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Que palavrão é esse? | O que é IPCA, commodities, inflação e outros termos que afetam a sua compra no supermercado

Poder de compra, aumento real, câmbio, petróleo tudo isso misturado na hora de falar do preço do arroz. Tem um jeito mais fácil de entender? Tem. É o que buscamos fazer nesta série de matérias.

Não precisa ser formada em economia para saber que a inflação comeu o salário, os preços aumentaram e está mais caro viver. Mas o noticiário, quando se trata de economia, usa termos pouco intuitivos para explicar a crise econômica e o aumento dos preços. 

Se somarmos o mar de fake news promovido pelo gabinete de ódio, com tanta desinformação circulando, fica difícil entender o que realmente está pesando no preço dos produtos nas prateleiras.

Quem mais sofre com a crise econômica são as mulheres, porque vivem na pele e levam nas costas a verdadeira economia nacional.

Então, se é preciso conhecer o inimigo para combatê-lo, preparamos essa série para decifrar o “economês” e entender o que faz nossa compra de supermercado ficar tão mais cara dia após dia.

Conversamos com Adriana Marcolino, técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e juntas buscamos traduzir esses palavrões tão usados que doem tanto no bolso. 

O que é IPCA?

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo é uma forma de medir a inflação. Em outras palavras, é uma forma de saber se as famílias brasileiras estão gastando mais ou menos dinheiro para adquirir certos produtos. Se elas estão gastando mais para comprar a mesma quantidade de coisas, tem mais inflação.

Como é medido o IPCA?

O IBGE vai na casa de várias famílias, de diversas rendas, em várias regiões do país, e vê durante o mês o que essas pessoas gastam. Não apenas a quantidade, mas também com o quê elas gastam: moradia, transporte, supermercado, alimento, vestuário, produtos, serviços. E criam uma “cesta média” da família brasileira.  Todo mês, os técnicos do IBGE vão pra rua fazer esse levantamento. Se ficou mais cara, se ficou mais barata, se entrou produto, se saiu produto. E aí é calculado o índice de inflação, o IPCA.

Só um ponto importante: o problema da “média” é que a pesquisa é feita com famílias cujas rendas variam entre 1 e 40 salários mínimos. Ou seja, as famílias mais pobres sentem com mais peso a variação do IPCA do que as famílias mais ricas. Se num determinado mês uma família rica deixa de pagar o clube de campo, para a família pobre pode significar ter ou não comida no prato para as crianças.  

Como são definidos os preços dos produtos no supermercado?

No Brasil, tem dois fatores principais.

Um é o custo de produção. Ou seja, todo custo envolvido em produzir, transportar, armazenar e disponibilizar qualquer produto + o lucro da empresa = definem o preço.

O outro diz respeito aos produtos cotados no mercado internacional.

No jornal, eles usam o termo commoditties , mas é basicamente trigo, arroz, milho, soja, açúcar, carne, combustíveis, metais — ou seja, a base da alimentação brasileira. Só com esses produtos já quase enchemos o carrinho.

O preço das commodities é e ajustado de acordo com o mercado internacional. Se o milho lá fora estiver com um preço maior, o produtor vai querer vender lá fora e não no Brasil. Ou ele vai querer aumentar o preço aqui também. E acaba causando um “desajuste” nos preços, no bom português, fica mais caro mesmo.

O governo tem como controlar os preços dos produtos no supermercado?

Sim! (mas não se animem, o governo Bolsonaro claramente não aplica medida alguma)

Como?

O governo poderia intervir fazendo “estoques reguladores” (CONAB). O governo compra e estoca grandes quantidades de alimentos que são base da nossa economia (trigo, milho, arroz) e que afetam diretamente a vida e o bolso das trabalhadoras.

Por exemplo, quando o preço do arroz está muito alto, o governo coloca no mercado o produto que está no estoque e acaba regulando o preço, deixando mais barato, para a consumidora final.

Até três anos atrás, o país tinha um estoque regulador robusto. No entanto, com o governo Bolsonaro, nosso estoque é irrisório — deixando o país ainda mais vulnerável a crises internacionais e dando aquele susto na hora que a gente chega na prateleira e vê o preço do saco de arroz.

Por isso, muitas famílias chegam ao ponto de ter que comprar farelo de arroz, com baixo valor nutricional, para conseguir garantir o mínimo para sobreviver.

E tem como “se livrar” desse tal de ‘mercado internacional’ que encarece as coisas?

No caso dos alimentos, a saída é investir nos trabalhadores e trabalhadoras rurais. No entanto, o governo Bolsonaro praticamente acabou com as políticas de promoção da agricultura familiar, que é de fato quem produz a maior parte dos alimentos no Brasil. A agroindústria produz mais voltada para o mercado internacional (as tais commodities, que já explicamos).

O governo também poderia ampliar o número de feiras, ampliar os programas de aquisição de alimento para garantir merendas nas escolas, promover hortas urbanas, reduzir o tamanho das cadeias da produção de alimento. O governo poderia fazer, mas não faz.

E quando o governo não faz nada, a inflação sobe?

Sim.  Tem um componente da crise pandêmica, mas a falta de um conjunto de políticas que possa intervir em cada um dos fatores faz com que os preços subam e a inflação aumente. E para completar, ainda tem a política de preço da Petrobras.

Ôpa, você falou Petrobras. O que o petróleo tem a ver com o preço dos produtos no supermercado?

O preço alto do petróleo não afeta só quem compra botijão de gás (que já é bastante gente) ou quem vai direto na bomba de gasolina encher o tanque do carro.

Tudo que você consome no supermercado alguém precisou do petróleo para transportar ou para produzir a embalagem.  Ele é o insumo básico para praticamente todos os produtos, porque ele está presente em todas as cadeias de produção. Se sobe o preço de um elo da cadeia, sobe o preço de tudo.

Nos governos do PT, havia a política de controle de preço. Depois do golpe contra a presidenta Dilma, Temer mudou a política e o petróleo é reajustado pelo preço internacional. Com Bolsonaro, essa política permaneceu e piorou ainda mais por conta das mudanças no câmbio.

Quer entender esse monte de palavrão de câmbio, barril de petróleo, botijão de gás e saber como desfazer a mentira de que a culpa pelo aumento do preço absurdo da gasolina é do ICMS e dos governadores? Semana que vem, tem mais. 

Ana Clara Ferrari, Agência Todas