Quem mora em São Paulo ou acompanha o carnaval da cidade fica com a impressão de que o paulistano acordou para a folia de uns anos para cá. Não é bem assim. Até a gestão municipal anterior, a Prefeitura autorizava apenas um pequeno número de blocos a saírem para as ruas. Os demais eram reprimidos.
A incompreensão era tamanha que um bloco como o Acadêmicos do Baixo Augusta, que este ano reuniu mais de 40 mil pessoas e teve a atriz Alessandra Negrini como sua madrinha, chegou a ser reprimido pela Prefeitura em 2012, e sequer pôde sair às ruas, ficando confinado em um estacionamento.
Logo nos primeiros dias da atual gestão, o então secretário da Cultura e hoje ministro Juca Ferreira convocou os blocos até então proibidos que desejavam sair e liberou a rua para todos. “Nosso papel não é reprimir. Nosso papel é gerar uma infraestrutura e o sistema regulatório para garantir que a celebração do Carnaval seja aberta a todos”, disse Ferreira à época.
Ano após ano o número de blocos foi aumentando, e a estrutura fornecida pela prefeitura também. Reclamações de sujeira, falta de banheiros e excessos de pessoas praticamente inexistiram em 2016. Isto porque a Prefeitura, agora com o secretário Nabil Bonduki à frente, mobilizou uma enorme estrutura para garantir que a folia ocorra em paz e que o restante da população também seja respeitado.
A prefeitura fornece banheiros químicos, gradis, segurança e ambulâncias, entre outros. A organização começou há seis meses e envolveu 14 secretarias municipais.
Como resultado, mais de um milhão de pessoas foram aos blocos nos primeiros dez dias de festa, de acordo com estimativa da Prefeitura. O carnaval de rua já é o evento turístico mais lucrativo da cidade, ao gerar mais receita e atrair um público de fora maior do que a Fórmula 1, que até então ocupava esse posto.
Foram 139 desfiles nos dias 29, 30 e 31 de janeiro e 147 no feriado. No final de semana pós Carnaval, acontecem mais 88 desfiles, até 14 de fevereiro. Até o final da programação, a Prefeitura espera totalizar 2 milhões de foliões.
Sem cordas ou abadás
Um dos principais diferenciais do novo carnaval de rua de São Paulo é que a participação na folia é gratuita. São proibidas cordas e a venda de abadás ou de qualquer outra vantagem ou acesso “VIP”, como acontece em outras capitais, como Salvador.
“Paulistanos podem, a custo zero, se divertir nas ruas, transformando o espaço público em lugar de festa, sociabilidade, namoro e liberdade”, disse o secretário de Cultura, Nabil Bonduki.
A política para o carnaval de rua e a atuação de Nabil são parte do projeto da gestão Haddad para o município, tornando São Paulo uma cidade em que as pessoas sejam as protagonistas do espaço público –como já acontece no caso das ciclovias, das ruas abertas à população etc.
A não cobrança em nada atrapalha a geração de renda, uma vez que hotéis, restaurantes táxis, estacionamentos, bares e toda a cadeira econômica envolvida ganham um tremendo estímulo. O Carnaval de rua já dá mais retorno à cidade até do que os desfiles no sambódromo. A SPturis, órgão municipal de turismo, estima superar a meta de arrecadação de R$400 milhões em negócios gerados pelos blocos, enquanto os desfiles oficiais devem render R$ 250 milhões.
Este ano, a prefeitura ofereceu cerca de R$ 40 milhões para as escolas de samba, blocos e cordões carnavalescos ligados à Liga das Escolas de Samba. Já os blocos independentes receberam R$ 10,5 milhões, sendo 35% verbas de patrocinadores. Em comparação com 2015, os investimentos no Carnaval de rua cresceram 66%.
Além do crescimento de 32% no número de blocos, o destaque da festa deste ano foi a descentralização das atrações. Os desfiles aconteceram por 23 subprefeituras e o número de blocos na periferia cresceu 44%. Pela primeira vez, por exemplo, a programação incluiu Sapopemba e Guaianases, na zona leste.
“É quarenta vezes mais de receita do que de despesa. A cada R$ 1,00 investido, a cidade tem R$ 40 de retorno, sem incluir o desfile”, explicou Fernando Haddad. E completa: “pessoas vieram para São Paulo e outras deixaram de sair daqui para curtir a festa. Em muito pouco tempo São Paulo será um destino turístico do Carnaval”.
“É quarenta vezes mais de receita do que de despesa. A cada R$ 1,00 investido, a cidade tem R$ 40 de retorno, sem incluir o desfile”, explicou Fernando Haddad
Nabil resume a folia paulistana: “o espírito desse Carnaval nasceu de baixo para cima, de forma espontânea, sem a paternidade e tutela do Estado”. Ou seja, o paulistano sempre gostou de Carnaval. Mas só agora a Prefeitura deixou a festa rolar.
Por Marcella Petrere, da Agência PT de Notícias