A prisão do ex-ministro Antonio Palocci na manhã desta segunda-feira (26), decretada por Sérgio Moro na 35ª fase da operação Lava Jato, foi considerada um ato com interesse eleitoral, uma vez que acontece seis dias antes do pleito municipal.
Na véspera, o ministro da Justiça do governo golpista, Alexandre de Moraes, fez uma declaração polêmica em referência à operação em conversa com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL): “Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”.
No mesmo dia, o ministro ainda participou de evento de campanha de um candidato a prefeito pelo PSDB em Ribeirão Preto, mesma cidade de Palocci.
Juristas e políticos denunciaram os interesses eleitorais explícitos de se realizar essa prisão na eminência das eleições municipais no país.
Para o jurista e professor de direito constitucional da PUC-SP Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, deveria ser exonerado por conta de suas últimas ações.
“Primeiro, porque deixa claro que conhece as operações com antecedência e parece que influencia nelas. Está se jactando de ter informações bombásticas. Essa declaração foi dada em Ribeirão Preto, onde Palocci foi prefeito. Foi um aviso: ‘vocês verão’. Ele sabe o que está acontecendo e parece que existe uma determinação de como as coisas serão feitas”, afirmou o professor.
O jurista acrescentou que “até a prisão é um absurdo, porque ela foi desnecessária”. “Estamos vivendo um estado de exceção por conta desse governo, dessa polícia, e desse Ministério Público”.
Para ele, a prisão de Palocci teve “um claro viés ideológico”. Ele reafirmou que “esse ministro [Moraes] tinha que ser processado e exonerado. Acho uma grande irresponsabilidade o que ele fez”.
De acordo com Eugênio Aragão, Ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff, a declaração de Moraes foi “irresponsável e infantil”. Aragão afirmou em entrevista à Agencia PT que “Se a Lava Jato está ou não servindo a objetivos políticos, é uma outra coisa, mas que ela está sendo usada, ela está”.
Outro jurista a se pronunciar foi Helio Telho Corrêa, atuante no Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República em Goiás. Ele classificou como “grave” o vazamento feito pelo ministro Alexandre Moraes.
Em sua conta no Twitter, ele publicou que o “ministro da Justiça ser informado, previamente, de uma operação policial sigilosa é grave. Anunciá-la em palanque eleitoral #ÉPRAKABA”.
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, reclamou não ter acesso a acusação. “Ela é até o presente momento absolutamente secreta. No melhor estilo da ditadura militar. Você não sabe de nada, não sabe do que está sendo investigado. Um belo dia batem a sua porta e o levam”, afirmou o advogado.
“Nós estamos voltando nos tempos do autoritarismo, da arbitrariedade. Qual é a necessidade de prender uma pessoa com domicílio certo, que é médico, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as informações quando for intimado. É por causa do espetáculo?”, disparou Batochio.
Políticos e personalidade repudiam prisão de Palocci e fala de Moraes
A presidenta eleita Dilma Rousseff afirmou que a declaração de Moraes na véspera da prisão de Palocci serve de alerta pois estamos “caminhando para um estado de exceção”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou o ato como “operação boca de urna” que “segue o calendário tucano”. Para ele, “o desvio de finalidade está escancarado: o objetivo da operação, com o aparelhamento da PF pelo tucanos, é prejudicar o PT nas eleições”.
A senadora Gelisi Hoffmann (PT-RS) classificou a prisão como ato de exceção. “Nunca nos governos de Lula e Dilma o Ministério da Justiça interferia nos trabalhos da PF. Tampouco tinham informações privilegiadas de operações sigilosas e as divulgava. A perseguição continua. Seletividade!”
O senador Lindbergh Farias classificou o ato de Moraes como gravíssimo e entrou com uma representação na Procuradoria Geral da União contra o Ministro da Justiça.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) disse que a nova fase da Lava Jato é claramente partidarizada. O parlamentar ainda informou que protocola hoje convocação do ministro Alexandre de Moraes para explicar a operação político-partidária-eleitoral desta semana.
Eduardo Suplicy ressaltou o caráter desnecessário da prisão.
Paulo Eugênio (PT-SP), candidato à vereador por Mauá, também classificou a prisão de Palocci como boca de urna.
Líder do MTST, Alexandre Boulos relacionou o anúncio de Moraes no domingo à prisão de Palocci nesta segunda, definindo o ato como “o mais completo escárnio”.
Ele afirmou que “não há como não relacionar isso à disputa eleitoral, há 6 dias das eleições”. “E não se trata de ter simpatia ou não por Palocci – particularmente não tenho nenhuma – mas de entender a gravidade dos abusos e seletividade da Lava Jato”.
Da Redação da Agência PT de Notícias