Na última quinta-feira, Marcio Macedo assumiu como vice-presidente do Partido dos Trabalhadores. Em entrevista ao JL Política, Macedo falou sobre os principais desafios do período, a força do PT e a defesa do ex-presidente Lula. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
“Sim, (estamos presentes) nos 27 Estados e em mais de quatro mil cidades brasileiras. É de uma capilaridade extraordinária. O PT é como os Correios e o Banco do Brasil: tem em todo lugar”, diz.
“Ter uma presidente da República impechmenteada e sobreviver a isso, é porque tem força. É um dos maiores em preferência nacional, muito distante do segundo e do terceiro. Isso mostra a capilaridade muito grande de que falo, porque está presente na maioria dos municípios”, ressalta.
Por esta lógica e pelo poder pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva, Marcio Macedo acha que o PT volta à Presidência da República em 2018. Ele não vê perigo de interdição de Lula, via justiça ou prisão.
“Achamos que se isso (prisão) acontecesse, seria uma ruptura do processo democrático. Seria rasgar a Constituição e a maior injustiça que a Justiça poderia fazer. Não pode um guardião da justiça, um juiz, cometer um crime contra a Justiça. Lula é um homem inocente e não há nenhuma prova material contra ele. Então, achamos que uma prisão dele seria uma aberração para o Brasil e para mundo”, opina Marcio.
Ele defende a deposição do presidente Michel Temer, mas por meio de eleições diretas, e não por golpe, como acha que Dilma Rousseff foi apeada do poder. “Essa crise não terá fim se não for pelas eleições diretas, que é o que nos diferencia de setores que querem derrubar o Temer com indiretas. Quem tem que colocar o presidente da República no posto é o povo. Se escolher bem, ótimo. Se escolher mal, é outra história. A primeira questão é essa: a saída da crise pela eleição direta”, diz.
Aos 46 anos, o biólogo Marcio Macedo já obteve alguns feitos importantes na vida. Um deles foi quase apagar da sua biografia os vestígios baianos que marcam a sua origem. Já conseguiu uma aba vistosa na Wikipédia, onde aparece o primeiro passo da sua diáspora: lá, está registrado como nascido em 18 de setembro de 1970, em Esplanada. As datas estão corretas. Mas ele é de Rio real, e o quinto de uma família de seis.
Filho de uma sergipana de Itabaianinha, dona Maria Costa Macêdo, com um baiano de Itapicuru, Marivaldo Alves de Macêdo, (já falecido) o dado Esplanada entra na vida de Marcio por uma fatalidade, ou falha no serviço de saúde pública que nem os 46 anos passados foram capazes de corrigir e que ainda se repete. “Como em Rio Real não tinha maternidade pública, fui a Esplanada só nascer. Fiquei lá por dois dias e nunca mais voltei”, brinca Marcio.
Marcio Macedo sempre teve Sergipe, sobretudo Boquim e Aracaju, como referência de viagem e de encanto da adolescência e, depois, da vida adulta. Fixou morada no Estado a partir dos 14 anos. Por aqui, se fez biólogo pela Universidade Federal de Sergipe, militou no movimento estudantil, foi secretário municipal de Participação Popular de Aracaju, superintendente do Ibama em Sergipe, secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado e presidiu os Diretórios Municipal de Aracaju e Estadual de Sergipe do PT.
Como consequência, Marcio elegeu-se deputado federal em 2010 e terminou parando na Executiva Nacional do PT, como secretário de Finanças e na semana passada assumiu a Vice-Presidência do Partido. Veja a entrevista exclusiva com ele.
Foi surpresa para o senhor essa escolha para a Vice-Presidência, ou já achava que daria nisso?
Marcio Macedo – A forma como cheguei à Direção Nacional, num momento de crise profunda e com um trabalho de recuperação administrativa e financeira do partido, com o planejamento e a reestruturação, me fortaleceu muito. Além disso, ajudei bastante na condução política. Então, foi um processo natural. O fato de meu nome ter sido ventilado para presidente do partido também contribuiu.
Do ponto de vista orgânico, como está o PT hoje?
MM – Olhando para o partido como uma empresa de economia mista, diria que o PT é uma empresa saudável hoje. Não deve nada a ninguém, e tem planejamento para o ano inteiro e para esse processo até 2018.
O PT está organizado nos 27 Estados?
MM – Sim, nos 27 Estados e em mais de quatro mil cidades brasileiras. É de uma capilaridade extraordinária. O PT é como os Correios e o Banco do Brasil: tem em todo lugar (risos).
Do ponto de vista de representatividade no Parlamento e no Executivo, como está o Partido?
MM – O PT governa cinco Estados: Bahia, Ceará, Minas Gerais, Piauí, Acre. Dos quais, três são colégios eleitorais muito fortes – Minas, que é o segundo do Brasil, e a Bahia, que é o primeiro do Nordeste e terceiro ou quarto do Brasil. O Ceará é bastante abrangente. É o mesmo extrato de antes. No Congresso, somos a segunda bancada da Câmara. Então, mantém uma força parlamentar razoável.
