Três meses depois do covarde assassinato de George Floyd, uma nova onda de protestos antirracistas varre diversas cidades americanas depois de uma tentativa de assassinato de um homem negro por um policial chocar o mundo. No domingo (23), na pequena cidade de Kenosha, Wisconsin, Jacob Blake, de 29 anos, foi alvejado sete vezes, à queima-roupa e pelas costas, enquanto tentava entrar em seu carro, onde os filhos estavam sentados. A tentativa de homicídio foi filmada por moradores locais. Blake está hospitalizado em estado grave e corre risco de ficar paraplégico.
“Eles atiraram em meu filho sete, sete vezes, como se ele não importasse”, afirmou o pai do rapaz, Jacob Blake. “Mas meu filho é importante. Ele é um ser humano e é importante”, balbuciou. Depois do ataque, centenas de pessoas protestaram em frente à sede da polícia. Duas noites de distúrbios se seguiram, com carros incendiados e confrontos de moradores com a polícia. O presidente Donald Trump anunciou o envio de mil policiais da Guarda Nacional e 200 policiais federais, incluindo integrantes do FBI, para combater “saques, incêndios criminosos, violência e ilegalidade nas ruas americanas”.
Mais uma vez, o branco Trump ignora a raiz secular do problema, o racismo estrutural que ameaça cada vez mais o simples exercício da cidadania, principalmente para populações vulneráveis, em sua maioria negros e hispânicos. Em suas declarações sobre o ataque, Trump não proferiu uma palavra de solidariedade à vítima ou manifestou-se sobre a psicopatia do policial autor dos disparos.
O silêncio de Trump não impediu os protestos de espalharem-se por território americano, ganhando ampla repercussão internacional, a exemplo do caso de George Floyd. Um crescente boicote de jogadores profissionais também levou à suspensão de jogos da ligas da NBA, WNBA, o torneio de tênis profissional, além das ligas de baseball e futebol.
Os protestos ocorreram em cidades como Portland, Oregon e Minneapolis, no Minnesota, onde George Floyd foi executado pela polícia em maio, espalhando o movimento ‘Black Lives Matter’ por cidades de todo o mundo.
Racismo estrutural
Segundo a principal fonte estatística dos EUA, o Departamento de Censo, todas as estatísticas mostram como comunidades negras ainda sofrem as consequências do racismo estrutural nos EUA.
De acordo com o departamento, as chances de um negro americano ser morto por um policial é muito maior em relação à população total. “Na verdade, em 2019, embora os afro-americanos representassem menos de 14% da população (de acordo com os dados do censo oficial), eles representaram mais de 23% dos pouco mais de mil tiroteios fatais cometidos pela polícia”, aponta reportagem da ‘BBC’.
O mesmo acontece nos índices de prisões por uso de drogas. Em 2018, cerca de 750 em cada 100 mil afro-americanos foram presos por abuso de drogas, em comparação com cerca de 350 americanos brancos. Por fim, o censo também releva que afro-americanos são presos a uma taxa cinco vezes maior que a dos americanos brancos e quase o dobro da dos hispano-americanos, de acordo com os dados mais recentes. Para cada 100 mil negros, mil estão encarcerados, contra 200 presidiários brancos para cada 100 mil pessoas.
Desemprego afeta mais negros
Com o agravamento da crise sanitária e mais de 30 milhões de pedidos de seguro-desemprego nos EUA, trabalhadores negros e de origem hispânica são os mais afetados. Segundo o think thank americano ‘Economic Policy Institute’, a taxa de desemprego entre negros, mesmo nos mercados de trabalho mais restritos, tem sido persistente e significativamente mais alta do que a taxa de desemprego dos brancos.
Entre os grupos analisados em separado, as mulheres negras são as mais atingidas, com uma taxa de desemprego beirando os 17% em abril, contra 12,8% do índice mais baixo, formado por homens brancos. Com o fim do auxílio emergencial, em julho, o quadro foi agravado.
“É puro e simples fato que um dos maiores problemas enfrentados pelos trabalhadores negros desempregados é que eles vivem em lugares com sistemas de seguro-desemprego simplesmente inadequados”, relatouJared Bernstein ao jornal The New York Times. Ele é um pesquisador do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas.
Isso ocorre em grande parte porque os trabalhadores negros vivem desproporcionalmente em estados com os níveis de benefícios mais baixos e maiores barreiras burocráticas para recebê-los.
Da Redação, com informações de ‘BBC, ‘NY Times’ e ‘Economic Policy Institute’