Estávamos em março de 1964. Desde a posse do presidente João Goulart, em agosto de 1961, sob um parlamentarismo de ocasião que seria revogado meses depois por um plebiscito, o País vivia uma saudável ebulição política e cultural.
Estudantes, intelectuais, marinheiros, cabos e soldados, trabalhadores do campo e da cidade mobilizavam-se em defesa das “reformas de base”: agrária, universitária, bancária, política, educacional. Os sindicatos se unificavam em centrais, a sindicalização rural avançava, surgiam as Ligas Camponesas.
Com o apoio dos Estados Unidos, que financiava institutos de doutrinação e de apoio eleitoral a candidatos da direita, sob o pretexto de combater a “ameaça comunista” e a “república sindicalista”, um golpe era articulado entre o empresariado, a grande mídia, setores da Igreja Católica e no interior das Forças Armadas.
Com o apoio dos Estados Unidos, que financiava institutos de doutrinação e de apoio eleitoral a candidatos da direita, sob o pretexto de combater a “ameaça comunista” e a “república sindicalista”, um golpe era articulado entre o empresariado, a grande mídia, setores da Igreja Católica e no interior das Forças Armadas.
Em 13 de março, sob intensa pressão da esquerda, do movimento estudantil e dos sindicatos, o presidente Jango, no comício da Central do Brasil, apresenta um programa de ação que incluía desapropriação de terras para a reforma agrária e controle da remessa de lucros para o exterior, entre outras bandeiras populares.
Foi a senha e o pretexto para os golpistas precipitarem seu movimento. Entre 31 e 1º. de abril, tropas militares partindo de Minas Gerais iniciam a sublevação, que culminou com a deposição do presidente legítimo e a posse de um general em seu lugar.
O sempre ostentado dispositivo político-militar do presidente Jango, que setores da esquerda julgavam capaz de esmagar o golpe, nem chegou a ser acionado. Um esboço de resistência foi logo abafado, não só porque o presidente partira para o exílio no Uruguai, mas porque lideranças partidárias orientavam a “não aceitar provocações”…
O golpe de 31 de março/1º. de abril foi desfechado em nome do combate à corrupção – e nunca se viu tanta roubalheira naquele período. Dizia-se também em defesa da democracia– e daí resultou uma ditadura sanguinária, que durou mais de 20 anos.
Os políticos que apoiaram o golpe foram sucessivamente cassados, um a um, desfazendo as ilusões de que, encerrada a intentona, as eleições de 1965, afinal canceladas, poderiam eleger um deles presidente.
Um golpe está de novo em andamento. Motiva-o, mais uma vez, a ascensão das lutas populares, a conquista de direitos e a disposição dos movimentos sociais organizados e dos democratas de não admitirem nenhum retrocesso. É fácil identificar os golpistas: nos partidos conservadores, na alta burocracia dos poderes do Estado, nos empresários do grande capital e seus funcionários nas entidades de classe. A mídia monopolizada é seu partido e porta-voz.
Desta vez, os militares cumprem rigorosamente seu papel constitucional, avessos no momento ao chamamento das vivandeiras saudosas da ditadura.
Um estado de exceção, lentamente gestado no interior do Estado de Direito, ameaça não só a democracia, mas os direitos sociais, políticos, culturais e econômicos. É preciso combatê-lo frontalmente, para que não legitime um processo de impeachment sem qualquer lastro legal ou constitucional.
No dia 31 próximo vamos novamente às ruas para defender a democracia, o mandato da presidenta Dilma e mudanças na política econômica. É hora, também, de dialogar com os parlamentares, num processo de convencimento para que não votem contra o Brasil. Só a mobilização nas ruas, nos locais de trabalho, nas escolas, no campo e a vigilância permanente dos democratas podem barrar o golpe.
Rui Falcão é presidente nacional do PT