O descaso com que setores da oposição e a mídia conservadora vêm tratando o atentado a bomba contra a sede do Instituto Lula, na noite da última quinta-feira (30), fere a democracia tão arduamente reconquistada pelos brasileiros.
“Lamentavelmente, esse episódio gravíssimo ainda não ganhou a dimensão adequada. Essa ação criminosa precisa ter a reprovação de todos”, afirmou o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), em pronunciamento ao plenário, nesta segunda-feira (30).
O senador lembrou o papel do Instituto Lula, criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há 25 anos, “uma das maiores e melhores referências mundiais em estudos e projetos de combate à fome e a pobreza”. Viana criticou o papel da imprensa conservadora, que vem tentando minimizar o episódio, tratando o atentado como a “explosão de uma bomba caseira”, como se fosse algo inofensivo e ignorando o conteúdo simbólico do ataque.
O senador citou o artigo do jornalista Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, lembrando que “bombas são assim domesticamente inofensivas, ‘caseiras’, até que matam uma dona Lida [como ocorreu nos anos 80], uma criança na calçada, ou moradores de rua, que para eles o azar não tem fim. Bombas não costumam ser solitárias. É bem possível que a bomba de agora seja vista, depois, como um ponto inicial. Nem sugiro de quê”.
“Fico muito sentido de ver um país tão bonito como o nosso, que tem um povo fantástico como é o povo brasileiro, com várias caras, uma miscigenação, um endereço do mundo, que é o nosso País, vivendo agora esse ambiente de absoluta intolerância de todo tipo”, lamentou o senador. O que ocorreu, alertou Viana, não foi um ataque ao ex-presidente Lula, “foi um ataque a uma organização legal, legítima, que presta um grande serviço ao País. É um ataque à democracia, à liberdade; é um ataque ao nosso País, que não pode, não aceita e nunca conviveu com esse tipo de prática”.
Solidariedade a Lula – O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), também em pronunciamento ao plenário, manifestou sua solidariedade ao ex-presidente Lula. “Quero aqui traduzir o meu sentimento, que aprendi em casa, aprendi com meu pai: é nos momentos de dificuldade que devemos manifestar nossa solidariedade”. Coelho destacou seu respeito por Lula, “retirante, nordestino, pernambucano. Saiu do Estado tangido pela seca para se firmar como a grande liderança política deste País. Governou o Brasil durante oito anos, e governou promovendo a maior inclusão social da história deste País”.
O senador pernambucano deu seu testemunho sobre a o esforço do ex-presidente para colocar Pernambuco no mapa do desenvolvimento. “Os investimentos, que não foram poucos, na infraestrutura econômica do Estado – refinaria, polo petroquímico, polo naval, polo automotivo. E uma revolução na área educacional. A presença da universidade federal, que saiu do litoral, que ganhou o interior, no agreste, no sertão. A presença de dezenas de escolas técnicas, que vieram para qualificar e dar oportunidade de vida aos jovens e aos adolescentes do meu Estado”.
Coelho cobrou a apuração rigorosa do atentado ao Instituto Lula, “que não pode dar apenas o formal e achar que essa bomba caseira foi um episódio menor, qualquer – não! Ela está dentro de uma escalada de radicalismo político”.
“Bomba é bomba” – Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), não há como minimizar o atentado. “Nas disputas militares há diferença bomba atômica e uma bomba caseira. Como gesto político, bomba é bomba, tem a mesma dimensão nefasta de sair dos meios democráticos, do diálogo, da discussão para o uso de um instrumento violento”, afirmou o pedetista, para quem o episódio “precisa ter o repúdio de todos”. Cristovam alerta que o que hoje atinge o Instituto Lula amanhã pode atingir “o Instituto FHC, o instituto X, Y, Z. Essa não é a maneira de manifestarmos contra quem quer que esteja na política, sobretudo em um período democrático”.
Do PT no Senado