A constatação de que a população negra do início do século XX sofreu exclusão do mercado de trabalho na cidade de São Paulo é o resultado de quatro anos de pesquisa que agora foi transformada em livro.
O estudo foi realizado por Ramatis Jacino, histórico militante petista da luta contra a discriminação racial. A base do trabalho foram mais de 50 mil boletins de ocorrências emitidos entre 1912 e 1920, além de jornais, processos e outros documentos do período, encontrados no Arquivo do Estado de São Paulo.
“Com o final do período escravista, todos os documentos foram proibidos de apresentar a cor da pessoa e eu precisava desse tipo de material, e que além disso tivesse a profissão dessas pessoas. O único documento que ainda possui esses dados é o boletim de ocorrência policial, então foi onde pesquisei em torno de 55 mil boletins para realizar meu trabalho” explicou.
De acordo com o autor, o livro procura traçar um perfil da maneira de como se deu essa transição do trabalho escravo para o mercado de trabalho, do ponto de vista do comportamento das elites e do ponto de vista dos trabalhadores negros em especial.
“Historicamente houve uma série de fatores que impediram que os negros realizassem trabalhos valorizados socialmente e bem remunerados” comentou Ramatis.
A busca por razões e mecanismos dessa exclusão, o petista constatou que houve uma opção por “branquear” o mercado de trabalho por parte das elites. “No final do século XIX houve um conjunto de elaborações acadêmicas, que afirmavam que o Brasil não iria evoluir tendo maioria de brancos e índios por isso houve a importação de imigrantes europeus” argumentou.
Transição e Exclusão – O negro no mercado de trabalho em São Paulo pós abolição – 1912/1920 foi lançado pela Nefertiti Editora como resultante do trabalho de doutorado de Ramatis Jacino na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências humanas da Universidade de São Paulo.
(Janary Damascena da Agência PT de Notícias)