O agravamento da crise sanitária no Brasil levou a agência internacional de notícias Reuters a divulgar nesta sexta-feira, 1º de maio, que o coronavírus está avançando com velocidade nas periferias e bairros mais pobres das cidades brasileiras. “Importado pelas elites brasileiras de férias na Europa, o novo coronavírus agora está devastando os pobres do país, invadindo bairros muito apertados, onde a doença é mais difícil de controlar”, denunciou.
A reportagem assinada pelos correspondentes Gram Slattery, Stephen Eisenhammer e Amanda Perobelli, replicada em 3,1 mil sites e veículos noticiosos em todo o mundo, inclusive pelo The New York Times, compila dados de saúde pública das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. De acordo com o texto, as informações sanitárias mostram uma mudança nas últimas semanas dos bairros ricos que semearam o surto nos arredores urbanos.
“A mudança coincidiu com um aumento nas mortes confirmadas de coronavírus, que agora são mais de 6 mil no Brasil”, relata a Reuters. “Muitos cientistas apontam o maior país da América Latina como o próximo ponto de acesso mortal do Covid-19. Pesquisadores do Imperial College, de Londres, estimam que a taxa de transmissão do Brasil nesta semana será a mais alta do mundo.
“A tendência revelada pelos dados complica a batalha do Brasil contra o vírus”, reportam os correspondentes. “Muitas favelas, como são conhecidos os labirintos de casas de blocos de concreto que constituem os bairros mais pobres, sofrem com a falta de água corrente, sistemas de esgoto e instalações de saúde”. A reportagem lembra que a presença do Estado é ínfima nesses bairros, com as quadrilhas de traficantes frequentemente colocando-se como a autoridade de fato.
Bolsonaro, o cético
“Isso torna as medidas de bloqueio difíceis de aplicar – mesmo se tivessem o apoio do líder cético do país, o presidente Jair Bolsonaro, que repetidamente fez pouco caso do coronavírus e descreveu medidas estaduais e municipais para retardar sua disseminação como extremas”, informa a Reuters.
A reportagem cita moradores em Brasilândia, bairro na periferia norte de São Paulo, que tem hoje o maior número de mortes por coronavírus na cidade. Eles disseram à Reuters que os bares ainda estão lotados e festas de dança ao ar livre atraem milhares de pessoas nos finais de semana. O relatório mais recente desta semana mostrou 67 mortes por Covid-19.
No Rio de Janeiro, os bairros do Leblon, Copacabana e Barra da Tijuca foram os primeiros a sofrer no início do surto no Brasil, registrando 190 casos confirmados até 27 de março. E, por outro lado, as áreas de baixa renda de Campo Grande, Bangu e Irajá haviam relatado apenas oito casos na época.
“Isso mudou na semana passada, com os bairros mais pobres registrando 66 novos casos, enquanto o trio mais rico registrou 55”, diz a reportagem. A Reuters observou a mesma tendência em Fortaleza, que tem mais de 25 mil casos.
A Reuters aponta que, apesar do crescente número de mortos, estão aumentando as solicitações para que medidas de bloqueio sejam relaxadas. “Bolsonaro pressionou para reiniciar a economia, descrevendo as políticas de confinamento locais como um veneno que poderia matar mais com o desemprego e a fome do que com o vírus. “Nos bairros pobres, onde a fome é uma ameaça aguda, poucos estão aderindo às medidas de quarentena”, relata a agência.