Partido dos Trabalhadores

PT acusa Damares de esconder dados da violência policial e entra com ação na Justiça

Ação popular da bancada do PT na Câmara acusa a ministra Damares Alves de esconder os dados sobre violência policial. Parlamentares denunciam que governo ofende princípios da legalidade e publicidade, omitindo informação e comportando-se de forma abusiva ao sonegar dados ao país

Dani Fi

Ato contra violência policial

A bancada do PT na Câmara protocolou ação popular contra a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, cobrando que seja anulada a decisão do governo federal de retirar os dados sobre violência policial do relatório divulgado com base em denúncias recebidas por meio do Disque 100 referentes ao ano de 2019.

Na ação, assinada pelo líder do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), e pelos deputados petistas Alencar Santa Braga (SP) e Reginaldo Lopes (MG), os parlamentares denunciam que a ministra ofendeu os princípios da legalidade e publicidade, omitindo informação pública e comportando-se de forma abusiva ao sonegar os dados sobre violência policial no país.

O relatório anual do Disque 100 vinha mostrando aumentos nas denúncias de violência policial nos últimos anos. Em 2016, houve 1.009 registros. Em 2017, o número aumentou 30%, para 1.319. Os dados em 2018 apontaram nova elevação, de 24%, para 1.637. Com a decisão de Damares, a sociedade brasileira ficou sem saber o número de denúncias recebidas pelo governo federal no ano passado.

Retrocesso

A retirada das informações sobre violência policial do relatório é, na opinião dos parlamentares, um retrocesso inadmissível. “Coloca em risco a necessária fiscalização que a sociedade e suas instituições e também os demais Poderes da República devem exercer sobre os atos governamentais e seus agentes”, questionam os parlamentares.

“A omissão desarrazoada e injustificável do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tem o objetivo claro e perverso de restringir, sem qualquer justificativa plausível, informações essenciais para a sociedade e o interesse público, deliberadamente obstadas pelo ato da ministra Damares, com a negativa de acesso ao público para fins de fiscalização por parte dos cidadãos, invertendo a regra democrática em prejuízo da sociedade e da cidadania”, argumentam os deputados do PT na ação protocolada na Justiça Federal do DF.

Omissão deliberada

“Dentre tantos absurdos que a sociedade tem suportado no atual governo, essa é mais uma medida que demonstra o descompromisso com a população, com a transparência, além de representar uma atitude antidemocrática”, denuncia a ação popular. “Ao omitir os dados de forma deliberada, o governo nos conduz à conclusão de que não tem política de controle dos órgãos policiais e abre caminho para uma permissividade desenfreada que pode ocasionar mais violência policial contra cidadãos inocentes”.

Verri, Alencar e Reginaldo Lopes observam também que o presidente Jair Bolsonaro é responsável direto pela “omissão deliberada” e o estímulo à violência policial no país. Eles lembram que, no ano passado, o presidente da República chegou a afirmar que achava um “absurdo” a condenação de policiais por “excesso”, pois, segundo seu entendimento, autos de resistência são um “sinal de que o policial trabalha e faz sua parte”.

“O controle do uso da força deveria ser a essência de qualquer Estado que se pretenda democrático e de direito. Todavia, o atual governo promove constantemente climas de tensão acerca do tema, suscitando mais violência nas ações conduzidas pelas polícias”, critica a ação popular.

Violência crescente

Segundo os deputados, especialistas acreditam que no ano passado os números foram expressivamente superiores. Em levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de mortes de pessoas por policiais militares e civis no País foi de 1,6% para cada 100 mil habitantes em 2015, o que representa 3.330 pessoas mortas. Em 2016, subiu para 2,0% (4.222 mortes). Em 2017, saltou para 2,5% (5.225 mortes). E, em 2018, o percentual alcançou 2,8% (5.716 mortes). Já em 2019, o percentual saltou para 2,9%, totalizando o número de 5.804, segundo as duas entidades.

Do PT na Câmara