A convite do presidente Lula para comemorar os 50 anos das relações diplomáticas Brasil-China, o presidente Xi Jinping participou, nesta segunda-feira (18), da Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, e estará em Brasília na quarta-feira (20), onde será recebido com honras de chefe de Estado no Palácio da Alvorada. Os presidentes assinarão diversos acordos bilaterais que alcançam todos os setores do governo, aprofundando a parceria sino-brasileira que, via Brics, tem atuado pela democratização das relações internacionais, na perspectiva da construção do mundo multipolar.
O presidente Lula recepcionou o líder chinês no Museu de Arte Moderna, sede da Cúpula, na Zona Sul da capital fluminense.
Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, Xi Jinping demonstrou a importância da visita em um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo no último sábado (16), intitulado ‘China-Brasil: Com futuro compartilhado e amizade que supera distâncias é hora de navegarmos juntos sob velas cheiras’.
“As relações diplomáticas China-Brasil, estabelecidas em 15 de agosto de 1974, têm resistido às mudanças e turbulências na situação internacional nesses 50 anos e são cada vez mais maduras e dinâmicas. Têm promovido efetivamente o desenvolvimento dos dois países, contribuído positivamente para a paz e a estabilidade do mundo e oferecido um exemplo de cooperação ganha-ganha e futuro compartilhado entre dois grandes países em desenvolvimento”, escreveu o presidente chinês.
Presidenta do PT dá as boas vindas
“Seja bem-vindo ao Brasil, presidente Xi Jinping!”, postou em seu perfil na rede X a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), ao destacar que a visita vai estreitar ainda mais as relações diplomáticas entre os dois países.
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“A China já é nosso maior parceiro comercial e temos uma importante parceria estratégica global, que vem se aprofundando desde a primeira visita de estado do presidente Lula a Pequim, ainda no primeiro mandato. Somos dois grandes países que convergem pela construção de um mundo multipolar, relações pacíficas, democráticas e equilibradas entre países, com base na cooperação mútua e respeito à soberania”, assinalou Gleisi.
Parcerias múltiplas e recorde de exportação
Brasil e China são economias complementares, buscam o desenvolvimento econômico compartilhado, têm sintonia na diplomacia internacional e constituem alternativa viável à hegemonia ocidental.
Ambos defendem reforma da governança global, para torná-la mais representativa e democrática, além de outras reformas como na Organização Mundial do Comércio (OMC) e bancos multilaterais.
A China é o principal parceiro comercial e um dos maiores investidores do Brasil, que bateu recorde de exportações para o país asiático em 2023, com US$ 104,3 bilhões, superando a soma das vendas para Estados Unidos e União Europeia.
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Segundo afirmou, em entrevista à Agência Brasil, o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo Paes Saboia, a visita de Xi “servirá para reiterar o esforço do Brasil em ampliar os números do comércio bilateral e diversificar a pauta comercial com produtos brasileiros com maior valor agregado. As duas economias se complementam”. Ele afirmou que há protocolos para exportação de mais produtos agrícolas brasileiros e interesse do Brasil em atrair mais investimentos chineses para áreas como infraestrutura e na capacidade produtiva industrial.
O governo brasileiro vê boas possibilidades de parcerias com a China em investimentos em obras do Novo PAC, modernização do parque industrial, construção e reforma das rotas de integração regional no continente e aportes em projetos de transição energética.
Objetos dos acordos
Os acordos devem avançar no campo da ciência, tecnologia e inovação, em novas pesquisas sobre fontes de energia limpa, nanotecnologia e tecnologia da informação e comunicação, indústria fotovoltaica, tecnologia nuclear, inteligência artificial e mecanização da agricultura familiar. Há também entre os países um esforço para maior aproximação na área financeira, com iniciativas no BNDES, Ministério da Fazenda e B3, a bolsa de valores brasileira, informou o embaixador.
A China tem 93 projetos industriais no Brasil incluindo a indústria automotiva, eletroeletrônica e de máquinas e equipamentos. “Os dois países têm um relacionamento que sempre fica na vanguarda dos relacionamentos entre a China e os países em desenvolvimento e possuem mecanismos governamentais de diálogo e cooperação completos”, salientou o presidente chinês no artigo da Folha.
Confira boletim da TvPT sobre o G20, direto do Rio de Janeiro:
Eleição dos EUA favorece relação Brasil-China
Na análise de alguns veículos da grande mídia, a parceria Brasil-China está sendo estimulada pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. “Quem quiser que se iluda. A eleição de Donald Trump empurra o presidente Lula para uma maior aproximação com a China de Xi Jinping, que está de braços abertos para o colega brasileiro”, explicitou o jornalista Luiz Carlos Azedo, em sua coluna no jornal Correio Braziliense, ao classificar Xi Jinping como a “principal estrela” da reunião do G20 no Rio.
“Com EUA e Trump distantes, China se aproxima mais do Brasil”, destacou o site Poder 360, ao ressaltar que a visita de Xi Jinping evidenciará a relevância que o país asiático tem conquistado na América Latina nas últimas duas décadas. “A presença do líder chinês na região neste momento contrasta com o enfraquecimento da influência dos Estados Unidos”, diz a matéria, ao enfatizar a inauguração do Porto de Chancay no Peru na última quinta-feira (14), o maior construído pela China na região para ampliar o comércio entre os continentes via Pacífico.
Para o analista de política internacional do site Brasil 247 José Reinaldo Carvalho, Brasil e China olham para o passado com alegria por terem percorrido um bom caminho e encaram com otimismo a perspectiva para o futuro. “São 50 anos de notáveis conquistas mútuas, trilhando um caminho de paz, prosperidade e desenvolvimento comum”, publicou ele em artigo sobre a história da cooperação sino-brasileira que está numa fase em que os dois países fortalecem também suas responsabilidades perante o mundo. “O futuro desse relacionamento é brilhante e digno da grandeza das duas nações”, avaliou José Reinaldo.