Partido dos Trabalhadores

PT Conexões Brasil debate o futuro ante emergência climática e negacionismo

Primeiro programa da série, comandado pela presidenta Gleisi Hoffmann, abordou as mudanças climáticas e as causas e consequências do super-evento trágico no Rio Grande do Sul

Reprodução

Gleisi: “Se não tivesse essa visão fiscalista de estado mínimo, a gente evitaria grande parte da dor das pessoas que estão passando por essa tragédia”

A estréia na quarta-feira (21) do programa PT Conexões Brasil, pela TvPT, comandado pela presidenta nacional do partido, Gleisi Hoffmann, teve como tema o debate sobre a perspectiva de futuro diante a emergência climática e o negacionismo, em especial a tragédia que atinge praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul e o povo gaúcho.

O primeiro programa contou com a participação do deputado federal Nilton Tatto (PT-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara Federal, de Saulo Dias, secretário nacional de Meio Ambiente do PT, e teve como convidado especial o geólogo Rualdo Menegat, professor titular do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente Científico do Foro Latino-Americano de Ciências Ambientais, Cátedra Unesco para o Desenvolvimento Sustentável.

O programa também foi aberto à participação de telespectadores que puderam fazer perguntas aos debatedores a respeito do tema da emergência climática e suas consequências.

Clima não é somente chuva e temporais

O geólogo e professor Rualdo Menegat fez uma exposição científica a respeito do clima na Terra e suas implicações em todos os oceanos, rios e lagos, além do que ocorre com a atmosfera do planeta diante da incidência dos chamados gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global.

“O clima não é só chuva e temporais que ocorrem aqui e ali, quando falamos em clima devemos incluir nesse sistema todos os oceanos, rios e lagos, todas as geleiras continentais e a calota polar norte, parte superficial da litosfera, a biosfera inteira e a atmosfera. Nós, seres humanos, que fazemos parte da biosfera pertencemos ao sistema climático da Terra. Então, o que nós fazemos também pode interferir no clima”, explica o professor.

O deputado Nilto Tatto abordou então a dificuldade de entendimento da influência climática e citou os vários eventos naturais que vêm ocorrendo no país citando como exemplos o que ocorreu no litoral norte de São Paulo, no sul da Bahia, a seca na Amazônia, e mesmo em locais onde já havia seca ela agora ocorre de forma mais extrema. “Nós estamos em uma situação em que esses eventos vão continuar acontecendo, independentemente do que vamos fazer”, afirma Nilto.

O parlamentar levantou ainda a questão das conseqüências da interferência no meio ambiente que ampliaram a tragédia de grandes proporções no Rio Grande Sul, para as pessoas poderem entender que isso tem a ver com o assoreamento dos rios, a destruição das matas ciliares que implica na velocidade das águas. “Na verdade estamos assistindo a um aumento desses eventos nos últimos cinco, seis anos, não somente no Brasil, mas no mundo todo em relação à sua freqüência e intensidade”.

Para o professor Rualdo Menegat é difícil para as pessoas relacionarem o clima com os eventos meteorológicos , pois são escalas diferentes.

“Quando eu falo em clima, eu falo, por exemplo, na possibilidade de se mudar o nível dos oceanos. É uma coisa muito maior do que uma grande tempestade aqui e ali. Estamos falando dos grandes compartimentos líquidos, sólidos e gasosos do planeta e das mudanças do volume deles. Se a temperatura da Terra está aumentando um grau e meio centígrados, essa temperatura extra faz com que este grande compartimento atmosférico consiga acumular uma quantidade de vapor d’água muito maior. E como os oceanos estão mais quentes eles evaporam muito mais”, explica Rualdo.

Assista a íntegra do primeiro programa PT Conexões Brasil que foi ao ar nesta quarta-feira (21)

Capacitação social e diálogo

Como exemplo do efeito dessa mudança climática, o professor citou o primeiro furação que ocorreu no Atlântico Sul, o Catarina, em 2004, que afetou o litoral norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina.

