O fracasso da política econômica do desgoverno Bolsonaro está conduzindo o país a uma onda de quebradeira generalizada. Neste ano, o número de insolvências de empresas deve crescer 6%, mas em 2022 o salto pode chegar a 32%. E 90% das afetadas serão pequenas e médias empresas. A projeção é da consultoria Euler Hermes, líder mundial em seguro de crédito.
Em reportagem do Valor Econômico, o chefe de Pesquisa de Insolvência da Euler Hermes, Maxime Lemerle, afirma que, até o momento, o Brasil não reverteu a tendência de alta de insolvência ao longo de 2021. Segundo ele, antes da pandemia, em 2019, houve 2.887 companhias insolventes. No ano passado, por conta das medidas anticíclicas aprovadas no Congresso Nacional, o número de falências caiu 28% e ficou em 2.078. Agora, deve subir novamente.
“Esperamos um aumento moderado até o fim do ano, o que levará o resultado anual para 2.200 casos, e um aumento mais notável em 2022, puxando o número de ocorrências para 2.900”, diz Lemerle, ressaltando que a situação é mais grave para as pequenas e médias empresas. Estas representam mais de 90% do número total de insolvências até agora, em comparação à média de 85% antes da pandemia, aponta o consultor.
No resto do mundo, as empresas são mais bem protegidas. Os economistas da seguradora projetam uma alta global de insolvências em 2022 na casa dos 15%, menos da metade do esperado para o Brasil. Além disso, tanto em 2020 quanto em 2021, houve queda no total de falências apresentou queda de 12% e 6%, respectivamente. A extensão de medidas de apoio governamental e política monetária foi a chave para o resultado.
“Uma intervenção estatal maciça evitou uma em cada duas insolvências na Europa Ocidental e uma em cada três nos Estados Unidos em 2020”, apontou Lemerle. “Sua extensão manterá as insolvências em um nível baixo em 2021, mas o que acontecerá a seguir depende de como os governos agirão nos próximos meses.”
Agora política permanente, Pronampe ainda tropeça
Principal política pública brasileira para os pequenos negócios, maiores empregadores do país, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) ainda sofre com a insuficiência de recursos.
Proposto pelo Senado, o Pronampe foi criado pela Lei 13.999 em maio de 2020, mas só foi implementado em agosto. A modificação de seu status para política permanente tornou-se bandeira dos partidos de oposição, que tentaram aprovar a mudança antes de 31 de dezembro do ano passado, quando a vigência do programa expirou.
O Senado só conseguiu aprovar o Projeto de Lei (PL) nº 5.575/2020 em 11 de maio deste ano, iniciando a contagem do prazo para o Executivo sancionar e regulamentar a lei. Mas no ministério do banqueiro Paulo Guedes as prioridades sempre foram outras. A regulamentação foi postergada ao limite e Guedes, que ao longo da pandemia confessou querer salvar os grandes negócios ao invés dos pequenos, libera dinheiro a conta-gotas.
Segundo o Ministério da Economia, o Pronampe atingiu até o momento R$ 61,2 bilhões em mais de 833 mil operações para pequenas e micro empresas. No primeiro ano, foram liberados R$ 37,5 bilhões, em mais de 516 mil operações e, neste ano, R$ 23,7 bilhões, para 316 mil operações.
Conforme o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 5 milhões de empresas se qualificam para pegar créditos no Pronampe. Caso todos os negócios enquadrados pegassem empréstimos, seriam necessários de R$ 160 bilhões a R$ 200 bilhões para atender a todos os demandantes.
Mas se falta dinheiro do Pronampe para todos, não falta para amigos e aliados da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Além dos esclarecimentos sobre as contas “offshore” que mantém em paraísos fiscais, Guedes também terá que se explicar sobre as liberações de empréstimos da Caixa Econômica para esse pessoal no âmbito do Pronampe. A presidenta Nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), enviou requerimento ao Ministério da Economia cobrando esclarecimentos.
Dilma denuncia agenda neoliberal e neofascista
Na noite desta quinta-feira (7), enquanto Jair Bolsonaro atacava na live semanal as medidas de isolamento social para justificar sua catástrofe econômica, a ex-presidenta Dilma Rousseff apontava ao jornalista Juca Kfouri os verdadeiros responsáveis pela decadência brasileira. “Eles fizeram todas as bobagens do mundo”, resumiu.
O cumprimento “à risca” da agenda neoliberal, agravado pelo método “neofascista” do autoritarismo bolsonarista, antípoda da institucionalidade democrática, cria um ambiente de constante instabilidade que depaupera a economia, analisou Dilma.
A redução da taxa de crescimento, a despreocupação com a infraestrutura e a falta de empenho em proporcionar desenvolvimento econômico e social se somaram ao atrelamento de preços como dólar e petróleo às flutuações negativas internacionais para terminar de contaminar a economia. Desse conceito e método de governo resultam absurdos como a inflação galopante e o risco de apagão, concluiu a ex-presidenta.
Da Redação