Leio em sites e nas redes sociais sobre o ato em defesa do jornalista Glenn Greenwald, na sede da ABI no Rio, na terça 30 de julho: nunca, nem mesmo durante a ditadura militar, o local reuniu tanta gente. No mesmo dia e horário, em Belo Horizonte, participei de ato semelhante, na Praça Sete, região central da cidade. A presença de milhares de pessoas confirmou que a insatisfação com o governo Bolsonaro é grande e, mais importante, é crescente e ininterrupta.
Jair Bolsonaro está conseguindo superar mesmo as expectativas mais pessimistas sobre seu governo — e olha que esses prognósticos eram os piores possíveis. Impõe ao orçamento cortes que atingem áreas sensíveis, como a educação e saúde, impactando diretamente a vida de milhões. Ao mesmo tempo, a economia patina e não dá sequer margem para esperança de melhora. Consciente dessa equação desfavorável, Bolsonaro apela a factoides para agradar seu eleitorado cativo, extremista da ultradireita e dado a extravagâncias assustadoras, como a ausência de quaisquer políticas públicas, substituindo-as por ações de corte voluntarioso e gerido por milícias na economia e no dia a dia da população.
Tal situação gera a constatação de insucesso precoce do governo Bolsonaro — conclusão agravada pela Vaza Jato, que expôs e expõe a todos, de forma indubitável, o caráter ilegal da operação levada a cabo por procuradores partidários e pelo ex-juiz e hoje ministro Sergio Moro. “Não tem como dar certo”, é como se dissessem todos, numa alusão inversa ao projeto de “união nacional” tentado pela burguesia nacional nos primeiros meses do Plano Cruzado, no já distante governo Sarney (início de 1986, quando foi criado o bordão “Tem que Dar Certo”).
Se “não tem como dar certo”, é hora de pular fora. É o que fazem próceres da direita brasileira que deram suporte eleitoral a Bolsonaro no ano passado, como o governador de São Paulo, João Doria. Ou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que ao gravar vídeo em apoio ao jornalista Glenn Greenwald revelou as diferentes nuances hoje existentes no campo que abrange o centro, a centro-direita e a direita nacionais. É o caminho trilhado por parte já majoritária da grande mídia nacional, que também já pressente a agonia da “era Bolsonaro”.
A palavra “impeachment” já é soletrada com frequência em artigos escritos por autores das mais diferentes correntes de opinião. Bolsonaro joga mais gasolina nesse fogo, proferindo, agora em ritmo diário, as mais absurdas opiniões sobre a vida nacional. Vê estreitar-se sua maré de apoio na população, confinando-se quase que exclusivamente aos setores politicamente mais retrógrados e atrasados.
É fundamental que o campo popular, reunindo as agremiações de esquerda e centro-esquerda (PT, PSol, PCdoB, e também o PSB, PDT e Rede), além de coletivos e associações progressistas em todo o país, mostre sensibilidade a esse momento.
A direita brasileira fará tudo para garantir a continuidade do programa macroeconômico de Bolsonaro, consolidando a reforma da Previdência e outras reformas antipopulares e sobretudo garantindo a continuidade do processo de venda das empresas públicas ao capital internacional. Se não dá com Bolsonaro, que seja com seu vice ou alguma alternativa institucional de ocasião (sempre há para quem tem pouco compromisso histórico com a legalidade democrática, lembremos).
As revelações da Vaza Jato demonstraram, mais uma vez, que a extrema direita brasileira, aliada aos interesses econômicos da centro-direita, fraudaram a escolha popular em 2018. As pesquisas de opinião já demonstram insatisfação com os rumos trilhados por Bolsonaro. Não apenas com seu jeito histriônico de ser, mas também com as políticas que, aos trancos e barrancos, vem executando — os cortes orçamentários na Educação são o melhor exemplo, ao reunirem contra si milhões de brasileiros em manifestações por todos os estados.
É hora de avançar na luta. À resistência que desempenhamos bem no primeiro semestre, convém acrescentar posições mais ofensivas. Por isso precisamos de mobilização popular. Incentivar, juntamente com a luta institucional no Congresso e outras instâncias institucionais, a participação do povo, que demonstra impaciência com o governo.
Os atos programados para o próximo 13 de agosto, com ênfase na Educação e defesa da aposentadoria, serão excelente indicativo dessa nova fase de luta. Aliaremos ao “Fora Bolsonaro”, a cada dia mais consensual em diferentes parcelas da vida nacional, a consciência de que é o projeto representado pelo atual governo que está em xeque. E que só se tornou vitorioso eleitoralmente graças a um processo fraudulento, movido a notícias falsas patrocinadas por muito dinheiro e principalmente movido a denúncias politicamente construídas pela dupla de criminosos Deltan Dallagnol e Sergio Moro. A bandeira Lula Livre precisa estar presente em todas estas atividades, pois a prisão de um inocente e maior líder popular do Brasil foi e é a síntese do golpe contra Dilma e a democracia.
“Impeachment” já é uma palavra não apenas aceita, como possível e que tende e precisa ganhar as ruas desde já.
Que seja um “impeachment popular”, exigido e construído pelo povo em suas mobilizações. Essa luta vai nos diferenciar da briga institucional no campo da direita e de ex-bolsonaristas. O impeachment exigido e construído pelo povo inclui a defesa da educação, da saúde e segurança PÚBLICAS. Da soberania nacional, do crescimento econômico com distribuição de renda e dos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores (nenhum direito a menos).
Se a resposta prática a esse quadro redundar em novas eleições, só o tempo e nossa luta dirão. Mas é preciso fazer acontecer. Sem qualquer compromisso com o projeto de Bolsonaro, pelo contrário: Fora Bolsonaro, fora reformas neoliberais, fora privataria. Que a direção dessa etapa de mudança esteja nas mãos de quem é de direito numa democracia verdadeira: o povo, através das trabalhadoras e trabalhadores da cidade e do campo, da juventude, dos aposentados e explorados.
Por Rogério Correia, deputado federal (PT-MG)