (-24,3%) e Minas Gerais (-8,5%) tiveram os maiores recuos no período. Rio Grande do Sul (-5,5%), Paraná (-4,0%), Santa Catarina (-3,7%), Pará (-3,5%), Bahia (-2,2%) e São Paulo (-2,0%) também registraram taxas negativas mais elevadas do que a média.
Na semana passada, pesquisa do IBGE já havia mostrado queda de 1,2% na produção industrial brasileira em novembro, na comparação com outubro, o pior resultado para o mês desde 2015. Além de cair 1,2% em novembro e 1,7% na comparação com o mesmo mês de 2018, a produção também recuou 1,1% de janeiro a novembro e 1,3% em 12 meses.
O economista Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp, em entrevista à RBA, afirmou que os dados são preocupantes, já que a taxa de câmbio apresentou tendência a desvalorização durante todo o ano 2019, mas mesmo assim o setor não reagiu.
Segundo ele, os números preocupam, “em primeiro lugar, porque sugerem certa incapacidade de reação da indústria nacional a uma mudança positiva nos preços relativos”.
Ele também destacou outro dado significativo: o fato de a retração ter sido intensa em setores importantes como bens de consumo duráveis, “indicando, pelo menos, uma disposição menor das famílias em consumir.” Isso, para ele, reflete a situação do mercado de trabalho. “A maior geração de empregos precários também se reflete em uma menor capacidade em comprometer renda com o financiamento de bens duráveis”, disse.
O professor Alessandro Donadio Miebach, do Departamento de Economia e Relações Institucionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista ao Sul21, destacou a capacidade ociosa como fator determinante da falta de investimentos privados no país.
“O empresário não vai investir para aumentar a capacidade, que é o investimento no sentido macroeconômico, para aumentar a capacidade produtiva, se não tem demanda para os seus produtos”, afirmou. Por isso, mesmo com os juros mais baixos, o investimento não veio.
Serviços
O setor de serviços, também de acordo com em pesquisa divulgada pelo IBGE nesta terça, apresentou recuo de 0,1% em novembro, na comparação com o mês anterior. Em relação a novembro de 2018, houve crescimento de 1,8%, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços.
As quedas foram registradas em três das cinco atividades pesquisadas: transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-0,7%), serviços de informação e comunicação (-0,4%) e serviços prestados às famílias (-1,5%).
Inflação
A inflação brasileira também registrou índices preocupantes, segundo a pesquisa Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a inflação oficial, divulgada na sexta-feira (10).
O IPCA encerrou 2019 em 4,31%, acima do centro da meta do governo, de 4,25%, embora dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Em dezembro, a pesquisa acelerou em 1,15%, contra 0,51% no mês anterior. É a maior taxa para dezembro desde 2002 (2,10%). No mesmo mês de 2018, o índice ficou em 0,15%.
O resultado foi puxado, entre outros, por itens básicos, como a carne (acúmulo de 32,4% no ano passado) e o feijão (que ficou 55,99% mais caro).