O executivo Pedro Novis, que presidiu a Odebrecht de 2002 a 2008, afirmou à Polícia Federal que pagou R$ 52,4 milhões em propina ao senador José Serra (PSDB-SP), em dinheiro vivo e por meio de contas no exterior, conforme noticiou o jornal ‘Folha de S.Paulo’.
Por causa disso, como também informa o periódico, o político está sendo desaconselhado por colegas de partido a concorrer a qualquer cargo público nas eleições deste ano. Não estariam dispostos a ter sobre si os holofotes do combate à corrupção.
Afinal, o que o ex-comandante da Odebrecht levou às autoridades federais não foram apenas palavras e convicções.
Na delação de Novis, segundo explica o jornalista Kennedy Alencar, o maior complicador é um suposto pagamento de R$ 23,3 milhões a Serra em 2010, numa contrapartida à liberação de R$ 170 milhões em créditos devidos pelo governo paulista à Odebrecht. Novis fez essas revelações à Polícia Federal em junho, em depoimento num inquérito que tramita no Supremo, apresentando documentos da empreiteira.
Isso quer dizer que José Serra será julgado e condenado em tempo recorde, e julgado novamente em tempo recorde na segunda instância, sob a ameaça de tornar-se inelegível? Pouco provável.
Novamente, atente-se para o que informa Kennedy Alencar: “O senador (Serra) tem apostado na estratégia jurídica de contar com a idade superior a 70 anos para que os prazos de prescrição de eventuais crimes sejam contados pela metade. Serra tem 75 anos. Tucanos esperam que os inquéritos não tenham a mesma agilidade das investigações contra o ex-presidente Lula e se arrastem, apostando na prescrição para livrar o senador de eventuais condenações”.
Esta não é a primeira nem a segunda denúncia que recai sobre o tucano sem que nada aconteça. Também o seu caso está longe de ser isolado. Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo, foi pego em um grampo telefônico pedindo R$ 2 milhões a um empresário e dizendo que quem iria pegar a dinheirama em espécie precisava ser alguém de confiança e que ele pudesse matar antes que viesse a se tornar delator. Segue senador da República, decidindo se arrisca uma nova candidatura neste ano.
Romero Jucá (PMDB-RR), líder no Senado do governo ilegítimo de Michel Temer, é habitué de denúncias, grampos e páginas policiais. É autor de célebre frase sobre um grande acordo nacional, “com Supremo, com tudo”, para tirar a presidenta eleita Dilma Rousseff do cargo para o qual foi eleita, e assim “estancar a sangria” de denúncias e punições. Conseguiu. Está lá, liderando o governo Temer, com contas na Suíça, com tudo.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) está à frente do estado de São Paulo ao longo dos últimos anos, tempos em que empresas como Siemens e Alstom admitiram envolvimento em um esquema bilionário de fraude licitatória e desvio de verbas públicas em obras do Metrô, em conluio com agentes públicos. Alckmin está aí, incólume, arquitetando novos projetos eleitorais sem que ninguém o importune.
Para não citar o presidente golpista, Michel Temer (PMDB-SP), flagrado em grampos orientando pagamento de propina a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebendo na calada da noite empresários condenados pela Justiça, mantendo assessores que circulam e repassam malas cheias de dinheiro, para citar apenas os exemplos mais recentes.
O mesmo Pedro Novis que informou valores e passou documentos à Polícia Federal sobre a suposta propina recebida por Serra também já depôs na Justiça, em frente ao juiz de primeira instância do Paraná Sérgio Moro, no processo que corre contra Luiz Inácio Lula da Silva.
Não disse nada nem parecido com o que disse sobre José Serra. Não citou pagamentos em dinheiro, não falou em contas no exterior, muito menos mostrou qualquer documento. Também Marcelo Odebrecht, outro ex-presidente da empreiteira que leva seu sobrenome, depôs a Moro, à PF e ao Ministério Público. Nunca disse que depositou ou repassou dinheiro a Lula, nunca mostrou uma linha de prova ou documento nesse sentido.
Só mesmo quem acusou Lula foi o empresário Léo Pinheiro, o único entre 73 testemunhas a dizer que Lula seria o dono oculto do tal apartamento triplex do Guarujá. Não apresentou documento, gravação, foto ou qualquer tipo de prova para corroborar o que disse.
Aliás, em três depoimentos à Justiça, foi só no último que fez as acusações sem provas. Nos dois anteriores, falou o contrário, que o imóvel não era do Lula.
Depois que mudou a versão, assinou um acordo de delação premiada com os procuradores da equipe de Deltan Dallagnol (aquele do power point e das convicções) e deixou a cadeia.
Por Vinícius Segalla, da Redação da Agência PT de Notícias.