Uma das missões da série de diálogos realizados sobre o Plano Lula de Governo é a busca por propostas viáveis que possibilitem a reconstrução do Brasil a partir de 2019. Para isso, é fundamental popularizar e disseminar a visão do brasileiro sobre os mecanismos da economia.
Esta foi uma das conclusões apresentadas após o debate Soberania, Democracia e Desenvolvimento Nacional realizado nesta quinta-feira (7) e que teve participação dos economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Marcio Pochmann, da jornalista Eleonora de Lucena, do ex-ministro Celso Amorim, do coordenador do Plano Lula de Governo, Fernando Haddad e do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli.
Entender o Brasil de hoje, no entanto, requer mais do que boa memória e passa necessariamente pela compreensão do que vem ocorrendo na economia global desde a descoberta do pré-sal e o protagonismo brasileiro aos olhos do mundo, passa pela crise econômica de 2008 e culmina com a consolidação da ruptura democrática com o golpe de 2016.
É o que explica Celso Amorim: “É emblemática a capa da revista The Economist com o mapa da América invertido e com a manchete: O Brasil não é mais quintal de ninguém. Isso foi quando as políticas econômicas do PT elevaram o Brasil não só a protagonista na região como em todo o mundo. De lá para cá foram muitas as tentativas, sobretudo do governo norte-americano, de impedir que o nosso país se livrasse da dependência extrema que tinha com eles”.
Com o país no centro das atenções, sobretudo após a descoberta do pré-sal, é totalmente possível associar o golpe ocorrido anos depois sob a ótica dos interesses econômico, prossegue Amorim. “Entre os interesses do mercado financeiro, sob o comando dos EUA, está impedir que qualquer força progressista tenha autonomia. O golpe de 2016, apesar de seu aspecto político, passa fundamentalmente pelo viés da economia”.
Superar os efeitos drásticos dos últimos dois anos, no entanto, não será tarefa das mais fáceis. “Desde o início do nosso grupo de debates formado por economistas, advogados, jornalistas e intelectuais de diversas outras áreas nós pensamos o golpe sob a perspectiva econômica. Os retrocessos impostos pelo governo ilegítimo de Michel Temer só corroboram esta tese. Desde então o que vemos é um completo desmonte de direitos e uma política econômica que desfavorece por completo a grande maioria da população”, explana Eleonora de Lucena.
Apesar do cenário desfavorável, a jornalista corrobora com a ideia de que os adversários políticos (e agentes do golpe) ainda não possuem um plano de governo viável. “Não há na direita qualquer projeto para o país”.
Luiz Gonzaga Belluzzo concorda, mas ressalta: é preciso tirar o debate econômico do viés das mídias hegemônicas. “A associação de veículos de imprensa com o mercado financeiro é histórica. Por isso é tão difícil encontrar algum outro viés nos jornais de grande audiência que não seja sob a ótica do mercado. Embora os candidatos progressistas tenham grandes chances de vencer o pleito eleitoral diante do estrago causado após o golpe é preciso conquistar mais espaço para apresentar as propostas. Por enquanto estamos em desvantagem”.
Pochmann complementa ao dizer que novo neoliberalismo praticado por Temer não conta com o aval da população. “É diferente da política neoliberal dos anos 90 que teve a validação eleitoral. Hoje, com tantos desastres ninguém teria a audácia de defender em campanha um plano de desmonte completo como o que tem sido praticado. É neste contexto que as propostas progressistas devem ganhar força até as eleições”, conclui.
Por Henrique Nunes, da Agência PT de Notícias