Em meio ao agravamento da pandemia, que neste final de semana totalizou quase 395 mil mortos e mais de 14,5 milhões de infectados no país, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, buscou responsabilizar estados e municípios por problemas na entrega de vacinas pelo governo federal. Ele negou que o Ministério da Saúde tenha reduzido o número de doses, mas admitiu que o governo enfrenta dificuldades para administrar a segunda dose da vacina.
Queiroga compareceu à sessão da Comissão Temporária da Covid no Senado e admitiu que o governo excluiu da lista de imunizantes a serem entregues aquelas ainda não autorizadas pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). A ida ao Congresso ocorre um dia antes do Senado instalar a CPI da Covid. O senador Humberto Costa (PT-PE), que integra a comissão, reiterou as críticas ao governo. “Isso mostra o absoluto desprezo, falta de planejamento, menoscabo com que essa tragédia vem sendo tratada por Jair Bolsonaro”, disse o parlamentar.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), suplente da CPI, voltou a acusar o presidente da República de ter atuado de maneira deliberada para ampliar o contágio da população como forma de estimular uma “imunidade de rebanho”. “Na CPI, pretendemos apontar que o presidente sistematicamente expôs o povo à morte para cumprir essa tese”, lembrou o parlamentar, em entrevista ao jornalista Leonardo Sakamoto, do UOL. Queiroga disse no Senado que o Brasil não precisa de “polêmica” e que é necessário “passar uma mensagem harmônica à sociedade”.
Na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro voltou a ameaçar o uso do Exército contra os governadores que vêm recomendando medidas de distanciamento social. “Estão seguindo o artigo 5º da Constituição? Está sendo respeitado o direito de ir e vir, o direito de a pessoa ter um emprego, ocupar o tempo para exercitar a sua fé? É só ver se isso está sendo respeitado ou não”, disse em Conceição do Jacuípe, a 102 km de Salvador). Ele lembrou que o papel das Forças Armadas é garantir o cumprimento da Constituição.
Na audiência pública no Senado, o ministro também criticou administradores de estados e municípios. “A aplicação da segunda dose tem sido um pedido de governadores e prefeitos e agora, em face do retardo de insumo vindo da China ao Instituto Butantan, há uma dificuldade na aplicação desta dose”, declarou. “Se nós respeitássemos o nosso Plano Nacional de Imunização, iria melhor. Ocorre que há a inclusão de um grupo (prioritário) ou outro e isso termina por alterar a harmonia do programa e atrapalha o nosso processo de vacinação”.
A comissão sabatina o ministro sobre o PNI, que tem sofrido com as constantes mudanças nos prazos de vacinação contra o novo coronavírus estipulados pela própria pasta. Após ser questionado pelos senadores sobre as constantes mudanças nos prazos de entrega dos imunizantes contra a Covid-19, Queiroga jurou que o ministério não reduziu as metas de vacinação. “O que nós fizemos foi retirar o calendário anteriormente colocado daquelas vacinas que estavam sem aprovação da Anvisa”, admitiu.
Com relação à disponibilidade de vacinas à população, o ministro reclamou da imprensa. “O Brasil é o quinto país que mais distribui doses de vacinas e ficam as pessoas aí na mídia criticando o tempo inteiro a campanha nacional de imunização, passando uma mensagem desencontrada para a sociedade brasileira”, desabafou. Ele também se defendeu das críticas que sofreu quando o ministério divulgou nota técnica sobre a racionalização do uso do oxigênio hospitalar. Queiroga criticou a divulgação “incorreta” do documento.
Sobre o relacionamento do Brasil com as organizações multilateriais do sistema das Nações Unidas e, em especial, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ministro garantiu que o governo mantém a “melhor relação possível”. “Inclusive, o presidente (sic) Tedros Adhanom – (diretor geral da OMS), em sua conta no Twitter, já publicou a excelente relação que tem comigo e com o embaixador Carlos França. E essa relação não é comigo e nem com o diplomata, mas com o nosso país, o Brasil”, declarou.
Do PT no Senado