O momento de incertezas com o desdobramento da crise sanitária no país e no mundo apontam um cenário ainda mais sombrio para a economia e os trabalhadores brasileiros. Analistas estão revisando as projeções relativas ao Produto Interno Bruto em 2020 para patamares ainda mais baixos, com variações que batem a alarmante casa dos 4% de queda. A taxa de desemprego, segundo especialistas, pode superar a marca de 16%, ampliando a desigualdade de renda e oportunidades no país. Se antes da crise o governo de Jair Bolsonaro iria colher um ‘pibinho’ inferior a 1%, agora já se fala em recessão bruta.
Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, a queda da atividade econômica no país pode chegar a 3,4%. Os bancos Itaú e BNP Paribas revisaram esta semana suas projeções de queda de 2,5% e 4%, respectivamente. De acordo com dados da FGV, só neste trimestre o país pode perder 5 milhões de postos de trabalho, aumentando o número de desempregados para 17 milhões.
Lento em suas reações, o governo parece não ter uma receita para enfrentar o aprofundamento da crise econômica e social que se avizinha. O ministro da Economia, Paulo Guedes, assiste ao desastre anunciado sem apresentar medidas concretas para recuperar e preservar a renda das famílias. Ao contrário, propõe flexibilização das regras trabalhistas e suspensão dos contratos de trabalho, um verdadeiro massacre contra o povo. Na semana passada, enquanto o país aguardava a liberação do dinheiro do Seguro Quarentena no valor de R$ 600 para trabalhadores informais e beneficiários do Bolsa Família e inscritos no Cadastro Único, o governo anunciou a Medida Provisória 936, também chamada de MP Exterminadora de Salários.
“É um acinte. Bolsonaro não se emenda, edita nova MP que permite o corte de salários. Segue na mesma toada sem proteger empresas e empregos. Falta de humanidade e incompetência de Paulo Guedes farão os brasileiros sofrerem”, reagiu a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR)
O desgoverno tende a agravar a situação. A FGV informa que o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) caiu 9,4 pontos em março de 2020 para 82,6 pontos, numa escala de 0 a 200. É segunda maior queda da série, atrás apenas da registrada na crise de 2008. Analistas da FGV alertam para a ameaça real de o país contabilizar a maior taxa de desemprego da história.
OIT fala em “perdas devastadoras”
“Se um país fracassa, todos nós fracassamos. Precisamos encontrar soluções que ajudem todos os segmentos da nossa sociedade global, particularmente os mais vulneráveis ou menos capazes de ajudar a si próprios”, alerta o o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder .
Relatório da agência das Nações Unidas informa que a pandemia poderá acabar com 6,7% de horas de trabalho no mundo somente no segundo trimestre. Isso equivale a 195 milhões de trabalhadores em tempo integral no planeta. De acordo com o documento, como são estimadas perdas significativas em diferentes grupos de renda, principalmente em países de renda média alta (7%, ou 100 milhões de trabalhadores em tempo integral), o quadro apresentado sugere consequências muito mais dramáticas do que os efeitos da crise financeira de 2008.
Segundo o diretor da OIT, trabalhadores e empresas enfrentam uma catástrofe, tanto nas economias desenvolvidas quanto naquelas dos países em desenvolvimento. “Temos que agir rápido, decisivamente e juntos”, adverte. “Medidas corretas e urgentes podem fazer a diferença entre a sobrevivência e o colapso.”
“As decisões que tomamos hoje afetam diretamente a maneira como esta crise evoluirá”, disse Ryder. “Com as medidas certas, podemos limitar seu impacto e as cicatrizes que deixará. Nosso objetivo deve ser reconstruir de forma melhor, para que os nossos novos sistemas sejam mais seguros, mais justos e mais sustentáveis do que aqueles que permitiram que essa crise acontecesse”, concluiu.
Da Redação, com agência de notícias, FGV e OIT