Partido dos Trabalhadores

Sete milhões de mulheres foram expulsas do mercado de trabalho

São dois milhões a mais que a quantidade de homens na mesma situação. Setor mais atingido da sociedade acumula trabalho reprodutivo, desigualdade salarial e falta de políticas públicas e proteção econômica por parte do governo.

Mathilde Missioneiro / FolhaPress

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pdac) revelou que, desde a segunda quinzena de março, cerca de sete milhões de trabalhadoras foram empurradas para fora do mercado do trabalho. São dois milhões a mais de mulheres que a quantidade de homens na mesma situação. 

É a primeira vez, nos últimos três anos, que a maioria das mulheres está fora da força de trabalho (trabalhando ou procurando emprego), segundo os cálculos do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) . Uma realidade que empurra as trabalhadoras para dentro de casa, perdendo sua autonomia financeira, o poder de escolha e, no caso de arrimos, deixando famílias inteiras à beira da pobreza e da miséria. 

Os dados demonstram que a crise não atinge a homens e mulheres de forma igual. As mulheres sofrem as consequências mais rapidamente e as portas das alternativas são menores. Aos homens, por exemplo, há mais oportunidades para o teletrabalho. Como as mulheres estão em ocupações mais precárias, que necessitam de contato, além de gastarem mais tempo com os cuidados da casa e das crianças, que estão fora da escola, elas são demitidas. 

“Além de enfrentar a demissão, as mulheres encontram ainda mais dificuldades para procurar uma vaga e manter no mercado — principalmente quando o governo força a flexibilização irresponsável da quarentena sem dar alternativas às mães com quem deixarem seus filhos e expondo toda a população ao risco, sem proteção sanitária, social ou econômica”, denuncia Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT. 

Segundo a PNAD Covid-19, em maio, 17,7 milhões de trabalhadores não conseguiram procurar trabalho por causa da pandemia. No trimestre inteiro, que inclui dados de janeiro e fevereiro, o número de mulheres que perderam o trabalho foi 25% maior que o de homens.

 

O tombo de abril

O pesquisador do Ipea, Marcos Hecksher, cruzou os dados e revelou outra situação alarmante: É a primeira vez em que menos da metade da população em idade de trabalhar está ocupada: 48,8% na segunda quinzena de março e 48,5% no mês de abril. Um ineditismo trágico para o Brasil registrado pelo pelo IBGE e pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério da Economia, que mede o emprego com carteira assinada). 

De acordo com o pesquisador, A taxa de desemprego, a mais observada em situações normais, não consegue retratar com precisão a dimensão da destruição de vagas. A taxa passou de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro para 12,5% em abril.