A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informa que recebeu autorização dos órgãos gestores, para começar a captação da segunda cota do volume morto do Cantareira. No requerimento enviado em julho, a concessionária solicitava a utilização de mais 116 bilhões de litros de água.
A Sabesp não informa quando as obras serão iniciadas nem se a vazão de retirada será reduzida, devido ao uso da nova reserva. Para especialista, a medida compromete o reabastecimento dos mananciais, coloca o Cantareira em risco de desabastecimento completo e pode comprometer a qualidade de água.
Com a autorização da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento Estadual de Água e Energia Elétrica (DAEE), a Sabesp ganha uma “folga” de 11,75% de volume de água. Vale lembrar que em meados de maio, com a primeira cota do volume morto, foram acrescidos 18,5% sobre o volume total do sistema, de 982,07 bilhões de litros. Desde julho, a Sabesp está operando no negativo. Segundo o chefe do departamento de recursos hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, a utilização da segunda cota dificulta ainda mais a recuperação dos reservatórios, no período de chuva.
“Este ano começamos com apenas 27% de volume armazenado, agora estamos no negativo e a previsão sobre o período de chuva é pessimista. Imagina então iniciar 2015 com o nível negativo? O que nos espera para o ano que vem?”, questiona.
Zuffo explica que a recuperação dos reservatórios depende inicialmente do preenchimento do volume morto e que se chover abaixo da média não vai haver água sequer para reabastecer a reserva técnica. Além disso, o especialista avalia que o cenário aumenta o risco do Cantareira de desabastecimento completo, o que traria consequências muito mais graves.
“A cada dia que passa, estamos perto dessa situação crítica. Se isso acontecer, você tem problemas sanitários, visto que 85% das doenças tem processo de veiculação hídrica; a economia fica afetada porque você tem diminuição da produção industrial e, com isso, desemprego. O que acarreta problemas sociais e o aumento da violência. Resumindo: as consequências são bastante graves”, diz.
As assessorias da ANA e do DAEE confirmaram que foi dada autorização para as obras. A Sabesp apenas se limitou em confirmar a autorização, sem dar detalhes sobre o início das obras.
Qualidade – Zuffo explica ainda que caso a Sabesp use o processo de dragagem nessa segunda cota, a qualidade da água fica comprometida. Isso acontece porque a maior parte da reserva fica entre o barramento e a captação de água localizada quase no montante do reservatório, junto à cabeceira. Para que água chegue ao armazenamento, é necessário dragar o leito do reservatório e isso pode retirar poluentes acumulados no lodo. “Isso aumenta o risco de contaminação da água”, explica.
A estimativa do especialista é que o racionamento só seja oficializado em 6 de outubro, período pós-eleitoral. Por isso, a população deveria se conscientizar mais em relação ao problema para tentar economizar água. “A população tem que economizar, pois não existe mais ferramenta de engenharia para resolver o problema”, conclui. Nesta quarta-feira (13) o nível do Cantareira chegou a 13,4%.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias