A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados convocou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, para dar explicações sobre declaração dada à imprensa de que nas universidades federais há extensivas plantações de maconha e que seus laboratórios de química são usados para a síntese de drogas. A audiência ocorre nesta manhã (11), com transmissão ao vivo pelo facebook PT na Câmara.
Durante audiência pública da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, usou reportagens televisivas e manchetes de jornais para reafirmar declarações recentes sobre plantações de maconhas nas universidades federais e o uso de seus laboratórios para formulação de drogas sintéticas.
Argumentos que foram rebatidos com veemência pela deputada e ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT-MG). “O ministro da Educação não pode usar a palavra sem responsabilidade. Queremos informações detalhadas e responsáveis sobre essas alegações que ele fez e que já foram desmentidas oficialmente pela polícia e pela justiça”, rechaçou a deputada, uma das autoras do requerimento à realização da audiência. Também são autores do requerimento os parlamentares petistas Professora Rosa Neide (MT), Waldenor Pereira (BA), Natália Bonavides (RN), Pedro Uczai (SC), Maria do Rosário (RS), Alencar Santana (SP) e José Guimarães (CE).
Margarida criticou a apresentação em slides do ministro. Para ela, o que se viu foi “uma apresentação sensacionalista que trata de uma forma indevida de eventos já apurados, tanto o da UnB (Universidade de Brasília) quanto da UFMG”.
A deputada relatou que no caso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o delegado que cuidou do caso, Rodolfo Machado, identificou os suspeitos e, à época, afirmou que eles não eram estudantes da UFMG. Além disso, continuou a parlamentar, o juiz que também cuidou da denúncia afirmou que não existiam provas que evidenciassem o comprometimento da instituição nos casos denunciados.
No caso da UnB, Margarida Salomão observou que ficou claro que o local onde foram encontrados os vasos com 13 pés maconha não eram do campus. Para a deputada, não se pode tomar incidentalidades como fatos. “É necessário provas além das versões sensacionalistas”.
“É seu papel ministro, como gestor da educação apurar, cobrar, inibir e impedir, em não fazendo isso, e tratando meramente esse assunto como fofoca ou meme, eu quero dizer que o senhor está prevaricando”, alertou Margarida Salomão.
Cortina de fumaça
Em seu pronunciamento, a deputada professora Rosa Neide disse que a exposição do ministro não passa de “cortina de fumaça com o único objetivo de vender, de tornar privado o espaço público, para que a sociedade brasileira possa continuar construindo conhecimento, seja banido de política pública nesse País”.
Para a deputada do MT, as falas públicas do ministro – ele que deveria ser o principal agente da educação brasileira -, que, ao invés de sensacionalismo, deveria ter o compromisso de trazer em público qual é o projeto de educação do governo para o País.
“Então, nesse sentido, as universidades mais atacadas no Brasil têm, nas polêmicas criadas pelo ministro, todos os dias que ocupar o tempo para fazer defesas públicas daquilo que nada agrega à educação brasileira”, criticou.
Inimigo da educação
Ao se dirigir ao ministro, o deputado Waldenor Pereira disse que condena o uso e o tráfico de drogas em qualquer lugar, seja, no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional, no avião presidencial e também nas universidades. No entanto, observou que o fato também de extrema gravidade é, segundo ele, o governo Bolsonaro manter no cargo de ministro de Estado “alguém que com as suas manifestações e frases estapafúrdias, com suas posturas polêmicas, tenha se indisposto com todos aqueles que fazem a educação no Brasil, ao ponto de hoje, ser considerado o inimigo número um da educação pública brasileira”.
Sensacionalismo
O deputado Alencar Santana Braga ressalta que Weintraub não apresentou provas de suas acusações. “Não podemos admitir que um ministro de Estado, com a exigência ética que se faz necessária para ocupá-lo, difame e ofenda um patrimônio do povo brasileiro que são as universidades federais. ”
Segundo o petista, tentam pegar os casos isolados para transformar em um problema de toda a universidade. Ele avalia que estão tentando criar sensacionalismo, medo e caos em determinados setores sociais para desmantelar a universidade pública. “E no avião presidencial? O senhor, hoje, teria medo de entrar no avião presidencial, com 39 quilos de cocaína? Provavelmente, sim, o senhor não vai entrar. Ou vai mandar a polícia fazer uma vistoria antes de entrar, se a sua preocupação é essa. É lamentável, ministro, lamentável”, criticou.
Baboseira ideológica
Ao discursar, a deputada Maria do Rosário detalhou o quadro da educação brasileira na gestão do ministro do Bolsonaro. Ela relatou que há abandono da educação infantil, da pré-escola da educação básica, do ensino médio e do ensino superior, com cortes de bolsas de mestrado e doutorado e abandono das pesquisas. “E aqui vemos uma baboseira ideológica. É o ministro da baboseira ideológica. É ideologia de péssima qualidade, sem formação adequada que diz respeito ao conhecimento científico, não traz números, trouxe fake news, trouxe mentiras”, denunciou.
“No meu estado [RS] temos mais de 100 mil pessoas, trabalhadores da educação, professores que estão em greve porque seus salários não são pagos há mais de 40 meses, salários atrasados e o ministro não quer saber disso, não quer saber de educação”, constatou.
Alencar Santana Braga ressalta que Weintraub não apresentou provas de suas acusações. “Não podemos admitir que um ministro de Estado, com a exigência ética que se faz necessária para ocupá-lo, difame e ofenda um patrimônio do povo brasileiro que são as universidades federais.”
Em outro requerimento, 12 deputados do PT também reclamam da postura do ministro. “Com a posse de Abraham Weintraub o MEC se transformou em propagador de polêmicas e ataques à educação pública e seus profissionais, sendo o atual ministro o principal porta-voz.”
Por PT na Câmara