Nada de pandemia, crise global, STF, governadores ou “fique em casa”. As manobras evasivas de Jair Bolsonaro para camuflar suas próprias responsabilidades na tragédia brasileira estão se esgotando. Apesar de todas as tentativas retóricas – algumas até patéticas – 75% da população do país atribuem diretamente a ele a culpa pela carestia fora de controle e disseminada por toda a economia.
O dado, de pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta segunda-feira (28) pela Folha, repete o da sondagem anterior, de setembro de 2021, quando o mesmo percentual de entrevistados demonstrou já não acreditar mais nas falácias bolsonaristas. A sondagem foi realizada terça (22) e quarta-feira (23) da semana passada com 2.556 eleitores em 181 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A proporção de entrevistados que atribuem muita responsabilidade ao desgoverno Bolsonaro caiu de 41% para 36%, enquanto a fatia que atribui um pouco de responsabilidade subiu os mesmos 5 pontos percentuais, de 34% para 39%. O contingente que não via nenhuma responsabilidade também caiu, de 23% para 21%, talvez como reflexo da perda de terreno inclusive na base bolsonarista.
Entre os eleitores declarados do ex-capitão, os mesmos 75% da pesquisa geral acreditam em sua responsabilidade pela escalada dos preços. Entre outros grupos que votaram em peso no mito mitômano, o descontentamento também é grande: 72% dos evangélicos, 75% dos moradores do Centro-Oeste (terra do agronegócio) e 79% dos moradores da região Sul culpam Bolsonaro pela carestia – agora oficialmente fora do controle.
Alguns dias após o Banco Central (BC) “independente” jogar a toalha e afirmar que há “probabilidade de 88% a 97%” de um estouro da meta inflacionária pelo segundo ano consecutivo, seu presidente, Roberto Campos Neto, admitiu o fracasso das políticas neoliberais adotadas desde o golpe de 2016.
“Quando enumeravam as razões apontadas para o baixo crescimento, lá em 2014, vinha que precisávamos de reforma da Previdência, tributária, trabalhista, uma lei de eficiência econômica, outra para o mercado de gás, precisávamos de infraestrutura.” afirmou em participação no programa Canal Livre, da BandNews. “Se eu fizer uma lista de 20 itens de que precisávamos e for ver o que foi feito, boa parte da lista foi endereçada. A projeção tinha que melhorar, subir, mas caiu.”
Caiu como uma bomba em cima da população, isso sim, e a resposta tem vindo nas pesquisas. “O povo tá sentindo na pele e tá vendo bem quem é o presidente que mentiu 5.110 vezes até agora e cria cortina de fumaça toda vez que quer desviar o assunto”, disse a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em postagem no Twitter.
Bolsonaro jamais controlou a inflação
Inflação acima da meta é um dos “legados” destrutivos de Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Já ao fim do primeiro ano do mandato, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia acelerado para 1,15%, maior taxa para dezembro desde 2002, quando FHC foi o derrotado pela carestia.
Considerado a inflação oficial do país, o IPCA fechou 2019 em 4,31%. Apesar de acima do centro da meta (4,25%), ainda ficou abaixo do teto (5,75%). O mesmo ocorreu em 2020, quando o indicador subiu pelo segundo ano consecutivo, para 4,52%.
Em 2021, a alta de 10,06% obrigou o presidente do BC “independente” a escrever uma carta justificando o estouro acima do teto e estendeu as expectativas de mais carestia para pelo menos até o fim de 2022. Mesmo com a escalada da taxa básica de juros (Selic), promovida desde março de 2021 pelo Comitê de Política Monetária (Copom), de 2% para 10,75% ao ano, que travou de vez uma economia já completamente desarranjada pelas medidas neoliberais dos governos do golpe.
Embora Campos Neto costume consultar os pares do mercado financeiro sobre as “tendências” da economia, sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1% para este ano é a metade da projeção de bancos e corretores: 0,50%. O mercado também aposta em Selic a 11,75% – e economia estagnada – até o fim de 2022.
No Boletim Focus desta segunda-feira (28), os analistas do mercado financeiro aumentaram ainda a estimativa para a inflação anual, pela décima vez consecutiva, de 6,59% para 6,86%. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta para este ano é de 3,5%, com intervalos entre 2% e 5%. Mas desde 2021 esses analistas já previam mais inflação acima do teto da meta em 2022.
Na última sexta-feira (25), o IPCA-15, espécie de prévia da inflação mensal, superou as projeções do mercado e apresentou alta de 0,95% em março, maior resultado em sete anos. A inflação acumulada em 12 meses (10,79%) está acima de 10% desde setembro de 2021, justo quando cresceu o percentual de entrevistados no Datafolha que atribuem a Bolsonaro a culpa pela carestia. O povo não é bobo.
Da Redação