A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) refutou em nota a ação do Ministério Público Federal, que deu 10 dias para o governo paulista iniciar um racionamento de água na Grande São Paulo.
Para a empresa, a medida seria “drástica”, mas para o MPF a recomendação visa evitar um colapso total no sistema de abastecimento hídrico das regiões que dependem do Sistema Cantareira.
O coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental (FNSA), Edson Aparecido da Silva, lembra que em 2004, em outro cenário de crise hídrica menos crítico do que o atual, a Sabesp já se preparava para adotar rodízio. “Observando os registros históricos, quando o Cantareira estava com apenas 20% de seu volume útil, há 10 anos, só não decretaram rodízio porque as chuvas conseguiram reverter o quadro. Contudo, 2004 não era ano de eleição. O governo estadual tem receio de manchar a candidatura adotando a medida”, avalia o coordenador.
Edson acredita ainda que a concessionária tem medo de realizar a operação, pois ao se fechar os registros há a possibilidade de contaminação da água. “Os registros são muito antigos, o que pode ocasionar problemas de rompimento e estouro de tubulações. Existe algo chamado pressão negativa, que, ao reativar o sistema, pode misturar a água da tubulação com resíduos de esgotos localizados do lado de fora”, explica.
MPF – A recomendação pelo racionamento faz parte do inquérito civil que apura a crise hídrica em São Paulo e se respalda no estudo desenvolvido pela Universidade de Campinas (Unicamp), que indica que o volume do Cantareira poderá estar completamente seco em menos de 100 dias.
A procuradora Suzana Fairbanks Schnitzlein leva em consideração ainda a incerteza da qualidade da água do volume morto para consumo humano e os riscos ambientais que podem decorrer do uso da reserva técnica.
Para a concessionária, o racionamento é desnecessário. “A empresa informa que descarta uma medida tão drástica. A companhia reitera que o racionamento prejudicaria grande parcela da população, sobretudo aquela mais carente”, afirma em nota a Sabesp.
Mas o racionamento pode estar sendo feito sem ser assumido pelo governo estadual: são tantas as denúncias de corte de fornecimento de água, principalmente entre 0h e 5h, que a Agência Estadual de Saneamento Básico (Arsesp) investiga o rodízio clandestino.
Racionamento – Para justificar a não-oficialização de racionamento, a Sabesp diz estar tomando medidas que garantem o abastecimento de água até março de 2015. Entre elas, a companhia elenca a transferência de vazões do sistema Alto Tietê – que vem sofrendo com a superexploração desde o início do ano e já opera abaixo dos 22% de sua capacidade total.
Naquele manancial também há a utilização por bombeamento do volume morto das represas Jaguari/Jacareí, obra iniciada em maio deste ano que já retirou mais de 98 bilhões de litros de água disponíveis do Sistema Cantareira.
Na manhã desta terça-feira (29), o Cantareira operava com apenas 15,7% da sua capacidade total. No dia 6 de agosto, finda o prazo para Sabesp e o governo estadual apresentarem as providências. Caso não cumpram ou se omitam sobre os termos da recomendação no prazo estipulado, ambos ficam sujeitos à adoção das medidas judiciais e extrajudiciais que o Ministério Público Federal entenda necessárias.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias