A manobra política do ex-juiz Sérgio Moro, de divulgar a delação de Antonio Palocci antes do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, ajudando a eleger o candidato Jair Bolsonaro, foi confirmada neste final de semana. A Polícia Federal concluiu que as acusações feitas por Palocci sobre um suposto esquema milionário de propinas em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não estão lastreadas em provas e foram desmentidas pela própria investigação dos policiais federais – inclusive em depoimentos de testemunhas e de delatores que incriminaram o PT em outros processos.
A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) cobrou providências. “E agora? O vazamento criminoso da deleção por Sérgio Moro interferiu nas eleições de 2018”, denuncia. “Moro tem de ser processado e publicamente pedir desculpas a Lula e (Fernando) Haddad. Ele sabia que a delação era mentirosa. E a Globo? Vai dar essa notícia com o mesmo estardalhaço?”
O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), também denunciou o caráter oportunista de Moro. “O tempo traz a verdade à tona. Moro é oportunista e carreirista. Planejou essa ofensiva de perseguição a Lula e ao PT para se colocar no cenário nacional. Usou o Judiciário como trampolim do seu ego. Anular sua sentença é resgatar a credibilidade da Justiça”, disse.
O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), defendeu a anulação da eleição presidencial de 2018 após uso de delação fraudada de Palocci por Moro. “A utilização da delação mentirosa de Palocci demonstra o desvio da Lava Jato, que se politizou, perseguiu Lula e utilizou está delação para prejudicar Haddad. Está aí a prova cabal para a anulação da condenação de Lula por Sérgio Moro e para anular a própria eleição de 2018”, disse.
Conversa fiada
O delegado Marcelo Daher encerrou o inquérito sobre a delação de Palocci afirmando que as informações prestadas pelo ex-ministro da Fazenda na delação “parecem todas terem sido encontradas em pesquisas de internet”, sem “acréscimo de elementos de corroboração, a não ser notícias de jornais”. Na semana passada, o delegado encerrou o caso sem indiciar acusados.
De acordo com Daher, “as notícias jornalísticas, embora suficientes para iniciar o inquérito policial, parece que não foram corroboradas pelas provas produzidas, no sentido de dar continuidade à persecução penal”. Ele encaminhou o resultado ao Ministério Público Federal. O inquérito foi aberto para investigar declarações de um dos anexos da delação premiada de Palocci homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribuna Federal.
Nesta segunda-feira, 17 de agosto, a defesa de Lula anunciou que vai usar o relatório da PF desmascarando a farsa da delação de Palocci para reforçar o processo de danos morais que o ex-presidente move contra o delegado Felipe Pace. Foi Pace quem capitaneou em Curitiba o acordo delação do ex-ministro assinado em 2018. A PF concluiu que as acusações de Palocci, vazadas por Moro às vésperas das eleições de 2018 não têm provas e foram desmentidas pela investigação.
“O resultado dessa investigação da PF sobre a delação do Palocci é mais uma prova de que a defesa técnica que fizemos do ex-presidente estava na direção correta e que ele foi vítima de lawfare (perseguição judicial), inclusive, com impacto relevante nas eleições presidenciais de 2018”, disse o advogado Cristiano Zanin, que está à frente da defesa de Lula.
Não é a primeira vez que delações falsas foram usadas contra Lula. Em 2017, o Ministério Público Federal pediu à Justiça Federal a absolvição de Lula e do banqueiro André Esteves no processo que apura a suposta tentativa de suposta tentativa de ambos de obstruir o andamento da Lava Jato por meio da compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A acusação havia sido feita pelo ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT), que também mentiu no processo e sequer foi punido por isso.
Da Redação