Puxada pelo Brasil, epicentro da Covid-19, a América Latina passou a liderar o número de casos da doença no mundo. Contando com o Caribe, a região já responde por 4,34 milhões de infectados, à frente da América do Norte, que registra 4,23 milhões de casos. Cinco meses depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19, em 26 de fevereiro, a tragédia brasileira continua sua triste trajetória: nesta segunda-feira (27), foram confirmadas 87.131 mortes por coronavírus e 2.423.798 casos da doença, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa.
Mantida a média de mil mortes diárias nos próximos dias, o país deve ultrapassar a marca de 100 mil óbitos até dia 10 de agosto. Pela análise da evolução da crise sanitária nas últimas semanas, a previsão catastrófica deve se confirmar. 11 estados apresentaram alta de mortes na última semana e apenas seis indicaram queda nos índices de mortalidade. A região Sul concentra boa parte dos novos casos. Só Santa Catarina tem 68,7 mil casos confirmados e mais de 900 mortes. A taxa de ocupação dos leitos da rede pública de saúde passa de 80%.
Segundo o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde OMS), Tedros Adhanom, a pandemia do novo coronavírus é a pior emergência global já enfrentada pela entidade. “É a sexta vez que uma emergência de saúde global é declarada pelo Regulamento Sanitário Internacional, mas essa é facilmente a mais grave”, declarou o diretor. Ele lembrou que o número de casos praticamente dobrou nas últimas seis semanas.
De acordo com reportagem da ‘BBC News’, quase 40 países registraram recordes de infecções diárias por coronavírus. Na sexta-feira (24), o planeta também bateu outro recorde, acumulando 284.196 novos casos em 24 horas. Quase metade desse número foi registrado apenas no Brasil e nos EUA. “Não voltaremos ao ‘velho normal’. A pandemia já mudou a maneira como vivemos nossas vidas”, reconheceu o diretor-geral da OMS.
Decisões de vida ou morte
A Europa ainda lidera as mortes em decorrência da doença, com 207.933 óbitos até agora. A América Latina e Caribe aparecem em segundo lugar, com 182.840 óbitos e os Estados Unidos e Canadá, em terceiro, com 155.673. “Estamos pedindo a todos que tratem as decisões sobre aonde vão, o que fazem e com quem se encontram como decisões de vida ou morte – porque elas o são”, alertou ele. A pandemia já matou mais de 650 mil pessoas no mundo.
A Espanha voltou a registrar casos da doença, acendendo um alerta na Europa. O Ministério da Saúde espanhol anunciou 900 novas infecções apenas na sexta-feira. Especialistas demonstram preocupação com a alta circulação de turistas na região, o que pode provocar uma segunda onda do surto.
Isolamento, única arma
A perspectiva do aparecimento de uma vacina eficaz contra a doença ainda está muito distante no horizonte – especialistas mais otimistas falam em mais um ano de espera. Por isso, autoridades de saúde advertem que a única maneira de frear o impacto da pandemia ainda é adotar o uso de máscara e a prática vigilante do isolamento social Na semana passada, a prestigiada revista Science publicou um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros que demonstra a eficácia da quarentena no país, ainda que feita em condições precárias e de modo irregular.
De acordo com o artigo, as medidas de isolamento aplicadas no Brasil reduziram a taxa de contágio do vírus pela metade, de 3 para 1,6 contaminados por pessoa infectada. O estudo, coordenado pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), é uma continuação do primeiro sequenciamento genético do coronavírus no Brasil, realizado em fevereiro deste ano pelo IMT, em parceria com o Instituto Adolfo Lutz e a Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Propagação
De a acordo com a professora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT) da USP, a propagação do vírus ocorreu antes da adoção de medidas que a reduziram a mobilidade no país, como o fechamento do comércio e das escolas. “Isso quer dizer, a ausência de restrições de movimentação e de aglomerações pode ter facilitado o início da transmissão”, afirmou a especialista, uma das autoras do estudo, em entrevista ao Jornal da USP.
“Duas das linhagens entraram no Brasil pelo Sudeste e num primeiro momento se espalharam dentro dessa região, mas depois de 21 de março elas começaram a atingir Estados de outras regiões, com um aumento na migração do vírus”, atesta Darlan Cândido, pesquisador da Universidade de Oxford e do Instituto de Medicina Tropical, também um dos autores.
Para Ester Sabino, um dos maiores desafios do país é conseguir reduzir a taxa de transmissão do vírus para abaixo de 1, índice que indica um nível de controle, de acordo com autoridades de saúde. “Com o índice atual, a epidemia permanece crônica, podendo se manter por muito tempo”, prevê.
Da Redação, com informações da BBC e Jornal da USP