Qual é mesmo a atribuição que lhe dão nesse processo de preparar o PT para 2018?
MM – Compete-me ajudar a montar os palanques nos Estados. Acompanhar e cuidar da preparação do partido para as eleições nacional e estaduais; ajudar a gerir o partido na relação com as secretarias e a articulação política, junto à presidente do partido e o presidente Lula.
Diante de tudo que aconteceu com o PT – impeachment de uma presidente dele e várias acusações –, o que este partido pode ainda fazer pelo Brasil?
MM – Com todas as nossas contradições, que são inerentes às organizações humanas, o PT está atravessando uma crise que não é simples e nem fácil. Ter uma presidente da República impechmenteada e sobreviver a isso, é porque tem força. É um dos maiores em preferência nacional, muito distante do segundo e do terceiro. Isso mostra a capilaridade muito grande de que falo, porque está presente na maioria dos municípios. Outra coisa significativa é essa franja que orbita concomitantemente com o PT, que são os movimentos sociais que têm políticas muito solidárias. Isso dá uma força real.
O senhor quer dizer que com tudo isso, essa força não esmoreceu?
MM – O PT nunca esteve numa relação tão próxima com os movimentos sociais. A política, e a própria democracia, tem suas contradições nesse sentido. Por exemplo: hoje é o momento mais forte do PT com movimentos sociais. É o reencontro nas ruas pela defesa da democracia. Então, o golpe de Estado foi malsucedido. As elites jogaram o país na crise para tirar a presidente e não resolveram os problemas. Pelo contrário, o país tem mais de 14 milhões de desempregados e vive uma das piores recessões, estagnando o desenvolvimento. Sem falar nas reformas contra o povo. É um modelo malsucedido. Setores da classe média estão envergonhados, arrependidos, e no imaginário coletivo a presença que se sobressai é a do que foi feito nos governos de Lula e de Dilma, como os programas sociais, o ciclo virtuoso com o PT.
A sua linha é de que “quem muito fez, poderá fazer muito mais”. Possivelmente esse será o marketing do PT em 2018. E hoje todos os indicativos apontam para a eleição de Lula. O senhor acha que, se eleito, ele teria condições de fazer o Governo ou teria dificuldades?
MM – Isso é reconhecido por quem apoia Lula e por quem não apoia: hoje, só há uma liderança nacional com força real, e ela é Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é um homem talhado na luta social e na política. Ganhando a eleição, ele vai construir a unidade nacional. Esse discurso da dificuldade era o que se falava quando ele chegou ao Governo em 2002. Ele chegou e fez um governo de coalizão. É claro que o processo do golpe dividiu a sociedade brasileira e trouxe um componente que não é da tradição do nosso país, que é a intolerância, o ódio. Acho que isso tem que ser superado com as políticas públicas.
Mas o senhor acha que a eventual eleição de Lula aplaca o grau de intolerância que o país está vivenciando?
MM – Primeiro, tem uma premissa aí: essa crise não terá fim se não for pelas eleições diretas, que é o que nos diferencia de setores que querem derrubar o Temer com eleições indiretas. Quem tem que colocar o presidente da República no posto é o povo. Se escolher bem, ótimo. Se escolher mal, é outra história. A primeira questão é essa: a saída da crise pela eleição direta. O Lula tem experiência, tem força política, tem maturidade, não é um homem que tem ódio no coração, sabe do papel dele para o país e para a história. Então, há uma chance de vencer a intolerância e o ódio e o país voltar a crescer. Não é uma tarefa simples nem fácil. A sociedade está fragmentada.
Dá para aplicar, numa eventual gestão de Lula entre 2019 e 2022, o mesmo princípio governativo que ele aplicou entre 2003 e 2010?
MM – O país é outro, sobretudo depois de um golpe e de uma crise como essa. Então, tem que se analisar à luz da própria conjuntura. Mas tem princípios que são os mesmos. Isto é, nós acreditamos que o povo não é problema, que é a saída: mercado de massas, investimento regional, programas sociais. Então, isso precisa ser retomado e ampliado, transformado em política de Estado. É óbvio que a condição política será definida de acordo com a conjuntura.
Mas o novo projeto de Brasil com o novo-velho Lula passaria apenas por isso ou teria outras variantes?
MM – Estamos num processo de estudo da nova conjuntura do país e preparando um novo programa para a nação. Esses princípios são os que tiveram no passado e vão estar no presente e no futuro. Mas tem que se debruçar sobre temas que não foram debatidos, como as reformas trabalhista, agrária e política, o diálogo sobre a democratização da mídia, a superação do presidencialismo de coalizão, para evitar que fique refém de um Parlamento conservador e atrasado. Tudo isso estará no novo plano.
