“É uma revista muito ligada ao sistema financeiro internacional”, disse a presidenta Dilma Rousseff (PT), em entrevista à imprensa, na quinta-feira (16). Ela se referia à matéria da revista britânica “The Economist” que estampou na edição desta semana a chamada “Por que o Brasil precisa de mudanças”. A reportagem vincula as tais mudanças à vitória do candidato Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República.
No entanto, a posição historicamente tendência neoliberal da revista, assim como a do tucano, é duramente criticada por diversos economistas, no Brasil e no mundo.
A publicação inglesa trata do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais e faz uma relação enviesada com os protestos de junho de 2013. Lá pelas tantas, deduz: “Era de se esperar que os brasileiros dispensassem Dilma já no primeiro turno”. Daí, classifica o voto em Dilma de “absurdo” resultante de uma certa “gratidão popular”.
No texto, contra que “pleno emprego, maiores salários e uma série de programas sociais eficientes, como casas a preços populares, bolsas estudantis e programas de eletricidade e água no Nordeste” são verdadeiras conquistas, mas pouco “palpáveis para a economia”.
Para o diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e economista da Unicamp, Ricardo de Medeiros Carneiro, a revista, além de possuir um total alinhamento com o sistema financeiro internacional, desconhece as iniciativas do governo do PT. “Refiro-me ao programa de investimento em infraestrutura por meio de concessões e investimento público e o pré-sal, que se somarão ao eixo social para assegurar o dinamismo da nossa economia”, afirma Carneiro.
Outra explicação da “The Economist” para justificar os votos em Dilma vem acompanhada de terrorismo econômico: “Isso ocorre porque os brasileiros ainda não sentiram o arrepio econômico em suas vidas. Mas, em breve, eles sentirão”, ameaça a revista, caso o PT continue na presidência.
Ainda de acordo com a revista, a chegada de Aécio no Palácio do Planalto “tornaria concreta as medidas que o capital financeiro tanto aspira”. Diz, ainda, ter sido um erro o tucano ter permitido a descoberta da construção, com dinheiro público, do aeroporto em Cláudio (MG), em terras da família da família Neves. Agora, eles esperam que, “com sorte”, novos escândalos não apareçam para atrapalhar a vitória do candidato.
Neoliberalismo – O economista da Universidade de Sorbonne Paris 13, Dominique Plihon, um dos maiores estudiosos do chamado “capitalismo com dominância financeira”, é contra o sistema neoliberal defendido pelos tucanos. Para ele, aqueles que defendem o neoliberalismo torcem por uma sociedade totalitária. “Neoliberalismo é o oposto da democracia”, diz Plihon.
Em entrevista ao portal Brasil Debate, Plihon afirma que o Brasil é um país importante para construção da ordem mundial. “Os dirigentes europeus atuais são uma catástrofe para a ordem econômica mundial. Eles são fascinados pela ideologia neoliberal, pela competição, e não pela cooperação, pela solidariedade entre os países”, pontuou.
Por isso, o economista francês considera um retrocesso o Brasil ainda votar em candidatos voltados para esta vertente econômica. “Se um candidato neoliberal ganhar no Brasil, certamente ficarei triste pelos brasileiros, mas também triste pela ordem internacional”, avisou. Precisamos de líderes que saibam resistir às grandes potências, ao setor financeiro, e não que sejam seus aliados. Vejo as eleições no Brasil com muito interesse e não escondo minha preferência por Dilma”.
Dominique Plihon tem longa experiência profissional no Banque de France e é atualmente porta-voz do ATTAC – associação que defende a taxação das transações financeiras internacionais.
Esta não foi a primeira vez que a “The Economist” se declarou em prol dos tucanos. No pleito de 2010, a revista defendeu que José Serra (PSDB) “seria um presidente melhor do que Dilma Rousseff”. Os bons desempenhos do Brasil, tanto social quanto economicamente, têm provado o oposto.
Por Alessandra Fonseca, da Agência PT de Notícias