“Por ser o primeiro ali no hemisfério sul, ele alertou a comunidade internacional. E esse super-evento aqui no Rio Grande do Sul traz um novo alerta, mais um incremento na mudança climática porque ele ocorre depois de 11 meses sucessivos de temperaturas máximas. Ou seja, 2023 foi o ano mais quente do registro histórico das medições de temperatura na superfície da Terra. A saber, é a maior catástrofe climática em uma região metropolitana no hemisfério sul”, enfatiza.

Rualdo defende a capacitação social e o diálogo para entender o fenômeno e não de negacionismo. “Esse sistema do clima em mudança vai nos situando e trazendo enormes desafios para entender e resituar a relação humana com a natureza, no sentido de entender que há algo ali que não é do nosso domínio doméstico. Nós precisamos de muito conhecimento, de muita capacidade social e de muita disposição para dialogar e entender esse fenômeno em vez de negá-lo. O negacionismo nos joga na ignorância”, alerta.

O secretário nacional de Meio Ambiente do PT, Saulo Dias, abordou justamente o controverso comportamento das pessoas que, mesmo diante do “desastre social” provocado pelos eventos climáticos, não conseguem mudar seus hábitos com relação ao meio ambiente. “Existem aquelas pessoas que negam por algum tipo de ideologia e existem as que negam por desconhecimento”, alega.

Rualdo Menegat entende que essa situação é complexa porque envolve “conhecimento e educação”. “Vamos ter que educar muito sobre o clima, porque em geral nós achamos que o céu que está sobre nossas cabeças pode mudar. A atmosfera é uma grande desconhecida da nossa cultura”, afirma ele.

Matas escassas e infraestrutura comprometida

Durante o debate, Menegat falou sobre as grandes emissões de gás carbônico em todo o planeta, principalmente nos grandes pólos industriais, e também pela incidência das queimadas que aumentam essas emissões. Ele citou as matas que, para ele, são importantíssimas na questão do clima, e observou que no Rio Grande do Sul nos últimos 20 anos houve uma larga diminuição das matas, além do uso intensivo do solo por conta das lavouras de monoculturas.

“Porto Alegre está num lugar impressionante do ponto de vista do encontro de águas. Então, a desestruturação dos serviços ecosistêmicos, a expansão das cidades, aumenta o volume do escoamento da água porque essa água não infiltra e também há a velocidade porque nada detém essa água porque não há florestas, não há matas, então os rios correm ligeiros”, esclarece.

Durante o debate, o professor e geólogo lembrou que para diminuir o sofrimento da população é preciso haver infraestrutura para garantir os serviços essenciais e criticou também o desmonte estatal que foi feito no Rio Grande do Sul.

“No ultimo período nós tivermos a privatização de grandes empresas, a Companhia de Energia Elétrica foi privatizada, a Corsan foi privatizada, o pior ainda aqui em Porto Alegre é que o departamento que cuida do sistema de proteção contra inundações, que foi criado após as enchentes de 1041, foi praticamente dissolvido e englobado no de águas e esgoto que está em vias de privatização”, critica.

A presidenta Gleisi Hoffmann reforçou a crítica à idéia do estado mínimo que prevalece em alguns governos e que tem como conseqüência a precariedade dos serviços à população. “Se não tivesse essa visão fiscalista de estado mínimo, do estado que não pode gastar e que tem de ser desmontado, a gente evitaria grande parte da dor das pessoas que estão passando por essa tragédia”.

“Amazônia é nosso destino”

Nas suas considerações finais o professor Rualdo Menegat reforçou o papel da educação para a conscientização das novas gerações com relação à emergência climática.

“Além do papel de informar sobre o clima, é encorajar os jovens, as crianças, a não verem as mudanças climáticas como uma fatalidade e sim como uma mudança a qual nós podemos fazer frente se nós tivermos capacidade social, inteligência social e se tivermos, claro, políticas públicas adequadas e pertinentes que discutam questões importantes e não apenas termos que confrontar com o negacionismo”, destaca.

Ele também finalizou alertando sobre a importância da Amazônia na questão climática.

“A Amazônia no passado era vista apenas como um repertório da natureza, mas neste momento nós chegamos a uma outra compreensão que é a importância dela para contribuir com o clima de todo o continente. Então, nós podemos dizer, com toda segurança, que a Amazônia é o nosso destino, o que acontecer com ela vai acontecer conosco.

Da Redação