Do ponto de vista do presente, o PT descarta a possibilidade de Lula vir a ser preso?
MM – Achamos que se isso acontecesse, seria uma ruptura do processo democrático. Seria rasgar a Constituição e seria a maior injustiça que a Justiça poderia fazer. Não pode um guardião da justiça, um juiz, cometer um crime contra a Justiça. Lula é um homem inocente e não há nenhuma prova material contra ele. Então, achamos que uma prisão dele seria uma aberração para o Brasil e para mundo.
Os petistas têm dificuldade de separar o episódio do impeachment da ocorrência do Lava Jato. Por quê?
MM – Mas são coisas diferentes. A Lava Jato é uma operação de combate à corrupção que nós entendemos que tem que ser feita mesmo. Não pode é ser seletiva, apenas para alguns. Tem que respeitar a lei e o Estado Democrático de Direito, e que combata a corrupção. O impeachment foi uma orquestração das elites, setores da grande mídia, do Judiciário, do Ministério Público, de um Parlamento conservador e um mercado insatisfeito, sobretudo os rentistas. Essa combinação arrancou do poder uma presidente eleita democraticamente pelo povo.
O que significa, do ponto de vista econômico, político e democrático, para o Brasil, segurar mais um ano e meio de Michel Temer?
MM – Significa uma tragédia. Minha opinião é de que se Michel Temer não quiser ir para o lixo da história, como está indo, como já foi, teria que ter hombridade de convocar eleições diretas para o Brasil. O Governo dele acabou. Está sangrando. O país está em bancarrota. Falta liderança do presidente, falta comando. Sobra impopularidade. Ele está envolvido em corrupção, comprovadamente – não é delação, é comprovação, com vídeos, com áudios, provas materiais.
Mas o PT não faz mea-culpa pela existência de Temer hoje enquanto presidente?
MM – Não. Por que faríamos? Nós somos vítimas da orquestração da qual ele foi o instrumento. Ele e Eduardo Cunha. Ele é um dos mentores intelectuais e Cunha o pistoleiro que executou o crime. Nas regras atuais, as alianças e o presidencialismo de coalizão são instrumentos da democracia. E foi feita uma aliança assim. O PT não errou em fazer uma aliança. Aquele momento histórico exigia isso. Quem errou foram eles – vice-presidente e o PMDB, que traíram a parceira de chapa na calada da noite.
O PT perdeu o fio da meada em Sergipe? Qual é o papel que cabe ao partido em 2018 aqui no Estado?
MM – Óbvio que estamos fazendo um processo de reconstrução do partido no Estado. Um partido com as nossas características, que perde os dois principais líderes – Déda e Zé Eduardo – num curto espaço de tempo, claro que sofre as consequências. Mas acho que o PT ainda demonstra vitalidade diante de tudo isso. Talvez se fosse outro, nem sobrevivesse. Mostra que tem uma militância forte.
E dentro desta vitalidade cabe o que a ele em 2018 em Sergipe?
MM – Acho que nesse bloco liderado por Jackson Barreto, que é um bloco histórico que o PT ajudou a construir e liderou por um tempo, nós temos densidade eleitoral, militância e presença no Estado para reivindicar espaço na chapa majoritária e definir o programa para o futuro.
E se o PMDB apoiar, nacionalmente, o PSDB, como fica?
MM – Eu não quero me meter na economia interna dos partidos, mas o PMDB tem uma característica interessante, peculiar, de ser vários partidos dentro de um partido. E as lideranças políticas, também chamadas de caciques estaduais, são muito fortes.
Mas respeitadas?
MM – Não sei se respeitadas. São fortes. O PMDB da Bahia tem uma posição. O de Alagoas tem outra. No entanto, estão os dois sem força nacional. Não acredito que o partido vá fechar essa questão numa aliança. E outra coisa eu vi pela imprensa, mas não sei se é verdade, é que o próprio governador de Sergipe pode sair do PMDB. Ir para o Podemos. Não sei se se confirmará.
Quando o senhor fala em pleitear espaço na chapa majoritária, está falando de vice-governador e senador ou de governador?
MM – Acho que quando a legislação permitir, o governador Jackson deve abrir o debate e coordenar esse processo, com a discussão de quais partidos devem compor a chapa majoritária. E estamos acreditando que o PT esteja dentro dessa chapa majoritária.
O senhor defende o nome de Rogério Carvalho para senador?
MM – O nome de Rogério foi construído consensualmente dentro do PT e a instância partidária. Então não há crise com isso. Essas crises estão superadas.
O senhor disputaria eleição em 2018?
MM – Vou disputar. Só há duas chances de não: se Deus não permitir e se o PT não me der legenda.
E seria em que esfera?
MM – Pretendo disputar a deputado federal.
Por Josaílto Lima, do JL Política