O trabalhador rural Eliseu Queres, de 30 anos, foi morto e outros nove camponeses ficaram feridos em um ataque de pistoleiros na madrugada do último sábado (5), na Fazenda Magali, munício de Colniza, no Mato Grosso.
Segundo os sobreviventes, a emboscada ocorreu quando o grupo de trabalhadores caminhava até o Rio Traíra, próximo à propriedade, para buscar água. Cerca de 200 famílias vivem e produzem na Fazenda Magali, área pertencente à União e reivindicada por grileiros.
Grileiro condenado
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organização da Igreja Católica, entre esses grileiros estariam o ex-deputado José Riva (ex-PSD), condenado em março de 2018 a 26 anos de prisão por desvios de pelo menos R$ 37,2 milhões da Assembleia Legislativa do Mato Grosso (ALMT).
Esta foi a terceira condenação de Riva, que já acumulava uma pena de 44 anos por duas outras sentenças por improbidade. Na ação julgada em março de 2018, a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado de Cuiabá, condenou o ex-deputado por peculato e associação criminosa para fraudar licitações e desviar recursos públicos.
A Fazenda Magali, se encontra em uma grande gleba de terras da União que é alvo de disputa. Segundo a CPT, além de Riva, a terá também seria reivindicada pelo ex-governador Silval Barbosa — que administrou o estado em um mandato tampão a partir de março de 2010, após a desincompatibilização de Blairo Maggi, de quem era vice. Neste mesmo ano, Barbosa foi reeleito para o governo do MT.
Em 2017, Silval Barbosa foi condenado a 13 anos de prisão por desvio de R$ 2,5 milhões em fraudes durante seu mandato.
A CPT aponta que Barbosa e Riva teriam adquirido parte da área da União “supostamente com dinheiro de desvios do erário público”.
Violência anunciada – e sem providências
A violência contra as 200 famílias que vivem na Fazenda Magali vem sendo denunciada pela CPT e outras entidades desde novembro de 2018, em sucessivos alertas às autoridades sobre os riscos de um massacre na área.
“Tememos o pior. As famílias estão sob a mira de pistoleiros. Se acontecer algo, é uma morte anunciada. Todos sabiam”, diz uma nota divulgada pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT) divulgada em novembro de 2018.
O assentamento da Fazenda Magali é organizado pela Associação Gleba União do município de Colniza e pelo movimento de luta por terra 13 de Outubro.
Os trabalhadores que vivem na Fazenda Magali já haviam sido ameaçados “pelo próprio ex-deputado Riva e pelos capangas fortemente armados que ele colocou na fazenda, que diuturnamente ameaçavam as famílias, efetuando disparos de armas de grosso calibre, inclusive fuzis, e fogos de artifícios, na intenção de incendiar os barracos”, afirma a Comissão Pastoral da Terra.
Todos esses fatos foram denunciados amplamente pelos trabalhadores para o governo do Estado (governador Pedro Taques, Casa Civil, Casa Militar, Secretaria de Segurança), bem como para o Ministério Público Federal, Ordem dos Advogados e Assembleia Legislativa, solicitando as medidas cabíveis para estancar o conflito”.
Nada foi feito pelas autoridades. Na madrugada do último sábado, quinto dia do ano, Eliseu Queres foi transformado na primeira vítima fatal da violência agrária em 2019. Os sobreviventes denunciam que a Polícia Militar não queria sequer deixar o SAMU ir buscar as vítimas no local da tragédia e, inicialmente se negou a ir ao local também.
Entre as vítimas do atentado dos pistoleiros, os agricultores Milton José da Silva, Moisés Ferreira e Valmir Nunes Januário encontram-se em estado grave. Os demais feridos são Antônio Jose Maia Silva, Manoel Ferreira Barbosa, Marcos Martins do Prado, Nalbes Apolinário, Tahik Bruno Oliveira e Tiago Alves Lopes.
Esse foi o segundo atentado recente contra trabalhadores rurais no município de Colniza. Em abril de 2017, nove camponeses do Projeto Assentamento Taquaruçu foram assassinados. ““Muitos foram surpreendidos enquanto trabalhavam na terra ou dentro de seus barracos. Foram mortos a tiros e por golpes de facão. De acordo com a perícia houve tortura. Vários corpos estavam amarrados e dois foram degolados”, narra a CPT.
Em 2004, um estudo da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) apontou Colniza como a cidade mais violenta do Brasil. O município fica a mais de 1.000 km de e tem 20 mil habitantes.
Por PT no Senado