Partido dos Trabalhadores

Procurador diz que Lava Jato perdeu apoio após “PT deixar de ser alvo”

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima pediu afastamento da força-tarefa na semana passada para se aposentar e reconhece uso político da operação

Agência Brasil

Carlos Fernando dos Santos Lima e Deltan Dallagnol

O procurador da força-tarefa da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima, responsável por diversos acordos de delação premiada, admitiu, nesta terça-feira (25), que a operação perdeu força depois que o PT deixou de ser o alvo. Próximo de se aposentar, Santos Lima disse que a percepção equivocada de que as investigações eram dirigidas exclusivamente ao partido favoreceu a força-tarefa.

Vale lembrar que ele foi um dos procuradores que posou ao lado de Deltan Dallangol para apresentar o fictício “power point”, uma produção mais parecida com um trabalho escolar.

“A percepção de que você, ao investigar o governo do PT, atendia aos ideais dessa parcela da população gerou essa vinculação. Essa própria percepção equivocada que parte da população teve também nos salvou em alguns momentos”, disse em entrevista ao Pragmatismo Político.

Tido como o estrategista da Lava Jato – uma das operações mais questionadas por juristas e advogados brasileiros e internacionais – Santos Lima reconheceu que alguns segmentos da sociedade se apropriaram do discurso da operação por motivações políticas. Para o procurador, há candidatos envolvidos na investigação que usam o combate à corrupção como mote de campanha.

“Tem muita gente envolvida na Lava Jato fazendo discurso de combate à corrupção e devolução do dinheiro aos cofres públicos. Eu não vou chegar e dizer ‘fulano de tal, você devia devolver dinheiro primeiro então’… a gente não vai entrar nesse bate-boca”, disse.

Da patota do Dallagnol

Santos Lima é um dos procuradores de Curitiba, além de Deltan Dallagnol, que acusaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter um triplex no Guarujá. Nas suas alegações finais, última fase antes do juiz Sérgio Moro proferir a absurda sentença,  a dupla apresentou uma peça jurídica digna de um roteiro de ficção de cinema. 

No documento, de 334 páginas, ficou evidente a ausência de provas, mas a Procuradoria se valeu da “convicção” para incriminar o ex-presidente.  Dallagnol ficou conhecido por uma sua capacidade criativa ao apresentar um PowerPoint em que citou seu próprio livro sete vezes.

Durante a apresentação, o procurador se valeu até mesmo de Sherlock Holmes – personagem da ficção – para embasar sua denúncia. O MPF, ao longo do documento, afirmou diversas vezes que não foram encontradas provas contra Lula, e fizeram um malabarismo jurídico para transformar supostos indícios em provas.

“Se é extremamente importante a repressão aos chamados delitos de poder e se, simultaneamente, constituem crime de difícil prova o que se deve fazer? A solução mais razoável é reconhecer a dificuldade probatória” e “os indícios são equivalentes a qualquer outro meio de prova pois a certeza pode provir deles”.

Por fim, os procuradores recorreram a Teoria do Domínio de Fato para afirmar que Lula, como presidente, deveria saber o que ocorria na Petrobras. No entanto, duas auditorias internacionais, a KPMG e Price, isentaram o ex-presidente de qualquer fraude na contabilidade da estatal e 73 testemunhas provaram a inocência de Lula. Para Santos Lima e Dallagnol, entretanto, o pedido de condenação se justificava porque “a literatura permite”.

É exatamente essa a classificação que será dada para a denúncia do MPF, a sentença de Moro e o Acórdão do TRF-4: uma literatura de ficção.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Pragmatismo Político e Estadão