A escolha do Largo São Francisco para o ato em defesa de Jean Wyllys carrega, por si só, uma série de simbolismos. Além de abrigar o curso de direito da USP, cujo auditório recebeu na noite de terça (29) ao menos 300 pessoas entre políticos, artistas, estudantes e representantes de movimentos sociais, o local também foi um dos palcos mais emblemáticos da resistência contra a Ditadura Militar. Os tempos mudaram, mas o inimigo ainda é é o mesmo: o discurso de ódio e a violência que ronda incansável todo e qualquer representante da ala progressista do país.
O ex-deputado federal, agora em auto-exílio, é um deles. Baiano de nascimento, o ex-deputado tornou-se desde o ingresso na vida pública um dos alvos preferidos dos ataques covardes da extrema-direita e referência maior da produção em larga escalada das fake news – como esquecer a notícia criminosa sobre um suposto apoio do parlamentar à pedofilia? Isso explica porque o Largo São Francisco tenha voltado a ser a metáfora perfeita da resistência que deverá insurgir a partir da eleição do governo autoritário de Jair Bolsonaro.
“A partir do momento que uma pessoa com uma trajetória política que representou esperança para tanta gente se sente insegura no próprio país nós temos o compromisso com todos os que se sentem da mesma maneira. Infelizmente Jean não é o único. Nós não podemos aceitar esse novo regime que está tentando se impor e naturalizar o que está acontecendo no país”, declarou Fernando Haddad.
O candidato do PT nas últimas eleições presidenciais vê as ameaças ao ex-deputado como um exemplo claro do que se propõe o governo radical de Bolsonaro e lembrou alguns dos absurdos que aconteceram em apenas 30 dias: “É um festival de horrores o que está acontecendo. É impressionante que alguém acredite nestes absurdos que propagam sobre ele. A pergunta que temos que fazer é o que está acontecendo com as pessoas?”.
Sempre muito aguardada em atos e uma das figuras que melhor dialogam com a juventude, Manuela D’Ávila também fez discurso duro contra os ataques sofridos por Jean Wyllys. “O exílio do Jean diz muito sobre o Brasil dos últimos anos e pode dizer muito do que vem adiante. A onda de fake news e as redes de ódio são as responsáveis por sua saída do país. São elas que potencializam o que há de pior nas pessoas. A mera existência de um homem gay na política gera ódio. E não é por acaso. É porque ele é o porta-voz de um conjunto de ideias”, avaliou.
Manu, no entanto, também trouxe um recado otimista do próprio Jean. “Para mim falar do Jean é falar de um amigo. E agora há pouco ele disse que mesmo diante de tanto medo também nunca teve tanta esperança diante de tanta solidariedade que recebeu”, contou, para euforia geral dos presentes no auditório.
Escolhido para encerrar o ato, o líder do MTST, Guilherme Boulos, saudou a unidade da esquerda presente no local. “Esperamos que este encontro seja o embrião para a nossa luta daqui para frente. Acho que todos nós nos perguntamos: como é que chegamos a este ponto? Um deputado ser forçado a sair do país para preservar a sua vida. Temos que dizer quem são os responsáveis por isso. Quando se mata alguém o responsável não é só aquele que aperta o gatilho. A responsabilidade é do Bolsonaro e do seu governo. E é ele que deve ser cobrado”, apontou.
Quando alguém ameaça, agride ou mata, prossegue Boulos, ele se sente legitimado por alguém que está lá em cima e constrói e legitima este ato. “A decisão do Jean é um grito de basta. E é importante que a gente transforme este grito em disposição de luta, em unidade, em mobilização para que a gente possa virar este jogo”, concluiu.
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias