A presidenta eleita Dilma Rousseff concedeu entrevista exclusiva ao portal Brasil 247, e afirmou que a primeira tentação de um golpe, seja ele militar ou parlamentar, como o que levou o golpista Michel Temer ao Palácio do Planalto, “é calar a divergência”. A primeira parte da entrevista foi publicada nesta quinta-feira (9).
Como exemplo, Dilma falou da tentativa de demissão do diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação, Ricardo Melo, já revertida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Tirar o presidente da EBC foi um ruptura de contrato. Suspender contratos de publicidade foi também um ruptura de contrato. A primeira tentação de todos os golpes, sejam eles militares ou parlamentares, é calar, silenciar. Calar a divergência. Tentam proibir até a palavra golpe. A única e mera expressão os incomoda. Eles querem calar porque têm medo. Têm medo do contraditório. Têm medo das manifestações políticas”, destacou.
Perguntada sobre a barreira policial colocada antes de chegar ao Palácio da Alvorada, Dilma afirmou que a considera “extremamente constrangedora e ridícula” e disse ter “a maior curiosidade” sobre sua real finalidade.
“Eles fecharam até o acesso ao Alvorada! Eu passei cinco anos aqui e nunca houve barreira. De repente, ela aparece e não sabemos por que. É uma sandice tamanha que uma explicação seria: enlouqueceram. Mas como eles não enlouqueceram, presumo que querem saber quem me visita. Politicamente, quem me visita. Para quê? Para saber em quem deve ser feita pressão”, apontou.
Segundo Dilma, há riscos de que esse governo provisório se transforme num regime de força. “Governos ilegítimos não gostam, por exemplo, da cultura. Extinguir o Ministério da Cultura, como fizeram, é atingir o simbólico, num País que precisa afirmar a diversidade nacional. Nós temos hoje um presidente interino que não tem um pingo de legitimidade e ainda não colocou os pés na rua. A força pode, sim, ser o próximo passo”.
A presidenta eleita também criticou o fato do governo provisório desmontar estrutura de governo e e políticas públicas “com zero de legalidade” e garantiu que, quando voltar ao Palácio do Planalto, vai rever tudo que o golpista fez.
“Eu sou a presidenta eleita. Eu não saí do meu cargo. Eles são interinos, provisórios e acham que podem desfazer tudo. Teremos que rever, sem sombra de dúvida. Não existe hipótese de deixar o ministério de Ciência e Tecnologia dissolvido. Outras mudanças que eles fizeram só têm sentido dentro da estratégia deles, mas não atendem ao desejo da população. Por exemplo: quando retiram o S da Previdência Social, e colocam o ministério debaixo da Fazenda, isso expressa uma visão de mundo. Qual é? Retirar direitos dos aposentados e dos trabalhadores. Quando colocam o Incra na Casa Civil, isso também visa cortar direitos dos trabalhadores rurais ou acomodar interesses fisiológicos. Nada disso pode continuar, sem falar com o que fizeram com mulheres, negros, homossexuais, pessoas com deficiências e todas as minorias”, acrescentou.
Confira a íntegra da primeira parte da entrevista.
Confira aqui a segunda parte da entrevista com Dilma.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias