A greve na Petrobras, maior da categoria desde 1995, tem se mantido inabalável na luta para reverter as demissões arbitrárias ocorridas na subsidiária Fafen-Paraná e preservar a empresa do desmonte promovido pelo desgoverno de Jair Bolsonaro. Enquanto se mobilizam para enfrentar os abusos dos patrões, os funcionários da empresa acabam também por colocar em xeque um novo – mas não menos perigoso – dilema: o boicote à paralisação promovido pela chamada imprensa hegemônica.
Iniciada em 1º de fevereiro, a paralisação caminha para o seu 18º dia resumindo bem o que pretendem os donos da informação. Mas não só. Ao ignorar a manifestação legítima e prevista em Constituição, parte das emissoras e jornais do país dá aval ao projeto antipovo do nefasto governo Bolsonaro. De quebra, dá ares de legalidade aos ataques contra os que estão de braços cruzados justamente para defender a empresa da privatização.
A presidenta Nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, não poupou críticas à cobertura (ou a falta dela) feita pelos ‘jornalões’ do país. “Saem da toca os instrutores de oposição, jornalistas sem senso de ridículo que atacam o PT para puxar saco do patrão e do governo entreguista que eles têm vergonha de apoiar” , criticou a parlamentar.
Saem da toca os instrutores de oposição, jornalistas sem senso de ridículo que atacam o PT para puxar saco do patrão e do governo entreguista que eles têm vergonha de apoiar”, Gleisi Hoffmann
A posição da presidenta é uma resposta direta não só ao boicote, mas também ao posicionamento velado ou explícito dos conglomerados em seus editoriais. Em conversa com representantes dos grevistas nesta segunda (17), Gleisi já havia chamado de vergonhoso o editorial do O Globo que, ao ignorar o histórico das greves no país e a dimensão do movimento em curso, atribui às reivindicações dos petroleiros a causas políticas.
Família amiga de Bolsonaro
A falta de cobertura não é o único problema correlato à greve na Petrobras – que já envolve mais de 20 mil funcionários de mais de 121 unidades da estatal. Mesmo que a paralisação tenha sido motivada pela demissão em massa na subsidiária Fafen-Paraná (decisão que rasgou descaradamente um acordo coletivo firmado entre empresa e funcionários), a direção da petroleira insiste em levar o caso à Justiça sem ao menos ouvir as reivindicações de seus colaboradores.
Quando o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), declarou nesta segunda (17) que a paralisação tem “motivação política” ficou evidente que a Justiça – neste caso – já escolheu de que lado está. Aí fica impossível não recordar uma notícia de janeiro de 2019: a irmã de Ives Gandra Martins, a filósofa Angela Vidal Gandra Martins, tem cargo de destaque no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro.
A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), sigla das mais combativas na luta contra o autoritarismo bolsonarista, veio a público para “externar sua preocupação e profundo desacordo com a guinada antidemocrática de setores do Poder Judiciário que (…) limita, senão põe fim, ao direito de greve, garantido pela Constituição Federal de 1988”.
Em tempo: os grevistas seguem firmes e fortes em defesa da Petrobras mesmo com a decisão arbitrária da Justiça.
Privatizar é preciso…para os donos do dinheiro
“A empresa está sendo fatiada, vendida aos pedaços. E isso vai na contramão do que as grandes empresas de petróleo estão fazendo no mundo. 90% das reservas conhecidas no mundo estão na mão de Estados ou de empresas estatais. Mas a Petrobras está fazendo o contrário, está saindo de vários segmentos e se concentrando apenas no que tem de pré-sal brasileiro”. A avaliação é de José Sergio Gabrielli, que atuou na empresa durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, de 2005 a 2012.
O posicionamento de Gabrielli, o mais longevo presidente da história da companhia, é o mesmo dos grevistas. Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma das muitas organizações sindicais que estão à frente da paralisação, é preciso urgentemente combater o processo de desmonte da empresa.
“A greve parece-nos clara: é a favor do emprego, da diminuir do preço do óleo diesel, do gás de cozinha e da gasolina para o povo que necessita; é a favor da indústria brasileira, da produção de riquezas para a saúde e educação, da produção de alimentos; a favor de uma Petrobrás pública e democrática, e das mudanças necessárias para uma transição energética justa”, reafirmou a FUP, em nota publicada no início da greve.
Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Gilberto Bercovici, concorda: “Para além das disputas trabalhistas, a greve se organizou em torno de algo maior: a defesa da Petrobrás como empresa estatal que deve atuar em benefício da coletividade. Perspectiva esta abandonada desde 2016 e ameaçada pela privatização acelerada de boa parte da estrutura da Petrobrás promovida pelo atual governo”.
Da Redação da Agência PT de Notícias