Desde o início de outubro, foram registrados 133 casos de agressões praticados por apoiadores do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) por motivos políticos. As informações são da plataforma Violência Política no Brasil, uma iniciativa dos portais Opera Mundi, Outras Palavras e De olho nos ruralistas e foram divulgadas nesta terça-feira (23), em ato no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
O levantamento iniciou uma semana antes do primeiro turno das eleições e o site segue registrando novos casos. Até o momento, foram oito mortes, 42 casos de lesão corporal, 21 envolvendo armas e 17 registros de pichações de símbolos nazistas. Desse total, seis foram contra transexuais e nove dirigidos à jornalistas.
Alceu Castilho, editor do portal De olho nos ruralistas, afirma que o mapa é apenas uma amostra e há diversos casos não notificados. “Essa amostra é um alerta. Se tivermos um governo Bolsonaro, as minorias estarão entre as principais atingidas”, disse o jornalista. Ele lembrou também que a violência institucional no campo deve ser ainda maior e relatou o caso de um indígena que foi ameaçado por apoiadores simplesmente por ser indígena, sem usar qualquer coisa que identificasse apoio ao PT.
O editor do Ópera Mundi, Antonio Martins, ressaltou que o mapa também demonstra uma potência polícia. “Há reação a toda essa violência. A construção rápida deste mapa é um exemplo disso. As reações em manifestações, como nos atos do último sábado (20) e do dia 29 de setembro, são exemplo disso. As manifestações contra o assassinato de Marielle Franco são exemplo disso”, disse Martins. “Precisamos estar preparados para a resistência”, finalizou.
Relatos de jornalistas
Além da divulgação de novos dados consolidados do mapa de agressões, o ato foi marcado por relatos de jornalistas sobre o momento político. O jornalista Juca Kfouri foi o primeiro a falar e lembrou do período em que Audálio Dantas era presidente do sindicato da categoria e da denúncia do assassinato de Vladimir Herzog. “Daqui de dentro [do sindicato] nasceu um movimento que, junto com outras forças da sociedade, conseguiu mudar a história do Brasil”, disse.
Kfouri também ressaltou a importância destas eleições. “O segundo turno é mais do que uma luta entre direita e esquerda, é uma luta das forças democráticas contra a extrema direita, a direita fascista que é a favor da tortura”, afirmou.
A jornalista Patrícia Zaidan, que foi uma das 804 profissionais demitidas pela editora Abril em agosto deste ano, disse que o episódio retrata o momento emblemático do país e o futuro, caso Bolsonaro seja eleito.
“Nós somos frutos da reforma trabalhista. Depois que essa reforma foi feita a Abril deu um golpe, demitiu 804 pessoas, entrou em recuperação judicial e não pagou ninguém. Esta é a forma de lidar com os trabalhadores todos os dias, em outros lugares. Por isso precisamos revogar essa reforma”, defendeu.
Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, ressaltou o papel da imprensa alternativa na resistência contra a ditadura militar e também neste momento. “Estamos mostrando o que é este homem para gente que não sabia, para gente que votou neste homem no primeiro turno movido pelo anti-petismo”, disse.
Professor da UFABC, Igor Fuser afirmou que esta pode ser a última semana da democracia. “Em 1964, quando os militares deram um golpe, foi sem a participação do povo. Hoje, vemos milhões de pessoas, muitas delas intoxicadas pela mídia reacionária, a serviço do que tem de mais injusto na sociedade brasileira”, afirmou.
O jornalista William de Lucca ressaltou o risco da população LGBT. “Gostaria muito que estas eleições fossem apenas uma disputa política, mas talvez esta seja a última eleição da minha vida. O que está em questão nestas eleições, para mim como homem gay e para outras pessoas, é o direito à vida”, disse.
Por Brasil de Fato