Mais de seis meses depois do início do surto de coronavírus, o Brasil registra uma pequena queda do platô médio de mortes por Covid-19. Ainda alta, a média oscilou entre 800 e 900 óbitos nas duas últimas semanas. Especialistas alertam, entretanto, que um afrouxamento das medidas de controle da pandemia poderá levar o país a passar por uma segunda onda de casos e mortes nas próximas semanas, a exemplo de outras nações, como Espanha, França, Portugal, Alemanha e Israel. Várias capitais voltaram a ter aglomerações, com praias, bares e parques lotados. Nesta segunda-feira (14), quando o consórcio de veículos de imprensa contabiliza 131.736 óbitos e 4.335.066 casos da doença, o Rio de Janeiro anunciou a reabertura de cinemas e teatros.
Segundo o pesquisador da plataforma Covid-19 Analytics, Henrique Pires, o quadro é de estabilidade alta, não de queda. “A aplicação do nosso modelo para o Brasil todo continua mostrando que a tendência do número de novos óbitos está estável. Não está caindo”, confirmou o especialista ao Correio Braziliense.
“A impressão que dá é que o que está puxando [a queda nacional] para baixo é o estado de São Paulo. Alguns estados ainda estão subindo, mas o impacto de São Paulo é forte porque é muito populoso. E outros locais não estão com a aceleração inicial”, disse o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo, em depoimento ao jornal El País.
As estatísticas confirmam que o brasileiro vem relaxando quanto aos cuidados com o risco de uma contaminação. De acordo com análise da plataforma de pesquisa InLoco, nenhum estado atingiu índices de isolamento social acima de 40%.
“A sociedade precisa discutir é o que é prioritário. Uma coisa que o Brasil e os Estados Unidos parece que não conseguem fazer”, argumentou Lotufo. “É prioritário abrir escolas ou shoppings? Você precisa ter um controle geral do contágio. Se abre uma coisa, vai diminuir a chance de reabertura de outra”, disse.
Para o pesquisador, o quadro atual não é muito diferente do que era em abril ou maio. “O Brasil patina muito para conseguir compreender a pandemia”, ressaltou. “Ainda testamos muito pouco e nossos testes são usados para confirmar casos, mas não para controlar epidemias”, justificou.
A temida segunda onda na Europa
No final da semana passada, um sinal de alerta foi acionado na Espanha. O país registrou mais de 12 mil casos em 24 horas, o maior aumento diário desde o começo do surto. Um dia antes, o Ministério da Saúde espanhol havia divulgado o registro de mais de 10 mil novas infecções. O quadro é preocupante porque as escolas reiniciaram as atividades na semana passada, após seis meses fechadas.
Portugal também foi obrigada a endurecer as medidas de restrição de circulação de pessoas devido a um novo aumento de casos e mortes pela doença. A partir desta terça-feira (15), bares e restaurantes funcionarão com horário reduzido e menor número de pessoas. Também estão proibidas aglomeração de mais de quatro pessoas em qualquer estabelecimento localizado a 300 metros de escolas.
Já o governo de Israel anunciou um lockdown – bloqueio total das atividades – durante três semanas para conter a escalada do vírus. O país tem anotado mais de 4 mil novos casos por dia. As medidas de confinamento poderão ser estendidas caso os índices de contaminação não sejam reduzidos.
A Alemanha também passa por uma segunda onda de infecções, depois de eficientes medidas de proteção adotadas pela chanceler Angela Merkel. Nas últimas 24 horas, o país divulgou a contaminação de 927 pessoas. Em meio ao aumento de casos da doença, uma onda de protestos contra medidas de restrição toma conta do país, com muitos manifestantes aglomerando-se sem máscara, como foi visto no final de semana em Munique e outras cidades.
Aumento de mortes
Nesta segunda-feira, o diretor para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o médico belga Hans Kluge, advertiu que uma segunda onda da doença no continente agravará a mortalidade em outubro e novembro. “Vai ser mais duro. Em outubro, em novembro, vamos observar uma mortalidade mais elevada”, observou.
“Escuto o tempo todo: ‘a vacina será o fim da epidemia’. Com certeza não”, afirmou Kluge.“Não sabemos se a vacina vai ser eficaz para todos os setores da população. Recebemos alguns sinais de que será eficaz para alguns, mas não para outros. E se precisarmos encomendar vacinas diferentes será um pesadelo logístico”, ponderou. O vírus da Covid-19 já infectou quase 30 milhões de pessoas e matou mais de 930 mil pessoas no mundo.
Da Redação, com El País e agências internacionais