Ainda não é possível afirmar que o atual quadro de estabilidade nas infecções e mortes por Covid-19 aponta uma tendência de arrefecimento consistente da pandemia no país, avaliam especialistas. Ao contrário. O platô de óbitos está muito alto, em torno de 2,5 mil vidas perdidas por dia, o que indica um quadro de descontrole. Nesta quinta-feira (22), o Brasil registrou 2.070 mortes e 50 mil novos casos em 24 horas, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Agora, o país tem 383,7 mil mortos e 14,7 milhões de pessoas infectadas.
O Brasil também ultrapassou três meses com mais de mil mortes por dia e 37 dias com mais de 2 mil óbitos. O platô alto permitiu ao país superar os EUA em taxa de mortalidade. São 181 mortes para cada 100 mil habitantes, ante a 172 vítimas americanas. Com isso, o Brasil passou a deter a pior taxa de mortalidade das Américas e do hemisfério Sul.
“Aparentemente, os números deram uma estabilizada, mas o nível dessa estabilidade que a gente está começando a observar é preocupante, com numero de óbitos ainda extremamente elevado”, observou o epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB), Mauro Sánchez, em depoimento à agência francesa AFP.
O pesquisador alerta para o risco de um novo repique devido ao feriado da Semana Santa. “Pode ter agora o efeito da Páscoa, pode ser que essa estabilidade seja temporária e a gente tenha outra subida”, advertiu Sánchez. Outra preocupação é com a pressão para que estados relaxem medidas restritivas da circulação de pessoas, como vem ocorrendo no Rio e em São Paulo.
“Mesmo quando há uma pequena flexibilização, mesmo que não faça grande diferença, como a abertura de bares duas horas mais tarde, manda uma mensagem para a população. As pessoas começam a relaxar e a se expor mais”, ressaltou o pesquisador da UnB. “Com a segunda onda a subida foi muito brusca, muito repentina, principalmente desde a virada do ano e chegamos a este nível muito alto. Não podemos banalizar estas cifras e dizer que um dia com 2.500 mortos é algo bom”, advertiu.
Outono/inverno
“Estamos rumando para um outono/inverno que pode ser muito duro e difícil, pois estamos em uma quantidade muito alta de casos ativos. É imprescindível baixar a taxa de transmissão”, avaliou o coordenador da Rede Análise Covid-19, pesquisador e especialista em análise de riscos Isaac Schrarstzhaupt, em entrevista ao Correio Braziliense.
Apesar de 11 estados apresentarem estabilidade na média de mortes e outros 13 registrarem queda na última semana, o Brasil deve bater a marca de 400 mil vítimas fatais ainda em abril. E a tendência pode ser revertida com o relaxamento de regras de distanciamento social, destacam os pesquisadores.
Baixa vacinação
A vacinação, uma poderosa arma para abaixar o índice de contágio, continua baixa, prejudicando o combate à pandemia. Segundo o consórcio de imprensa, nas últimas 24 horas, menos de 1 milhão de pessoas receberam as duas doses da vacina contra a Covid-19, um ritmo muito aquém do que o país poderia alcançar.
Até o momento, 13,2% da população recebeu a primeira dose da vacina, cerca de 27,9 milhões de pessoas. Já a segunda dose foi aplicada em 11,3 milhões de pessoas, o que representa apenas 5,35% da população.
Último país a sair da pandemia
Com o negacionismo de Jair Bolsonaro prevalecendo em meio ao caos sanitário, o país será o último país a sair da onda de infecções causada pela pandemia, avalia o neurocientista Miguel Nicolelis. Em entrevista ao canal My News, o cientista identificou a gravidade do que chama de “método sanfona, que é o abre e fecha das atividades econômicas, indiscriminadamente, sem critério”.
Nicolelis traçou um panorama desanimador para os próximos meses. “Tudo pode acontecer nesse momento em termos de subida de casos e de óbitos também”, disse. “Nós estamos entre 3 mil e 4 mil, mas existe uma subnotificação clara e o Brasil está testando muito menos do que testava antes. Além disso, estamos com o espaço aéreo aberto, principalmente com a índia, que está registrou uma nova variante do vírus”, alertou o cientista.
Bolsonaro, o grande responsável
Nicolelis apontou o dedo para o grande responsável pela tragédia brasileira: Bolsonaro. “[Ele] não reconheceu a gravidade do problema no início; não se preparou para a primeira onda; não comprou insumos; não proporcionou auxílio emergencial desde o início; propagou o uso de medicamentos não eficazes e tratamento precoce, que não existe; não comprou vacinas suficientes; fez troça da morte das pessoas e, a mais recente, não colocou, no orçamento de 2021, verbas para o combate à pandemia. É uma das piores gestões do mundo”, concluiu.
Da Redação, com informações de G1, AFP, Correio Braziliense e Revista Fórum