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Secretário-geral da ONU denuncia “limpeza étnica” em curso na Faixa de Gaza

António Guterres afirmou ao The Guardian, na quarta (30), que o genocídio só não foi concluído pelo governo de Israel por conta da resistência árabe; comissão da ONU que apura crimes em Gaza lamentou as mortes de 13 mil crianças palestinas desde o início do conflito

AFP

Guterres: "Eu rendo homenagem à coragem e à resiliência do povo palestino e à determinação do mundo árabe para evitar que a limpeza étnica se torne uma realidade"

Declarado persona non grata pelo governo israelense, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, voltou a condenar a brutalidade das Forças de Defesa de Israel (IDF, sigla em inglês) contra a Faixa de Gaza. Guterres disse ao jornal britânico The Guardian, nesta quarta-feira (30), que o governo de Benjamin Netanyahu se encaminha para concluir uma “limpeza étnica” no enclave palestino, caso a comunidade internacional não se mobilize para impedir.

O secretário-geral da ONU argumentou ainda que o genocídio foi contido, até o momento, pela resiliência e determinação da população árabe acossada pelas IDF. “A intenção pode ser a de que os palestinos deixem Gaza, para que outros a ocupem”, apontou. “Mas houve, e eu rendo homenagem à coragem e à resiliência do povo palestino e à determinação do mundo árabe, [um esforço] para evitar que a limpeza étnica se torne uma realidade.”

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Os apelos de Guterres sucedem os ataques violentos de Israel, na terça (29), contra o distrito de Beit Lahiya, no norte da Faixa de Gaza, matando, ao menos, 93 civis que se abrigavam em um prédio residencial. Entre os mortos, havia 20 crianças, informou o Hospital Kamal Adwan, para onde muitos dos feridos foram levados às pressas. Outras dezenas de pessoas continuam desaparecidas e 150 ficaram feridas.

“Casa após casa, bairro após bairro, família após família”. Assim descreveu o cenário de devastação em Beit Lahiya a repórter Hind Khoudary, da emissora Al-Jazeera. “Nós estamos falando de, ao menos, 100 mil palestinos sem comida, água, remédios, e nem a ajuda humanitária está entrando naquela área”, explicou.

As declarações do secretário-geral da ONU a respeito do genocídio palestino foram feitas na Colômbia, à margem da conferência de biodiversidade COP16, e somam-se às de outros políticos e acadêmicos que vêm censurando as condutas criminosas de Israel no Oriente Médio desde a deflagração do conflito contra o grupo armado xiita Hamas, em outubro de 2023.

Em fevereiro, o presidente Lula chegou a comparar o que ocorre na Faixa de Gaza ao holocausto – o genocídio em massa de judeus durante a Segunda Guerra Mundial – e enfureceu a imprensa burguesa e o governo israelense, que decidiu humilhar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer. Assim como Guterres, Lula também foi considerado persona non grata pelos sionistas.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou, em conversa com a imprensa, à época.

Genocídio árabe

Depois de um ano de guerra entre a administração impopular de Netanyahu e os militantes do Hamas, mais de 43 mil vidas palestinas já foram ceifadas, incluindo mulheres e crianças. A espiral de violência se alastrou pela região e atingiu o Líbano, de onde opera outra facção xiita contra Israel, o Hezbollah.

Na quarta-feira (30), a Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre o Território Palestino Ocupado condenou o número de crianças palestinas mortas pelas IDF nesse período: mais de 13 mil. A entidade teme a proliferação de novos radicais islâmicos nos territórios ocupados por Israel. “Crianças não são terroristas”, enfatizou Chris Sidoti, que apura os crimes cometidos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Outro membro da comissão, Navi Pillay pediu aos governantes de todos os países-membros que alterem a abordagem em relação ao conflito na região: “Você tem que distinguir entre eles. Então, você sabe, um é ocupante e o outro é ocupado”.

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Da Redação, com ONU, Al-Jazeera, The Guardian